Empresas registam atrasos no pagamento de salários
Mais de 50 por cento das cerca de 86 pequenas e médias empresas, filiadas na Câmara de Comércio e Indústria do Cuando Cubango (CCICC), não pagam salários dos seus trabalhadores há três meses e podem declarar falência nos próximos dias, por falta de capacidade financeira para continuar a desenvolver as actividades. O presidente da Câmara de Comércio e Indústria do Cuando Cubango, Longui António Bongo, disse que a medida do isolamento social é bem vinda porque visa evitar a propagação da Covid-19, no seio das comunidades, mas, em contrapartida, as empresas do ramo do comércio, imobiliário, construção civil, restauração, entre outras, deveriam ser abrangidas também nas políticas de incentivo financeiro do Executivo.
De acordo com a fonte, que falava em exclusivo para o Jornal de Angola, o Estado de Emergência que vigora desde o dia 27 de Março, até à presente data, apesar de ser uma necessidade imperiosa, está a causar enormes constrangimentos a esta classe empresarial e, caso seja prorrogado novamente, todas estas actividades vão entrar em colapso. Acrescentou que a Câmara de Comércio e Indústria do Cuando Cubango controla 60 lojas comerciais, entre as quais três de grande superfície (Shoprite, Nosso Super e Angomart), 15 pequenas indústrias (designadamente carpintarias, padarias, serrações, construção civil e casas de caixilharia) e 11 restaurantes, bares e similares que sobrevivem apenas da sua actividade diária.
Longui António Bongo disse que todas as empresas filiadas na CCICC enfrentam actualmente inúmeras dificuldades para o pagamento dos salários atrasados dos meses de Fevereiro, Março e Abril, uma situação que poderá agravar-se ainda mais caso a situação de confinamento se mantiver por muito mais tempo. Sublinhou que, para além das dificuldades no que concerne ao pagamento dos salários dos trabalhadores das referidas empresas, muitas delas não têm instalações próprias e desenvolvem as suas actividades em imóveis arrendados.
Disse que a Câmara de Comércio e Indústria do Cuando Cubango está à procura de alternativas para que as empresas locais e os seus trabalhadores possam sobreviver do colapso económico que a pandemia da Covid-19 tem causado à economia mundial. Explicou que as rotas internacionais que usam para compra de bens diversos para comercialização no Cuando Cubango estão ligadas a alguns epicentros do novo coronavírus, como é o caso da China, que é o principal parceiro comercial de muitas empresas da região.
“Não vamos conseguir sobreviver porque tudo está parado, dependemos totalmente de importações”, disse Longui António Bongo, apontando como solução para os problemas que atravessam a necessidade do Estado tomar decisões rápidas para que possa financiar a recuperação das empresas nacionais que enfrentam dificuldades do género. Disse que a nível da província e do país, em geral, haverá um grande défice no crescimento económico. Nesta senda, é necessária a intervenção do Estado angolano para que as pequenas e médias empresas possam sobreviver dos efeitos colaterais desta pandemia - disse.
“A crise económica causada pela Covid-19 criou um clima de negócio que não ajuda nenhum empreendedor a prosperar. É necessário que o Estado trace políticas que permitam a sobrevivência das empresas”, defendeu. Acrescentou que o Decreto Presidencial 98/20, de 9 de Abril, que aprova as medidas imediatas de alívio dos efeitos económicos e financeiros negativos provocados pela pandemia de Covid-19, num valor que ascende os 62,65 mil milhões de kwanzas, visa assegurar apenas o apoio financeiro das actividades das micro, pequenas e médias empresas do sector produtivo.
Salientou que tais medidas são louváveis, pese embora as empresas do ramo do comércio, imobiliário, construção civil, restauração, entre outras, não estejam contempladas nesta linha de financiamento, situação que periga cada vez mais a sobrevivência das empresas filiadas na Câmara de Comércio e Indústria do Cuando Cubango.