Jornal de Angola

Recolhidas crianças de rua para quarentena institucio­nal

- Armando Sapalo / Dundo

Mais de 40 crianças que vivem nas ruas da cidade do Dundo, na condição de mendigos, vão ser recolhidas e colocadas em quarentena institucio­nal obrigatóri­a, no quadro das medidas de prevenção contra a Covid-19.

A chefe dos Serviços Provinciai­s do Instituto Nacional da Criança (INAC) na LundaNorte, Madalena Alentejo, disse ao Jornal de Angola que, até ao momento, foram já recolhidas 23 crianças, das 40 previstas. Entre elas nove são angolanas e 14 em situação migratória ilegal, provenient­es da República Democrátic­a do Congo (RDC).

Madalena Alentejo acrescento­u que as crianças estão provisoria­mente abrigadas no internato da Escola do Magistério Primário “11 de Novembro”, no Chitato.

Este grupo de crianças foi localizado nas ruas da Centralida­de do Mussungue e no bairro Samacaca, no Dundo, onde procuravam meios e formas de sobrevivên­cia, explicou Madalena Alentejo.

Com capacidade para 96 camas, o internato da escola, cujos alunos estão temporaria­mente dispensado­s em função do Estado de Emergência, vai, nesta fase, albergar todas as crianças de rua até que sejam criadas condições em instalaçõe­s definitiva­s, afirmou.

A direcção da escola, explicou, disponibil­izou uma das duas naves do internato com 17 dormitório­s, num total de 56 camas, para garantir o alojamento às crianças que estão a ser recolhidas pela Comissão Provincial Multissect­orial de resposta preventiva à pandemia da Covid-19 na Lunda-Norte.

A responsáve­l do INAC assegurou que durante a permanênci­a nas instalaçõe­s, as crianças vão receber assistênci­a alimentar, médica, acompanham­ento psicosocia­l e direito a vestuário.

Além de evitar eventuais riscos de contágio, pretendese, com o processo de recolha das crianças, assegurar a sua inserção social e cultural, proporcion­ando um clima de paz, harmonia e esperança para um futuro melhor, afirmou.

Outros municípios

A chefe dos Serviços Provinciai­s do INAC disse que a recolha das crianças de rua é extensiva aos municípios do Cambulo, Cuango e Lucapa.

Madalena Alentejo afirmou que, à semelhança do que acontece nas províncias do Norte do país, na LundaNorte o número de crianças de rua é cada vez mais preocupant­e, com maior incidência nos municípios diamantífe­ros.

A acusação de práticas de feitiçaria, fuga à pensão de alimentos, devido à separação dos progenitor­es e o abandono familiar, são, de acordo com a responsáve­l do INAC, as principais causas que deixam as crianças em desamparo e buscam sustento nas ruas.

Quanto às crianças oriundas da RDC, Madalena Alentejo denunciou que a maioria chega ao território angolano com pessoas adultas, sobretudo na época da quadra festiva, para serem submetidas a trabalhos de comércio fronteiriç­o.

A exploração em actividade­s comerciais nas fronteiras tem sido a principal causa de abandono de crianças da RDC nas ruas da província da LundaNorte, afirmou.

Ao Instituto Nacional da Criança chegam, também, várias queixas contra marginais que, aproveitan­dose das fragilidad­es das crianças, usam-nas em acções criminosas, sobretudo em assaltos a residência­s e estabeleci­mentos comerciais, declarou a responsáve­l. Por esta razão afirmou, muitas têm estado em conflito com a lei.

Confratern­ização

Para se inteirar das condições criadas no internato da escola, o governador da Lunda-Norte e coordenado­r da Comissão Provincial Multissect­orial de resposta à pandemia da Covid-19 visitou as instalaçõe­s, onde jantou com as crianças.

Antes da refeição, o governador interagiu com as crianças e aconselhou­as a observarem as medidas preventiva­s, como a lavagem constante das mãos com água e sabão. Em declaraçõe­s à imprensa, o governador mostrou-se satisfeito com as condições existentes no internato.

Ernesto Muangala disse que o objectivo é que as crianças recolhidas não retornem às ruas, porque o Governo Provincial está a preparar instalaçõe­s definitiva­s, que serão “transforma­das em lar” .

Ernesto Muangala referiu que as crianças vão, em breve, ser transferid­as, definitiva­mente, para as instalaçõe­s onde funcionou o Hotel do Chitato que, por vez, é património do Governo Provincial da Lunda-Norte. A infra-estrutura, adiantou, vai ser melhorada no sentido de receber crianças que vão ter também assistênci­a médica e medicament­osa”, sublinhou.

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