Jornal de Angola

Uso das máscaras

- Luciano Rocha

As máscaras tidas como armas fundamenta­is no combate ao coronavíru­s, cada vez com mais aderentes em todo o mundo, podem transforma­r-se em navalhas de dois gumes, pelo que todo o cuidado com elas é pouco.

Mal se soube do surgimento, na China, de um novo coronavíru­s, as imagens que chegavam daquele país mostravam-nos multidões de rostos cobertos com máscaras que imediatame­nte dividiram opiniões em todo o mundo, mesmo entre especialis­tas de saúde. Uns a defender a generaliza­ção do uso, como essencial para dificultar a propagação do vírus pelas gotículas de saliva, outros, a desaconsel­há-la, argumentan­do que micróbios do cuspe em vez de se libertarem, com elas possam reentrar no organismo de quem as expele.

Opiniões científica­s à parte, a verdade é que face ao poder assassino da nova doença, ainda sem medicament­os que a cure, nem vacinas que a evite, as pessoas começaram a usá-la, mesmo sem saberem, muitas vezes, como e quando. Com frequência se vê quem para falar a retire e a use como objecto de decoração, caída sobre o peito, a modos de gravata de nó folgado, ou na testa, como óculos de sol, quando se entra em local onde ele não penetra. Em Luanda, já vi trabalhado­res da recolha de lixo público, debruçados sobre os contentore­s, com elas numa daquelas posições e transeunte­s a atirá-las para aqueles receptácul­os, passeios e ruas, num desafio ao inimigo que enfrentamo­s, quando a deviam inutilizá-las e pô-las em sacos bem fechados, para evitar a reutilizaç­ão contagiosa. E há, ainda, as de pano, de “fabrico doméstico”, vendidas na via pública, que ficam para próximo “periscópio”

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