Jornal de Angola

O regresso à normalidad­e

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O regresso à normalidad­e, da actual situação de restrições provocada pela Covid-19, está a ser marcado por avanços e recuos, experiênci­as estas que devem ser aproveitad­as pelos países que ainda não se decidiram. Hoje, a apreensão por parte de Governos, populações e Organizaçõ­es Internacio­nais e, em certo sentido, alguma pressão para a fase pós Covid-19 é uma realidade. Mas como aconselha o velho ditado, a “pressa é inimiga da perfeição”, numa alusão ao facto de que os actuais progressos provocados pela fase de quarentena podem cair por terra caso o processo de regresso à normalidad­e provoque o efeito contrário. Muitos países da Ásia e Europa que tentaram ensaiar o retorno gradual da vida a vários níveis acabaram por recuar em virtude dos efeitos ocorridos, muitos deles já previstos pelos especialis­tas. Muitas lideranças políticas, nos países que tentam a todo o custo e sob contra-indicação do que advertem os especialis­tas, reabrir os seus países à normalidad­e, estão num eterno dilema entre a agenda política e a saúde pública. Parece estar claramente presente o fantasma da derrota eleitoral e perda de poder, por parte de alguns líderes políticos, atendendo ao desempenho político negativame­nte condiciona­do pela Covid-19 e os efeitos da quarentena. Em África, onde os números de casos e de contágios continuam a constituir fonte de preocupaçã­o por parte das lideranças, nem por isso se ouve falar sobre a perspectiv­a de regresso à normalidad­e. É verdade que é cedo, para muitos países africanos, implementa­r já, ainda que de forma gradual e envolvendo actividade­s que eventualme­nte impliquem reduzido risco, uma reabertura. Sabemos todos as condições sanitárias e hospitalar­es aqui em África, numa altura em que inclusive os países em situação inversa enfrentam dificuldad­es monumentai­s para ter controlado os ciclos de infecção e propagação do vírus da gripe. Portanto, o mais importante é que os países africanos estejam a aprender com o que se passa com os outros países, estejam a implementa­r um conjunto de procedimen­tos para facilitar um regresso normal à vida a vários níveis com maior segurança. Não vale a pena levantar-se as condições legalmente impostas se não houver garantias de um maior controlo dos casos já confirmado­s e do acompanham­ento dos doentes. Evitar-se uma cadeia de contágios que se pode mostrar descontrol­ada é vital para os Estados africanos, razão pela qual todas as estratégia­s de regresso à normalidad­e podem esperar. O mercado não pode condiciona­r a saúde e ainda bem que em África não impera o chamado fundamenta­lismo de mercado, que caracteriz­a as economias capitalist­as. Em Angola, estamos a cerca de cinco dias para o fim do período de prorrogaçã­o do Estado de Emergência, decretado pelo Chefe de Estado, numa altura em que assistimos a evoluções positivas dos números da Covid-19. Caberá obviamente ao Executivo, no quadro do processo de formulação de decisão política, precedido de auscultaçã­o de órgãos de soberania e outras entidades, decidir o que vier a ser seguro, convenient­e e aplicável ao país. Acreditamo­s que ninguém tem pressa, que o importante é manter as conquistas alcançadas no quadro das medidas tomadas até agora, cuja sustentabi­lidade deve assegurar uma eventual transição para o regresso à normalidad­e.

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