“Teletrabalho desafia os funcionários e as empresas”
Nesse ambiente global de restrições de movimentos e de distanciamento e isolamento social obrigatórios, por causa da Covid-19, empresas e outras organizações recorrem ao teletrabalho para continuarem a funcionar. Essa é uma das adaptações rápidas que prometem instalar-se no cenário laboral e permanecer no pós Covid-19. Mas para algumas empresas isso já vem lá de trás. É o caso da Appy Saúde, uma startup do sector tecnológico, porventura um dos pioneiros do teletrabalho em Angola. O engenheiro Pedro Beirão é o seu director-geral e ele fala-nos do teletrabalho a partir da experiência acumulada na sua empresa
A Appy Saúde é um dos pioneiros do teletrabalho em Angola. Como definiria teletrabalho?
Na Appy Saúde damos a oportunidade a alguns colaboradores residentes em Angola de trabalharem sem ser necessário deslocaremse até ao escritório. Esses podem realizar as suas tarefas a partir de casa.Além disso, trabalhamos com pessoas de várias partes do Mundo, e com algumas nunca estivemos pessoalmente. Eis um excelente exemplo de teletrabalho.
Esta forma de trabalho é exercida à distância de forma autónoma, utilizando ferramentas de comunicação e de informação remotas que asseguram um contacto directo entre o teletrabalhador e a Appy.Não sabemos se somos pioneiros, mas trabalhamos com este método desde o início da empresa. E em diversas áreas, desde a programação até ao mapeamento.
Já há muito se falava, entre nós, de teletrabalho, mas ao que parece havia uma resistência das empresas e outras organizações, supostamente, por causa da dificuldade de controlar e avaliar o trabalhador. Como é que se pode contornar isso? É perfeitamente normal que as empresas tenham preocupações com os funcionários em teletrabalho. A Appy Saúde também teve as suas. Preocupações com a auto-disciplina, preocupações com a capacidade de cumprir prazos ou preocupações de que o ambiente doméstico não seja propício ao trabalho. Mas estas preocupações podem ser colmatadas com avaliações frequentes, até percebermos se os resultados correspondem às expectativas. Na Appy Saúde avaliamos a produtividade: se as tarefas são concluídas e se os prazos são cumpridos. A qualidade: se existe alguma diferença na qualidade do trabalho em relação aos trabalhadores que frequentam o escritório. A comunicação: se existiram problemas de comunicação com o teletrabalhador. E se o teletrabalhador retornou as mensagens em tempo hábil. A tecnologia: se o teletrabalhador consegue trabalhar com as ferramentas de trabalho e de comunicação. O ambiente de trabalho: se o teletrabalhador consegue criar um ambiente de trabalho relativamente livre de distrações e que permita o contacto sempre que necessário. Hábitos de trabalho: se o teletrabalhador estabeleceu uma rotina produtiva de trabalho. Interacção com a equipa: se o teletrabalhador consegue se comunicar, efectivamente, com os colegas de trabalho.
A adopção dessa prática é para manter e generalizar, quando essa crise da covid-19 passar?
Toda a equipa da Appy Saúde continua a trabalhar a partir de casa. Continuamos a realizar reservas de medicamentos e a entregar produtos das farmácias. Nesta fase atendemos vários pedidos, ajudando as pessoas a não andarem de farmácia em farmácia e algumas até, com as nossas entregas,nem precisam de sair de casa.
A equipa que antes da crise já trabalhava em teletrabalho neste momento permanece a trabalhar com o mesmo método. E permanecerá após a crise.
Quais são os grandes obstáculos à massificação do teletrabalho?
Com o Estado de Emergência adaptamos o teletrabalho para todas as áreas, continuamos a atender a todos os pedidos e a prestar serviços que ajudam as pessoas a cumprir as regras de isolamento social, mas claro que existem também desafios tanto para o funcionário como para a empresa, como o desempenho, produtividade e conectividade de internet.
Em termos práticos e concretos, como é que o teletrabalho se processa na vossa empresa?
Usamos várias ferramentas na nuvem. Todos os processos e documentos são digitalizados e desenvolvidos a pensar em como trabalhar e aceder aos mesmos remotamente. Isto faz com que seja possível que toda a equipa
desenvolva o seu trabalho remotamente, da mesma maneira que o faria presencialmente. As reuniões virtuais são uma realidade diária, não apenas agora durante a quarentena.
Acredita que o nível de infoinclusão, entre a população angolana, já é capaz de propiciar grandes negócios na internet e através da internet?
Sim. Temos cada vez melhores serviços e conectividade de internet. E o número de pessoas que utilizam a internet aumenta significativamente, de ano para ano. Isso são indicadores de que a população está cada vez mais integrada no mundo digital. Acreditamos que o acesso à internet deve ser democratizado e acessível a cada vez mais cidadãos em Angola. Se olharmos para a evolução deste sector, nos últimos 10 anos, verificamos que o crescimento foi notável. A velocidade aumentou, o preço da internet baixou e cada vez mais pessoas têm acesso. Contudo, é necessário continuar a investir na extensão de infra-estruturas e na melhoria dos serviços de telecomunicações.
Pessoalmente também depositava enorme expectativa no Angosat?
Para o nosso negócio o mais importante é a conectividade de internet. E temos no nosso país outros meios que são capazes de canalizar e assegurar as comunicações.
Esteve recentemente no Ruanda. Pode falar-nos dos contactos que lá estabeleceu?
Lançámos, recentemente, a Appy Saúde no Ruanda, que começou com a reserva de medicamentos em farmácias de Kigali. O utilizador pode ver na plataforma os produtos disponíveis na farmácia online, reservar e pagar através da Appy Saúde. Somos a única plataforma a fornecer este tipo de serviço naquele país. Esperamos continuar a crescer, a nível de utilizadores e de farmácias, no Ruanda.