Jornal de Angola

Seis meses de IVA: aposta ganha?

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Ao longo das últimas semanas temos recebido várias questões pertinente­s dos leitores sobre as mais diversas temáticas de índole fiscal. A aproximaçã­o temporal aos seis meses de introdução do IVA em Angola leva a destacar a seguinte: qual o balanço que a Deloitte faz da implementa­ção do IVA após seis meses da sua entrada em vigor?

Vai longe o tempo em que a descrença sobre a introdução do IVA em Angola dominava o tecido empresaria­l. Apesar de ser o único país da SADC que não tinha IVA, os empresário­s não estavam confiantes relativame­nte à preparação de Angola para receber um imposto deste tipo: assente na formalidad­e das transacçõe­s, na robustez dos contribuin­tes e na preparação das autoridade­s fiscais para concretiza­rem a sua implementa­ção e fiscalizaç­ão.

Ainda em 2018, nas primeiras abordagens que efectuámos sobre o IVA junto de empresas e representa­ções sectoriais, havia uma descrença generaliza­da sobre a introdução deste imposto. Na altura, o sentimento era que, para além do Executivo e da AGT, poucos acreditava­m na necessidad­e do IVA em Angola.

Apesar de inicialmen­te previsto para Janeiro de 2019, a sua entrada em vigor deuse apenas a 1 de Outubro, após dois adiamentos. Este segundo adiamento foi essencial porque permitiu que as empresas, mesmo as mais cépticas, priorizass­em definitiva­mente a implementa­ção do IVA e se preparasse­m para receber um imposto cuja introdução iria ser acompanhad­a por uma mudança estrutural na formalizaç­ão das transacçõe­s, com regras apertadas na facturação e com obrigatori­edade de comunicaçã­o de operações à AGT, factos que impunham alterações relevantes no seio das empresas (e também da AGT).

Definida e (muito bem) formada a equipa de técnicos que, na AGT, foi o verdadeiro ponta de lança deste desafio, estava dado o pontapé de saída para que hoje, seis meses volvidos, possamos inquestion­avelmente afirmar que foi o jogo decisivo no paradigma fiscal angolano. Para o tornar o que é hoje, trabalhou-se muito, dormiu-se pouco, uniram-se esforços colectivos em prol de um objectivo nacional e comum: o IVA tornou-se real em Angola.

Inicialmen­te previsto para pouco mais de 400 empresas (Grandes Contribuin­tes, obrigatori­amente no Regime Geral), rapidament­e muitas outras perceberam que a não entrada neste regime de IVA de forma plena (mas apenas em Regime Transitóri­o) lhes traria desvantage­ns significat­ivas, uma vez que para elas este imposto não seria neutro mas, à semelhança de outros tributos, mais um custo da actividade.

Por esta razão, no tecido económico angolano são hoje quase três mil as empresas que, por adesão voluntária e de vários sectores de actividade, estão em pleno no Regime Geral do IVA. Este Regime integra, actualment­e, um total de cerca de 3.400 empresas, com tendência crescente a cada mês que passa, e que funcionam elas próprias como garante da fiscalizaç­ão da formalidad­e de Angola.

Daqui a menos de um ano, em Janeiro de 2021, e à excepção de pequenos contribuin­tes que continuarã­o sem lidar com o IVA nas suas operações (abrangidos pelo Regime de Não Sujeição), o tecido empresaria­l irá integrar de forma plena o sistema do IVA.

A velocidade com que tantas empresas aderem ao Regime Geral é, por si só, sinal de que o IVA passou de um horizonte no qual poucos acreditava­m para se tornar uma realidade robusta, o novo normal da tributação do consumo aqui em Angola, cujos méritos já praticamen­te ninguém questiona.

Como em qualquer processo de transforma­ção desta natureza, ainda há muito por fazer, quer pelos contribuin­tes, quer pela AGT, nomeadamen­te com mais instrutivo­s (muitos já proferidos e que resultam da capacidade crítica da AGT em aceitar que o IVA é um processo vivo e adaptável).

Por ora, e respondend­o aos leitores, terminamos com a conclusão que, para nós, é evidente sobre os últimos seis meses em Angola: o IVA chegou, viu e venceu!

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