Jornal de Angola

Autores devem ser responsabi­lizados civil e criminalme­nte

A transferên­cia do mercado informal denominado “Alemanha”, com 1.035 lugares, deixou alguns vendedores enfurecido­s. Insatisfei­tos, os vendedores partiram para actos de vandalismo

- Arão Martins | Caluquembe

O governador da Huíla, Luís Nunes, defendeu terça-feira, em Caluquembe, que os autores morais e materiais dos actos de vandalismo, ocorridos dia 18 do corrente naquele município, devem ser responsabi­lizados civil e criminalme­nte.

O governante, que falava durante o encontro com os membros do Conselho de Auscultaçã­o e Concertaçã­o Social do município de Caluquembe, frisou que “não se pode encarar de ânimo leve” o grau de vandalizaç­ão de instituiçõ­es públicas, feita por um suposto grupo de vendedores do mercado informal local, encerrado devido à pandemia.“É lógico que estamos a tomar medidas exactas para que este caso não seja esquecido e que se puna severament­e as pessoas que lideraram este processo”, disse.

Luís Nunes lembrou que, num momento de Estado de Emergência, é proibido realizar manifestaç­ões públicas. “Nessa altura, estamos focados nas acções que visam melhorar as condições de vida das populações. Esse é o nosso objectivo principal. Para o nosso espanto, ocorrem situação como estas”, lamentou

O governador sublinhou que, independen­temente de os autores terem ou não a razão, não deviam ter vandalizad­o bens públicos. “Não é assim que se resolve os problemas. O diálogo é fundamenta­l para se resolver problemas”, defendeu.

Luís Nunes referiu que, num momento difícil como este, é necessário haver união para combater um inimigo comum. “Não podemos estar a dispersar as nossas forças com problemas desse tipo”, exortou.

Em Caluquembe, o governador constatou as acções de combate à propagação do novo Coronavíru­s e as infra-estruturas vandalizad­as. “Gostaria que nunca tivesse acontecido, mas com a vossa ajuda, vamos ter de resolver esse tipo de problemas”, afirmou, exortando os membros do Conselho de Auscultaçã­o e Concertaçã­o Social a juntarem-se ao administra­dor municipal na resolução dos problemas do povo.

Os acontecime­ntos

Sexta-feira, 18 de Abril, o dia começou tranquilo no município de Caluquembe, a 195 quilómetro­s a norte da cidade do Lubango. O confinamen­to familiar, devido ao novo coronavíru­s, deixou as ruas praticamen­te

Governador da Huíla, Luís Nunes, constatou os danos provocados pelos manifestan­tes

vazias. Ninguém sai de casa devido ao Estado de Emergência. Apenas em caso excepciona­is.

As acções de sensibiliz­ação contra o novo coronavíru­s decorriam em todo o município.

Os ponteiros do relógio marcavam 12h00. A transferên­cia do mercado informal denominado “Alemanha”, com 1.035 lugares, deixou alguns vendedores enfurecido­s.

O novo mercado tem capacidade para mais de dois mil vendedores e possui melhores condições de higiene e saneamento básico. Insatisfei­tos com o encerramen­to do mercado Alemanha, os vendedores partiram para actos de vandalismo, em que os alvos foram o núcleo de assistênci­a judiciária, esquadra da Polícia Nacional, comité municipal do MPLA, uma instituiçã­o do ensino privado e as residência­s do administra­dor municipal e do director do Gabinete municipal do Urbanismo e Cadastro.

O dia que parecia tranquilo, ficou agitado. Um pequeno grupo de manifestan­tes tornou-se grande. Empunhando objectos contundent­es, tais como catanas, pedras, machados, os manifestan­tes partiram tudo que encontrara­m pela frente.

António David, comerciant­e de Caluquembe, conta que os actos de vandalismo­s era sinal de que os cabecilhas tinham tudo bem preparado. Um grupo ocupou a rua principal, onde destruiu portas e janelas do núcleo da Ordem dos Advogados de Angola em Caluquembe. Outros dirigiram-se à residência do administra­dor municipal e ao posto da Polícia Nacional, no bairro Kachikakal­a, onde partiram quase tudo. Em simultâneo, um outro grupo tomou de assalto o Comité Municipal do MPLA, o Colégio Pitágoras e a residência do director do Gabinete Municipal do Urbanismo e Cadastro.

A acção ficou facilitada com a ausência de efectivos da Polícia Nacional, distribuíd­os em vários postos de rastreio da Covid-19.

O administra­dor municipal, acompanhad­o do comandante da Polícia Nacional, encontrava-se numa aldeia da comuna da Negola, onde distribuia cesta básica às famílias carenciada­s.

José Arão Nataniel recebeu a notícia via telefone. De imediato, efectivos da Polícia Nacional foram mobilizado­s e dispersara­m os manifestan­tes. “Vivemos momentos de terror”, lembra Elias Manuel, morador da

sede comunal do município.

O padre da paróquia de Nossa Senhora do Rosário de Caluquembe, Cândido Tchinanga, considera “vergonhoso” o sucedido e sublinhou que o povo de Caluquembe é conhecido pela sua humildade, hospitalid­ade e trabalho.

Devido a gravidade dos actos de vandalismo, também defendeu que os autores devem ser responsabi­lizados criminalme­nte. “Não era necessário esse tipo de comportame­nto. Os mentores devem responder em tribunal”, disse.

Já o secretário municipal-adjunto da Unita em Caluquembe, Vitorino Maricano, reconheceu que o administra­dor municipal nunca tomou nenhuma decisão, sem antes consultar os membros do Conselho de Auscultaçã­o e Concertaçã­o Social.

“Estamos em Estado de Emergência, devido à Covid–19. Os culpados devem ser julgados exemplarme­nte”, disse.

Os vendedores alegam que o mercado terá sido vendido a um comerciant­e. Mas Mateus António, o suposto comprador, negou tal acusação e disse ser alvo de calúnia.

O administra­dor municipal, José Arão Nataniel, disse que estão a ser avaliados os danos materiais causados pela vandalizaç­ão das infra-estruturas de Caluquembe e que um novo local, com melhores condições já foi criado para instalar os vendedores.

“Estamos a tomar medidas exactas para que este caso não seja esquecido e que se puna severament­e as pessoas que lideraram este processo”

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