E depois?
Se a tecnologia e os cientistas estão a perder com o corona, pior, como sempre, sobra mais para os pobres que não são culpados da pandemia, no caso concreto do nosso país, são o residual da cleptocracia, governança do roubo do dinheiro do povo, remetendo-o ao desemprego ou subemprego, correndo com populações de terras de propriedade ancestral e depois? Falam em picos e depois a descida de quê? O vírus vai embora como uma praga de gafanhotos? A verdade é que ninguém sabe o que vai acontecer. Será uma nova era, um recuo civilizacional ou um desvio? As pessoas vão continuar a ter medo de se abraçar, de se beijarem ou de se aproximarem? Vão manter o hábito de andar com máscara como já andavam os turistas japoneses em excursão muito antes do coronavírus? Mas para além das interrogações há certezas e a principal é a de que vai acontecer a maior recessão mundial. Sobre agora há quem define que se anda a fazer a “gestão da incerteza.” No entanto, observo da pequena varanda pessoas que andam a passear os cães de estimação que vivem melhor que muitos humanos... e os cães caminham admirados porque os donos andam com açaime no rosto...e depois como estarão de humores quando tirarem o açaime?
Sim. Quando chegar a grande recessão mundial? Mas é abrandamento, recessão ou depressão? Estes conceitos voltaram à tona de água com a pandemia quando é certo que o mundo já estava aos solavancos e líderes populistas deram de barato a necessidade do “ficar em casa” que na semântica da OMS é confinamento, como quantos morreram são óbitos, curados são recuperados e por aí. Repare-se que os países europeus com problemas de relacionamento interno ou internacional foram os mais afectados. A Itália com uma direita eurocéptica, a França com os coletes amarelos, a Espanha com uma oposição que fragmenta (devia aprender com Rui Rio em Portugal) ou a Inglaterra com a “epidemia” do Brexit que agora vai ser adiado ad eterno para complicações na Europa que já treme com a política de mutualidade que a Holanda começou por recusar e depois, do outro lado do mar, Trump que rejeitou a ciência, rebaixou a OMS e agora com uma no cravo e outra na ferradura quer salvar a América “acima de tudo,” e o outro, BolsoNero, adiantado mental, o trumpista brasileiro do conjunto da bossa velha que não tem nada com a bossa nova de Jobim “pois, quem nunca amou não merece ser amado.”
Antes da pandemia já havia abrandamento económico, crescimento mas com mais lentidão do que a esperada. Quando a economia encolhe estamos perante a recessão como aconteceu na crise de 2008-2009. A depressão económica é quando a recessão continua durante um período considerável, aumentando e marcando mais o seu impacto negativo.
É sabido que esta crise não é económica nem financeira pelo que ainda são omissos os ensinamentos universitários, o mundo está a tentar aprender com a crise para depois pensar a forma de debelar os seus efeitos que será a grande recessão com a mutação das solidariedades que correm no mundo e que depois da crise viral se poderão transformar em individualismos e egoísmos do salve-se quem puder, porque já estão aquartelados, no confinamento, exércitos de desempregados que vão engrossar as marchas sindicalistas, centenas de empresas que fecharam e não vão abrir mais, os bancos que terão de mudar de filosofia, o trato entre as pessoas, o medo, a delinquência, os assaltos, as escolas. Tudo isto não liga bem com diminuir o grau de confinamento para a economia, as pessoas se obrigarem a comportamentos que não sejam de risco.
Para a nossa Angola, temos a ambição dos investidores ocidentais, o neocolonialismo para um país que só com uma migalha do que a cleptocracia roubou poderia ter um sistema de saúde de alta qualidade com unidades de referência em cada província. A nossa imunidade vem desde os idos dos escravos para o Brasil, a resistência, a luta contra a tropa colonial, as lutas entre nós e a linha da frente que foi o princípio do fim do apartheid. E já começaram, por causa da pandemia, fenómenos de racismo e similares, pensando eu que no post vírus poderão aparecer loucos para uma terceira guerra mundial, a menos que se altere os estatutos das Nações Unidas, eliminando o direito de veto para que o mundo deixe de ter um patrão. E como será tratada a China e os chineses? Os restaurantes chineses e as lojas aqui na Europa vão diminuir a afluência?
Vamos a ver quando se tirarem os açaimes...o comércio, a especulação, o desporto e a arte. Mas para dar um pouco de energia positiva a esta crónica foram os artistas e desportistas profissionais que mais se entregaram na ajuda à luta contra o coronavírus, o que não espanta. E, na Itália, a máfia tem ajudado muito.
À distância e de saudade, só imagino a unidade do nosso povo tão habituado a dias piores que não era agora que podemos perder. Vamos retomar a fazer o que está bem. Vamos ganhar!
Para a nossa Angola, temos a ambição dos investidores ocidentais, o neocolonialismo para um país que só com uma migalha do que a cleptocracia roubou poderia ter um sistema de saúde de alta qualidade com unidades de referência em cada província