Carlos Araújo aconselha moderação nos treinos
Treinador da equipa BAI Sicasal Petro chama atenção para o facto de a distância entre ganhos e perdas dos atletas ser muito reduzida
A aposta de muitos ciclistas no trabalho indoor (treino em espaços fechados com rolos), face aos condicionalismos impostos pelas medidas adoptadas para o combate à pandemia da Covid-19, é apoiada pelo treinador da equipa BAI Sicasal Petro, Carlos Araújo, que, no entanto, receia os excessos.
Técnico de competência reconhecida no país e no estrangeiro, Cecê, como é carinhosamente tratado na modalidade, considera o rolo uma alternativa válida, “mas não substitui o treino normal”.
Apoiado numa avaliação científica, o líder da formação petrolífera, detentora de certificação continental da União Ciclista Internacional (UCI), explicou: “é para rolar. Uma alternativa válida. Como um gerador de energia (fonte alternativa). Depois de horas de trabalho, temos de fazer a manutenção. Há trabalhos específicos em treinos indoor. Logo, não é apenas para a activação de componentes físicas. Por exemplo, 1 hora certinha e bem ritmada em rolo é melhor que 3 horas ao frio, vento e chuva. Justificada esta parte, digo que a fronteira entre os ganhos em performances e as perdas com doenças é estreita”.
Com o distanciamento social, afirmou o treinador, o período de “quarentena” no Estado de Emergência pode ser considerado pré-época sem tempo para terminar.
“Os métodos de treino, em função dos nossos objectivos, têm de ser muito bem doseados e cuidadosos, para os atletas não chegarem à exaustão, embora haja alguns que se emocionam. Poderão pagar a factura mais tarde”.
No espírito divertido do ciclismo, Cecê qualificou o rolo de treino.
“É um vídeo-game. Como mais velho, também gosto. Mas, para os meus ciclistas, que são de Alto Rendimento, definimos trabalhos específicos, em função desta fase”.
Programa de treino
Os ciclistas do Petro têm um plano de treino definido de cerca de 3 horas e 30 minutos diários, sem obrigatoriedade no cumprimento.
“Se todos atingirem no máximo 75 por cento do programa, estou convencido que para correr em Angola, em 18 dias (três semanas) de treino em estrada estaremos preparados. Fora do país, precisaremos de aproximadamente nove semanas”.
O desperdício do trabalho acumulado, por força da inactividade, está longe de preocupar Carlos Araújo. “A época de um ciclista dura o ano todo. Goza repousos em função das competições programadas. Por exemplo, a nossa equipa tinha previsto, de Janeiro a Dezembro, participar em 70 corridas fora do país. Após o término de cada competição, os atletas observam sempre entre 4/5 dias de repouso activo, porque férias mesmo são duas semanas: a última de Novembro e a primeira semana de Dezembro. Somando os dias todos, durante o ano, o ciclista totaliza mais ou menos 60 dias de repouso activo. A perda de performance dos meus ciclistas é de 60/50 por cento do pico de forma física.
Trabalho faseado
O tipo de trabalho e distâncias recomendados para o regresso à estrada é a critério de cada treinador.
“Eu defino o meu trabalho por horas. Reparto a época em períodos, em função dos objectivos da equipa. Numa época normal, fizemos a pré-época em Dezembro, com o foco na potência (força, andamentos pesados), sem se fazer sentir a grande intensidade. O objectivo é fortalecer todos os ligamentos e os músculos principais (dorsais, bíceps, tríceps, ombros, abdominais, lombares, quadríceps e gémeos. Nos meses de Janeiro, Fevereiro e Março a prioridade é o incremento progressivo do volume de cargas de treino e o acondicionamento físico no início deste período. O volume dos exercícios deve predominar sobre a intensidade, além do trabalho específico sobre a bicicleta. Sugere-se trabalho genético e global, que nos restantes períodos podemos chegar a prescindir”.
Os meses de Abril, Maio e Junho são reservados à aproximação à forma ideal.
“Para tal, devemos dar prioridade ao aumento progressivo da intensidade ou qualidade de trabalho, que vai predominar sobre o volume das cargas de treino, e também os exercícios específicos sobre os mais gerais. Em Julho, Agosto, Setembro e Outubro cumprimos o considerado período de competição, no qual o objectivo principal e a participação em grandes competições e atingir grandes objectivos. Os treinos terão como prioridade alcançar a forma ideal, a manutenção e a recuperação do esforço despendido”, detalhou.
Carlos Araújo lamenta o facto de a paralisação ter estrangulado os objectivos desportivos.
“Posso dizer que a nossa época de 2020 está totalmente comprometida. Projectámos a disputa de nove grandes corridas internacionais e participar nas principais provas do calendário nacional. A nossa equipa vive e sobrevive dos patrocinadores. Até agora só um honrou o estipulado no contrato. Os restantes, devido à Covid-19, não deram as suas participações”.