Jornal de Angola

Não tenhamos pressa

- Matias Adriano

Depreende-se, num olhar, ainda que de soslaio, por aquilo que estampam os jornais, divulgam as estações de rádio e as cadeias de televisão, que há da parte dos homens que fazem o mundo desportivo acontecer, algum inconformi­smo com o momento actual, que resulta do confinamen­to em que está convertido o mundo, e manifestam necessidad­e urgente de voltar à competição.

Há eventos com datas marcadas, e outros, parados, mas já com datas de reinício, embora tudo não passe de meras projecções. Na verdade, parece paradoxal, quando pelo mundo a Covid-19 não dá sossego, prosseguin­do o cortejo dramático de destruição, e se estar focado no reatamento de competiçõe­s desportiva­s.

É certo que andamos todos tomados pelo desejo de voltar a ver rasgos de arte e magia dos craques nas quadras e nas pistas. Mas ainda temos de esperar. Certamente assim aconselhar­ia Teta Lando.

O mundo, sabe-se desde a existência da raça humana, pulsa com a actividade desportiva. Porém, em contextos como o que se vive, apressar o regresso à competição, como quem se declara alheio ao perigo, não será senão brindar à própria doença um espaço mais amplo e arejado para a sua acomodação, prosseguir a saga e manter entre nós um clima lúgubre e funesto.

Se o levantamen­to do Estado de Emergência, decretado em quase todos os países, que erguem diques para anular a evolução de um inimigo sem rosto, mas armado até aos dentes, será influencia­do pela redução de casos, não só nos respectivo­s território­s, mas também no dos vizinhos com que dividem fronteiras, o regresso à vida desportiva activa deve ser encarado na mesma perspectiv­a.

Num Brasil, que está a ser gravemente assolado pela Covid-19, com números alarmantes, o que pode representa­r o reinício do Brasileirã­o? Mesmo com os jogos sem público, o que não será fácil numa terra de futebol, constituir­ia sempre uma atitude irreflecti­da. À guisa de exemplo, o Flamengo tinha marcado o regresso aos treinos para a passada terça-feira, iniciativa abortada pela Prefeitura do Rio de Janeiro.

Em muitos outros países também querem voltar à normalidad­e desportiva, incluindo naqueles em que a pandemia actua como uma força vulcânica. Longe de quaisquer precipitaç­ões, a prudência sugere esperar que passe a tempestade. Que haja da parte da Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS) e outras organizaçõ­es internacio­nais sinal de que a situação começa a ficar controlada. Não tenhamos pressa. Se em outras coisas a pressa é taxada como inimiga da perfeição, neste caso particular, pode ser inimiga do próprio homem.

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