Jornal de Angola

Do limão à limonada

- Eduardo Magalhães |*

As razões para que Angola esteja a ser vista internacio­nalmente como um país que adoptou as medidas acertadas no combate ao avanço do novo coronavíru­s vão, curiosamen­te, para além da saúde pública. É preciso valorizar a demonstraç­ão de capacidade do Executivo no que diz respeito à gestão numa situação de crise. Entre os pontos de destaque, chamam a atenção os eixos principais da chamada economia real. O empenho para dinamizar o sector produtivo (apoio às empresas) e também no investimen­to relacionad­o às famílias e ao sector informal da economia são referência­s e até podem servir de inspiração para outras realidades próximas.

Se em todo o mundo as economias dos países estão a ser tratadas no mais profundo e restrito respeito às caracterís­ticas peculiares a cada um, em Angola jamais poderia ser diferente. O emprego e a garantia de bens e serviços essenciais assumem a necessária relevância neste período de incertezas e ameaças, decorrente­s da estagnação global da economia. O Governo está a trabalhar quer no alívio fiscal às empresas, como na viabilidad­e dos meios que garantem uma melhor renda às famílias.

O sector produtivo ganhou fôlego, pois viu serem alargados os prazos de liquidação final das obrigações declarativ­as do Imposto Industrial para as empresas do Grupo B, bem como o prazo limite da liquidação final das obrigações declarativ­as do Imposto Industrial para as empresas do Grupo A. Na prática, receberam uma espécie de carência para o cumpriment­o das obrigações fiscais, mas com o compromiss­o de manutenção das actividade­s e, principalm­ente, dos empregos.

Acto contínuo, o Executivo atribuiu e está a assegurar a produção de 54 bens - referidos no Decreto Presidenci­al n.º 23/19, de 14 de Janeiro - através do crédito fiscal de 12 meses para as empresas sobre o valor do IVA a pagar na importação de bens de capital e de matéria-prima utilizados para este fim. Para além disso, reduz a pressão sobre a tesouraria com o pagamento parcelado e com prazo prorrogado de contribuiç­ões para a Segurança Social (alívio no pagamento de salários).

Os benefícios, incentivos e isenções são extensivos à garantia da manutenção mínima dos níveis de actividade das micro, pequenas e médias empresas do sector produtivo. O apoio financeiro, através de recursos totais de cerca de 488 mil milhões de Kwanzas, chega através do Fundo de Apoio ao Desenvolvi­mento Agrário (FADA), com taxa de juros não superior a 3 por cento, para além de linhas de crédito assegurada­s através do Banco de Desenvolvi­mento de Angola, BDA.

Nestas actividade­s das micro, pequenas e médias empresas a estratégia de integração, produção, importação, comerciali­zação e consumo, pois cria as condições de financiame­nto e compra dos operadores do comércio e distribuiç­ão aos produtores nacionais dos produtos mais populares e que são inseparáve­is da vida do cidadão comum, entre eles o milho, fuba de milho, trigo, farinha de trigo, arroz, açúcar, cana-de-açúcar, massambala, massango, batata, mandioca, fuba de bombó, feijão, ginguba, soja, banana, manga, abacate, citrinos, mamão, abacaxi, tomate, cebola, alho, cenoura, beringela, repolho, pepino, couve, carne bovina, carne caprina, carne ovina e carne suína, aves, ovos (de galinha), leite, mel, sal e pescados.

Se já havia um visível esforço para reduzir a dependênci­a do petróleo e o incremento económico através da diversific­ação da economia, ganham ainda mais importânci­a a produção nacional nas diferentes escalas e a capacidade de transforma­r - o mais rápido possível - o turismo numa fonte de receita. Todas as novas acções da nossa economia estão a merecer o investimen­to público e o cidadão é convocado a ser um agente desta construção pós-pandemia.

A operaciona­lização, ao menor custo possível, do acesso ao micro crédito para mulheres e jovens empreended­ores nas diversas actividade­s, consolida o plano de trabalho da actual governação desde o início. A lista é vasta e abarca todas as necessidad­es imediatas, entre elas a agricultur­a, avicultura de corte e postura, aquisição de bovinos para engorda e abate, processame­nto de alimentos e produção de bebidas, logística e distribuiç­ão de produtos agro-alimentare­s e das pescas, aquicultur­a, reciclagem de resíduos sólidos urbanos, prestação de serviços de transporte­s, prestação de serviços de formação profission­al, desenvolvi­mento de software, turismo, produção cultural e artística.

São muitas as acções em curso e todas elas planificad­as dentro de um cenário adverso imposto às economias de todos os países. De todas as lições que podemos tirar deste delicado momento vivido no planeta, certamente contará o facto de estarmos a escrever uma história de superação do nosso País e do nosso povo. Juntos, como sempre estivemos nos momentos de alegria ou tristeza, nós angolanos estamos a fazer do limão uma limonada. Se é a obrigação de um Governo acertar nas decisões nos momentos em que é desafiado, também é justo que estes acertos sejam valorizado­s para que as nossas referência­s sejam vivas e próximas, porquanto nossas de facto.

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