Corda de compota de morango
Há uma corda
coberta de compota de morango. Esse foi um truque usado por uma equipa de investigadores que trabalha na região da Floresta Impenetrável de Bwindi, no Uganda, que incluiu a epidemiologista e veterinária da vida selvagem Tierra Smiley Evans, que usou essa corda para fazer com que os babuínos disponibilizassem facilmente a amostras de saliva. Eles adoraram.
“Eles mastigavam muito, como se fosse pastilha elástica, e depois cuspiam”, disse Smiley Evans, investigadora do Instituto de Saúde Davis One da Universidade da Califórnia, na Escola de Medicina Veterinária.
A saliva da corda e da compota cuspida forneceu a Smiley Evans e à sua equipa amostras para testar vírus, conhecidos ou desconhecidos, analisando semelhanças genéticas com famílias virais conhecidas. Essas informações podem ajudar os investigadores a entender quais os vírus que estão à espreita em populações específicas de animais e o risco para os seres humanos que vivem, caçam ou criam gado na proximidade desses animais. A ideia não é forçar as comunidades a mudar ou abandonar o seu estilo de vida, o que pode ser impraticável ou ineficaz, disse ela.
“Mas podemos ser muito mais inteligentes na forma como monitorizamos esses locais de alto risco e como garantimos que, se houver um evento de extravasação, investimos no treino dessas comunidades para que elas possam reconhecêlo .... e fazer com que o mundo saiba disso.”
Compreender os vírus em animais é apenas uma estratégia de batalha, destacam os especialistas. Saber que vírus estão realmente a saltar para os seres humanos e a deixá-los doentes - testando amplamente amostras de anticorpos ou famílias virais é uma linha inicial de defesa para impedir que se tornem pandémicos.
“Pode muito bem acontecer que doenças semelhantes à Covid-19 se tenham vindo a disseminar para os seres humanos há anos e, porque não temos muita coisa feita no que respeitaàvigilânciadasnossas populações, não as apanhámos", disse Sam Scarpino, professor assistente noNetworkScienceInstitute da Northeastern University.
“Assim, eu colocaria isso no topo da lista.”, defende Scarpino, que dirige um laboratório sobre epidemias emergentes que trabalha com agências de saúdepública,paraconstruir modelos para prever surtos e a sua disseminação.
Mas é impossível identificar quando um agente patogénico potencialmente pandémico extravasa dos animais para os seres humanos, disse Scarpino. Mesmo identificar as áreas de maior risco para doenças conhecidas é “incrivelmente desafiador”, acrescentou. Parte disso deve-se a preconceitos.
“Estamos focados, com alguma miopia, em partes da China e do Sudeste Asiático em relação ao surgimento de doenças e estamos a deixar de lado partes inteiras do mundo que possuem as mesmas assinaturas ambientais e factores de risco”, afirmou Scarpino.
Como exemplo, ele apontou para a disseminação da nova gripe do gado para indivíduos no centro dos EUA “quase todos os verões”.