O caminho de regresso a casa foi duro e exigiu paciência
O que seria uma viagem de três dias ao Lubango, província da Huíla, transformou-se, literalmente, numa eternidade. Tudo porque o idoso Zé Andrade, como é carinhosamente tratado pelo seus, ficou confinado longe de casa durante os primeiros 15 dias do Estado de Emergência.
Para agravar a situação do idoso, de 73 anos, o dinheiro para suportar as despesas de alojamento numa pensão acabou. Sem familiares no Lubango, optou por “viver” no terminal de autocarros da Macon, no bairro do Tchioco.
Com o rosto cansado e ansioso, Zé Andrade conta que passou os últimos dez dias do Estado de Emergência nos bancos do terminal. O ar de exaustão, pelas dificuldades vividas, desaparece depois de conseguir o bilhete para embarcar rumo a Luanda.
“Vivo em Luanda. Quando o Estado de Emergência foi decretado já estava no Lubango. Vim para três dias, mas acabei por ficar este tempo todo”, conta, agora com um sorriso discreto, enquanto ajeita a pasta preta com os seus pertences.
Homem tranquilo, eloquente e extrovertido, Zé Andrade era um dos muitos passageiros que aproveitou a oportunidade excepcional dada pelo Executivo para os cidadãos regressarem a casa.
Depois de aguardar por algumas horas, Zé Andrade seguiu viagem ao encontro da família.
A experiência de vida e a capacidade de gerir recursos, em tempo de crise, ajudaram a sobreviver, durante a confinamento obrigatório fora de casa. “Fiquei por aqui, sem um lugar definitivo. Nos primeiros dias fiquei na pensão. Mas depois o dinheiro acabou. Por falta de verbas, fui me virando aqui nas cadeiras do terminal da Macon. Não tive outra alternativa”, lembou, garantindo que estava bem, apenas com saudades da família.
“Tenho conversado, pelo telefone, com os meus familiares. Sabem da situação e que estou bem. Eles também estão bem, porque o coronavírus não passou lá (risos). Neste momento aguardam ansiosamente pelo meu regresso”, disse sorridente, enquanto se ajeitava numa cadeira plástica azul, cedida pela direção do terminal da transportadora.
Zé Andrade disse ter sido uma “decisão excelente” o levantamento das restrições para o regresso das pessoas a casa, porque vai permitir estar ao lado da família neste momento difícil.
“Mas depois o dinheiro acabou. Por falta de verbas, fui me virando aqui nas cadeiras do terminal da Macon”