Não tenhamos pressa
Depreende-se, num olhar, ainda que de soslaio, por aquilo que estampam os jornais, divulgam as estações de rádio e as cadeias de televisão, que há da parte dos homens que fazem o mundo desportivo acontecer, algum inconformismo com o momento actual, que resulta do confinamento em que está convertido o mundo, e manifestam necessidade urgente de voltar à competição.
Há eventos com datas marcadas, e outros, parados, mas já com datas de reinício, embora tudo não passe de meras projecções. Na verdade, parece paradoxal, quando pelo mundo a Covid-19 não dá sossego, prosseguindo o cortejo dramático de destruição, e se estar focado no reatamento de competições desportivas.
É certo que andamos todos tomados pelo desejo de voltar a ver rasgos de arte e magia dos craques nas quadras e nas pistas. Mas ainda temos de esperar. Certamente assim aconselharia Teta Lando.
O mundo, sabe-se desde a existência da raça humana, pulsa com a actividade desportiva. Porém, em contextos como o que se vive, apressar o regresso à competição, como quem se declara alheio ao perigo, não será senão brindar à própria doença um espaço mais amplo e arejado para a sua acomodação, prosseguir a saga e manter entre nós um clima lúgubre e funesto.
Se o levantamento do Estado de Emergência, decretado em quase todos os países, que erguem diques para anular a evolução de um inimigo sem rosto, mas armado até aos dentes, será influenciado pela redução de casos, não só nos respectivos territórios, mas também no dos vizinhos com que dividem fronteiras, o regresso à vida desportiva activa deve ser encarado na mesma perspectiva.
Num Brasil, que está a ser gravemente assolado pela Covid-19, com números alarmantes, o que pode representar o reinício do Brasileirão? Mesmo com os jogos sem público, o que não será fácil numa terra de futebol, constituiria sempre uma atitude irreflectida. À guisa de exemplo, o Flamengo tinha marcado o regresso aos treinos para a passada terça-feira, iniciativa abortada pela Prefeitura do Rio de Janeiro.
Em muitos outros países também querem voltar à normalidade desportiva, incluindo naqueles em que a pandemia actua como uma força vulcânica. Longe de quaisquer precipitações, a prudência sugere esperar que passe a tempestade. Que haja da parte da Organização Mundial da Saúde (OMS) e outras organizações internacionais sinal de que a situação começa a ficar controlada. Não tenhamos pressa. Se em outras coisas a pressa é taxada como inimiga da perfeição, neste caso particular, pode ser inimiga do próprio homem.