Voluntários produzem em Angola viseiras a partir de impressora 3D
A mobilização permitiu chegar "perto das 1000 viseiras fabricadas e distribuídas desde dois dias antes do início do Estado de Emergência", cujo primeiro período de 15 dias foi declarado a 27 de Março. O artigo é da agência Lusa.
Um grupo de voluntários juntou-se para fabricar viseiras com impressoras 3D, tendo distribuído já, gratuitamente, cerca de mil destes equipamentos essenciais para proteger quem está na linha da frente do combate à Covid-19.
Com uma impressora 3D montada a partir de um kit' que não custou mais de 90 mil kwanzas, Luís Querido, um dos mentores do projecto, produz em casa, diariamente, cerca de 50 viseiras que estão a ser distribuídas por hospitais e clínicas de Luanda.
Cada viseira, ou melhor, cada suporte demora cerca de meia hora a produzir. O especialista em recursos humanos escolheu um modelo já testado noutros países e usa um processo que facilita a construção da viseira propriamente dita: com o suporte já pronto, basta furar uma folha de acetato e encaixar.
Tudo começou com o fabrico caseiro de viseiras para distribuir pela família e amigos. A mulher de Luís, que trabalha numa unidade clínica de Luanda, foi a primeira contemplada. A partir daí, houve também pedidos dos amigos e Luís apercebeu-se que era “algo que faria falta a quem estava na linha da frente”.
Com o stock de matériaprima que tinha em casa, um bioplástico feito a partir de derivados de milho, Luís foi produzindo mais equipamentos e outros voluntários juntaram-se à causa.
Actualmente, além dos que trabalham com as
impressoras 3D, há quem ajude nas entregas e na logística, quem apoie na consultoria técnica e médica, quem contribua para angariar doações de materiais e outros recursos, sem sequer se conhecerem pessoalmente.
A mobilização permitiu chegar “perto das 1000 viseiras fabricadas e distribuídas desde dois dias antes do início do Estado de Emergência”, cujo primeiro período de 15 dias foi declarado a 27 de Março, acabando, entretanto, por ser renovado por igual período até 25 de Abril.
Ao todo, são cinco voluntários que dispõem de impressoras 3D e produzem entre 15 e 50 suportes de viseira por dia, posteriormente distribuídas num ‘kit’ completo de dez viseiras, que incluem os suportes, os acetatos e uma folha com o protocolo de esterilização a que devem ser submetidas para serem reutilizadas.
Além do material ser biodegradável, o fabrico é também pouco dispendioso, revela Luís Querido, estimando um custo inferior a 500 kwanzas.
O processo de impressão demora entre 15 a 60 minutos e foi optimizado por Luís Querido, para produzir dois suportes de cada vez, o que permitiu “vencer o obstáculo de ter poucas impressoras disponíveis”. Mesmo assim, os voluntários não têm mãos a medir. Já fizeram entregas em várias unidades hospitalares, incluindo ao Hospital do Prenda, de referência para tratamento da Covid19, e distribuíram material pelas equipas envolvidas na busca de casos activos, INEMA (Instituto Nacional de Emergências Médicas de Angola) e Bombeiros.
Luís Querido estima que só para as unidades de saúde as solicitações rondem as 5.000 viseiras. Por isso, a ambição dos voluntários é levar o projecto mais longe.
“Temos planos para industrializar o fabrico das viseiras”, o que permitiria passar da actual produção de 100 a 120 viseiras diárias para 4 ou 5 mil por dia, o que daria para proteger todos os profissionais de saúde, mas também agentes de segurança e outras pessoas envolvidas no contacto com o público.
Ganhando escala, Luís Querido admite que Angola poderia mesmo fornecer viseiras a outros países.
“Uma vez que a situação em Angola parece estar, felizmente, bastante controlada, seria óptimo que pudesse apoiar outros países da SADC (Comunidade de Desenvolvimento da África Austral) como a África do Sul, onde a pandemia continua a alastrar”, sugeriu.