Topónimo coloniais
Escrevo pela primeira vez para o Jornal de Angola e abordo hoje uma das temáticas que parece estar a ser adiada. Nesta minha modesta carta falo sobre a toponímia na cidade de Luanda que, não se sabe porque, continua a ser caracterizada por nomes que até desonram o que somos como povo. Por isso, não consigo compreender como uma figura colonial que maltratava os povos autóctones, enaltecia a escravatura e considerava o negro inferior ao branco tenha o seu nome associado a uma rua, uma avenida ou um largo. Sei que tinha sido criada uma comissão para trabalhar neste aspecto da toponímia em Luanda, mas já há muito que se não ouve mais nada sobre esta mesma comissão. Acho que está na hora de “pente fino” aos nomes que se encontram em muitas ruas, avenidas e largos de Luanda que, em minha opinião, já deviam ser substituídos. Não faz sentido nomes coloniais e de figuras que intransigentemente não só defendiam a instituição colonial, como igualmente alegavam a superioridade racial, continuem a fazer parte do dia-a-dia dos angolanos. Como é que uma rua ou largo pode continuar com o nome de um mercador de escravo, que defendia a manutenção da escravatura ? Acho que urge revermos os nomes, retirar alguns, substituir outros e enaltecer mais as figuras angolanas na toponímia luandense. Independentemente de algumas vozes defenderem a continuidade de nomes coloniais, em minha opinião todo o nome que apenas lembra más práticas, que lembra tentativas de enaltecer o europeu em detrimento do africano, deve imediatamente ser retirado das ruas de Luanda e de outras cidades. Por exemplo, acho vergonhoso Luanda ter uma das suas ruas com o nome de Fernando Pessoa, um poeta que defendeu que “a escravatura é lógica e legítima”. Esqueceram-se, as pessoas que defendem a manutenção do nome do poeta ali na Vila Alice, na rua que atravessa a Hoji ya Henda e a Eugénio de Castro, de que o tempo de plebeização e auto-flagelação já terminou. ANTÓNIO NVULA Sambizanga