CARTAS DOS LEITORES
Barreiras comerciais
Sou maliano residente há mais de 20 anos aqui em Angola, onde me encontro como se estivesse no próprio país. Já vejo Luanda como a segunda Bamakó, aqui contribuo para desenvolver Angola. Como africano, fico contente quando noto que os líderes africanos falam na necessidade de unidade. No ano passado, as lideranças africanas chegaram a acordo para a eliminação das barreiras comerciais no continente para dar lugar à Zona de Livre Comércio. Tratase de uma realidade que numerosos países africanos e os povos de África muito esperam para, entre muitos fins, "revolucionar" as trocas comerciais. O comércio é o futuro e acredito que a materialização da Agenda 2063, que a União Africana pretende implementar, passa necessária e invariavelmente pela promoção do comércio. As várias regiões do continente precisam de ver as fronteiras herdadas da colonização abertas para que os povos possam realizar o seu comércio. Acho que muitas das oportunidades de negócios para o angolano que se encontra no Luena, na província do Moxico, podem estar na Western Province da Zâmbia, da mesma maneira como as possibilidades de negócios de quem está no Kasai, na República Democrática do Congo (RDC) podem estar nas Lundas, dentro de Angola.
A implementação da Zona de Livre Comércio em África vai contribuir para aumentar a mobilidade. É verdade que muitos países temem que essa realidade pode também contribuir para aumentar os males ligados aos crimes transnacionais, nomeadamente a imigração ilegal, o tráfico de seres humanos, de espécie de animais proibidos, drogas, armas, etc.. Essas preocupações são relevantes, mas não podemos deixar que estes receios impeçam a materialização dos sonhos dos pais fundadores da unidade africana. Nkwame Nkrumah, Senghor, Agostinho Neto, Sekou Touré, Azikiwe e tantos outros que “sonharam” com a unidade africana devem estar contentes nas tumbas em que se encontram pelo facto das actuais lideranças imprimirem uma dinâmica importante na liberalização da circulação de pessoas e bens no continente. Espero receber o meu passaporte africano para puder sair de Luanda para Bamakó como se estivesse a sair do Bairro da Madeira, aqui no Sambizanga, para o Rangel. Somos africanos e podemos fazer
ESCREVA-NOS Cartas recebidas na Rua Rainha Ginga, 12-26 Caixa Postal 1312 - Luanda ou por e-mail: mais por este belo continente.
Situação do Sael
Escrevo pela primeira vez para o Jornal de Angola para falar sobre as iniciativas para a pacificação do Sael. Há dias, o Presidente da França, Emmanuel Macron, tinha promovido um encontro com os seus homólogos do Mali, Côte d´Ivoire, Níger e Burquina Faso para encontrar as melhores soluções para os desafios de segurança naquela região. Países como o Mali, o Burquina Faso, apenas para mencionar estes, fundamentalmente estes, os mais afectados pelo terrorismo, merecem uma estratégia concertada para fazer face a tais desafios. A França pode desempenhar o papel que se espera, atendendo ao facto de ser a ex-potência colonial, aos laços e conhecimento da região. A região do Sael é uma espécie de Médio Oriente de África, atendendo aos níveis de insegurança naquela parte do continente que se estende desde o Atlântico até ao Mar Vermelho. Espero que as lideranças africanas, de países que enfrentam os problemas do radicalismo islâmico, sejam bem sucedidas na luta contra o extremismo islâmico.