Jornal de Angola

A Janela Indiscreta da Quarentena... (I)

- Tazuary Nkeita

Hoje há tanta notícia boa e a euforia em contar é tão grande que ainda não sei que caminho a seguir nem por onde começar...

A primeira novidade é que o “Canalha” respondeu! Ele apareceume Domingo de manhã, arrogante, agressivo, furioso com toda a gente e, atenção, com respostas sólidas, bem argumentad­as e inteligent­es. Sim, foi no Domingo de Páscoa...!

“Tudo Isto Aconteceu”, como também nos ensinou a contar mestre Óscar Ribas, o cego que abriu os olhos a muitos não-cegos! E conto tudo a soletrar, para afastar equívocos, sem retirar nem acrescenta­r nenhuma “L-E-T-R-A”:

- Nhum!, nhum, nhum...! –, subitament­e, senti três impulsos na garganta e, nos olhos, comichões de leitura. Entendi que era uma “Carta Aberta”, com um veneno mortal para eu ler e entender o que bem quisesse. E, por analogia a uma mistura de factos já passados e actuais, também descodifiq­uei que se tratava de um “contacto” do coronavíru­s: brutal, doentio e altamente contagioso!

Atordoado com o ataque de tosse, sem outros sintomas por enquanto, mas que podia evoluir de forma grave e associar-se a outras complicaçõ­es, a qualquer momento, li mentalment­e o que me pareceu ser o seguinte:

“Caro Senhor:

Li a sua carta à luz do princípio de que quando um ignorante escreve, a minha estirpe cala-se de espanto e não morre de contágio!!!

- Canalha!, obrigado por me chamar ignorante mas nós dizemos ‘Quando um burro fala o outro baixa as orelhas, aprenda!!!’, - respondi com os olhos abertos, como ensinou o mestre Óscar Ribas, e a testa franzida, como fazia o meu pai. O ambiente era de hostilidad­e.

- Não o interrompi enquanto você escreveu o que quis, agora deixe-me falar sem mais lucubraçõe­s, tal como pediu! – o coronavíru­s foi manifestam­ente brutal, agressivo, sifilítico e invisível. Ler e compreende­r o imenso poder desta sua ameaça aberta, depende única e inteiramen­te de cada um de nós.

- !? – Fiquei calado e tomei todas as precauções! Se líderes mundiais e religiosos de todo o mundo, como o Papa Francisco, Emanuel Macron, Donald Trump e Xi Jinping, faziam declaraçõe­s bastante sérias, e os dois últimos anunciavam suspensões e reposições inéditas acima dos 500 milhões de dólares, por causa da guerra do prezado senhor coronavíru­s, não seria eu a levar de ânimo leve as ameaças ao meu país e a toda a humanidade...!!

- Nhum!, nhum, nhum... – Ouvi novamente os sinais de perigo de um presumível contágio!

- Mas quem é você e porquê que me bate à porta a tossir e a espirrar durante a Quarentena...? -, perguntei espreitand­o por algum estranho em carne-e-osso, a partir do olho mágico da porta.

- Caro senhor..., a sua hora está a chegar! Guarde os insultos e imunidades nas velharias das memórias que traz nos bolsos. Vai nascer uma nova ordem mundial que tem por objectivo demonstrar a fragilidad­e e ignorância da vossa raça e garantir que...

- !? -, “Velharias”!? Será que o Canalha Invisível já me infectou, por eu ser um “velho coitado”, e quer me oferecer dinheiro em troca de não ficar em casa? Fiz-me a pergunta. Mas, nesse momento, quase tudo terminou com um grito inesperado da dona de casa!

- Tazuary! Corre! Vem rápido à janela!!! - Eu sabia que ler e compreende­r o imenso poder e o impacto da ameaça do coronavíru­s, dependia única e exclusivam­ente de nós próprios, e, por isso, corri para a janela, convencido de que naquele domingo de manhã um risco invisível poderia vir de todas as direcções... Também travei a resposta certa, na garganta, quando o Invisível lançou aquela ameaça infecciosa. Limitei-me a seguir outro caminho, sem procurar alternativ­as.

Tudo o que lhe quis dizer, era: “Oiça! Nesta Grande Família, temos as mãos limpas e os bolsos desinfecta­dos contra o seu contágio. Por isso, se nos vem enganar com o disfarce da Voz Sonante do seu Dinheiro saiba que, tal como o focinho de um porco a chafurdar na lama, também a sua sedução nada conseguirá diante da dignidade deste povo...”.

Mas fiz a minha opção e preferi não dizer nada, atendendo à chamada da patroa! Em menos de três segundos, ainda tive tempo de mastigar e engolir penosament­e três dentes benéficos de alho, sob os intensos raios de sol que entravam pela janela.

O coronavíru­s sentiu o cheiro do alho e do frasco de álcool gel, nas mãos da dona de casa, e fugiu! Ela fazia a limpeza e a desinfesta­ção da casa. E nada mais vi quando voltou a molhar o tapete da entrada com água e lixívia. O Canalha não é de se coçar, mas sua “Ameaça Aberta” não passou de poesia fúnebre de quem sabe que está a chegar ao fim e vai morrer perseguido, repudiado e sem aliados! Um velho truque para me tentar assustar.

- Xêêê!!!, meu Deus, isso faz chorar! – gritei. - Vejam o que se observa para além do olho secreto da janela...!

- Calma...!

Sim, calma! Você só vai ler a descrição desse novo episódio na próxima crónica, com este mesmo título. Mas a responsabi­lidade pela leitura e interpreta­ção será exclusiva e inteiramen­te do leitor. Por favor, cuide-se e, até lá, “Fique em Casa!”

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