Jornal de Angola

Sissoco embalou para a presidênci­a

Apesar de todas as contestaçõ­es, Umaro Sissoco Embaló acabou por tomar ontem posse simbólica como novo Presidente da Guiné-Bissau, levando o Primeiro-Ministro a falar em golpe “inspirado” por José Mário Vaz, antigo Chefe de Estado

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O Hotel Dunia Azalai-24 de Setembro, antiga messe de oficiais nos anos da colonizaçã­o portuguesa, localizado no bairro de Santa Luzia, foi o cenário ontem escolhido para a tomada de posse simbólica de Umaro Sissoco Embaló como “novo Presidente” da Guiné-Bissau.

Segundo o jornal português “Expresso”, o local mais parecia um campo fortificad­o. Desde a madrugada, vários homens fardados e com pistolas-metralhado­ras ocuparam as proximidad­es, incluindo o cruzamento da estrada que conduz ao centro de Bissau, a cerca de cinco quilómetro­s. Este local transformo­u-se no centro de gravidade da vida política guineense, em virtude da anunciada investidur­a do candidato presidenci­al apoiado pelo Madem G-15, Umaro Sissoco Embaló, cerimónia equivalent­e a “tentativa de golpe de Estado”, segundo disse na véspera o Primeiro-Ministro guineense, Aristides Gomes, que acusou, ainda, o ex-Presidente José Mário Vaz de ter mobilizado a guarda presidenci­al para garantir a segurança do local.

Sissoco Embaló, cuja vitória nas eleições presidenci­ais de 29 de Dezembro ainda é objecto de contestaçã­o judicial por parte do seu adversário, Domingos Simões Pereira, organizou a própria investidur­a, sem esperar pela decisão do Supremo Tribunal, nem pela tradiciona­l sessão solene especial de empossamen­to no Parlamento. Na quarta-feira, Aristides Gomes considerou que uma eventual tomada de posse de Umaro Sissoco Embaló como Chefe de Estado, sem o pronunciam­ento do Supremo Tribunal de Justiça, era um golpe de Estado. Segundo a Lusa, Aristides Gomes falava à saída de uma reunião do Conselho de Segurança e Defesa da Guiné-Bissau, em que participar­am alguns membros do Governo guineense e as chefias militares.

De acordo com Aristides Gomes, ficou assente, na reunião, que caso se concretiza­sse a anunciada posse de Umaro Sissoco Embaló seria um acto inconstitu­cional.

“Uma tomada de posse, foi o consenso aqui chegado, sem o pronunciam­ento do Supremo Tribunal seria o corte com a ordem republican­a existente. Quer dizer, uma tentativa de golpe de Estado”, defendeu o PrimeiroMi­nistro guineense.

Para Aristides Gomes, enquanto não houver uma posição definitiva do Supremo quanto ao contencios­o eleitoral, os órgãos do Estado devem aguardar. “A partir do momento em que se vai contra a ordem, é tentar subverter a ordem constituci­onal. Quem garante a ordem constituci­onal no nosso país é o Supremo Tribunal de Justiça”, sublinhou o Primeiro-Ministro.

O Primeiro-Ministro observou, igualmente, que a reunião concluiu ser possível, que em situações do género, possa haver tentações, ao ponto de alguns sectores encarregad­os de garantirem segurança no país agirem à margem da lei.

Aristides Gomes lembrou que foi no mesmo quadro de actuação, à margem da lei, que algumas entidades do Estado guineense se insurgiram contra a ordem republican­a, o que acabou por provocar um conflito político-militar que durou 11 meses. Gomes disse que tem sido papel do Governo trabalhar de forma preventiva para que algo do género não se venha a repetir-se na Guiné-Bissau.

Desacordo no Parlamento

O presidente da Assembleia Nacional Popular, Cipriano Cassamá, acusou, na quartafeir­a, o vice-presidente do Parlamento, Nuno Nabiam, de crime de “usurpação de competênci­as”, punível na lei penal do país. Num comunicado, enviado à Lusa, Cipriano Cassamá recordou que está no país “em uso das suas faculdades mentais e em pleno exercício das funções” e que já tinha dito a Nuno Nabian de que este não tinha “competênci­as de conferir posse ao Presidente da República e muito menos dirigir as reuniões dos órgãos internos da assembleia com o presidente no país”.

O presidente do Parlamento guineense salientou também que não existe no ordenament­o jurídico da Guiné-Bissau qualquer norma que dê a um Presidente eleito ou a um candidato os poderes para marcar em conjunto com o presidente da Assembleia Nacional Popular a data de tomada de posse.

Segundo o regimento do Parlamento guineense, o presidente da ANP tem a competênci­a exclusiva de convocar uma sessão especial para indigitar o novo Presidente 45 dias depois de divulgados os resultados definitivo­s. O presidente do Parlamento sublinhou, também, que, havendo um recurso de contencios­o eleitoral, fica “demonstrad­o, de forma inequívoca, a inexistênc­ia de um candidato eleito nas eleições de 29 de Dezembro”.

Cipriano Cassamá referiu que mantém a sua posição de esperar pela decisão do Supremo Tribunal de Justiça, sobre o recurso de contencios­o eleitoral apresentad­o pelo candidato Domingos Simões Pereira, antes de iniciar o processo para a investidur­a do novo Presidente.

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DR Sissoco organizou a própria investidur­a sem esperar pela decisão sobre o contencios­o eleitoral

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