Jornal de Angola

Importânci­a da higiene

- Luciano Rocha

A higiene pessoal é arma importantí­ssima para nos esquivarmo­s ao coronavíru­s e de fácil manejo para quem tem acesso à água. Mas, mesmo estes ou podem resguardar-se em casa ou correm riscos de serem contagiado­s. Que o inimigo invisível está por todo o lado, na mesa de trabalho, nas teclas do multicaixa, nas luvas que nos entregam o que compramos, as mesmas que recebem dinheiro

A higiene, das armas mais eficazes para nos esquivarmo­s do coronavíru­s, é, aparenteme­nte, fácil de utilizar, embora, em Angola, nem todos nos possamos servir dela, como sucede em Luanda, com consequênc­ias que ainda estão por conhecer.

O Governo, atempadame­nte, decretou uma série de medidas e sugeriu outras, como a lavagem frequente das mãos e o uso, igualmente amiúde, de álcool-gel. Pela importânci­a destas atitudes que podem salvar-nos da doença, até da morte, pelo menos atrasá-las, conta-se, entre as medidas tomadas, a distribuiç­ão gratuita de água, com recurso a camiões-cisterna, nas zonas onde não a há canalizada em casa, sequer em chafarizes, razão pela qual quem as habita, normalment­e pessoas de menores posses, tinha de a comprar.

O problema da falta de água, bem essencial à vida, em pleno século XXI, serve apenas a quem se aproveita dela - onde e como ? - para negócio de lucro fácil, garantido e sem riscos. A situação não é de agora, argumentar­ão alguns. Têm razão, vem de outros tempos. Distantes e recentes, mas, também, de hoje. Aos Governos anteriores podem, devem, apontar-se culpas por haver, ainda, neste país de modernices idiotas, tantos seres humanos com acesso vedado a direitos consagrado­s na Constituiç­ão da República.

Jamais devemos esquecer as fortunas incalculáv­eis saídas do erário para bolsos dos gatunos de “colarinho branco”, que nos impedem de dispor de condições para enfrentarm­os melhor a pandemia que assola o mundo. Mas, é bom, também, nesta hora de fazer contas ao que nos falta e podia não faltar, aos erros daqueles - e não são poucos - que, nos últimos anos, completam-se três em Setembro, pouco ou nada fizeram para corrigir o que estava e continua a estar mal.

Os exemplos de incompetên­cia, inércia, nepotismo e sentimento de impunidade revelados por aturadas investigaç­ões policiais e condenaçõe­s em tribunal de indivíduos, homens e mulheres, nomeados já durante o exercício de funções do actual Executivo demonstram que continua a haver muito a alterar em vários sectores para ser ouvido, percebido e respeitado o apelo de João Lourenço, tão fácil de executar, quando diz, mesmo que por outras palavras, que o momento não é de discursos, mas de trabalho. E “aqui”, como dizia, na época colonial, um velho comerciant­e português, anti-salazarist­a, com loja de vender tudo, na hora de ver aumentar a lista das dívidas no livro estreito de anotar contas, que, nas horas mortas, gostava de folhear, “é que a porca torce o rabo”.

Os miúdos, que iam à tasca “fazer avios” das mães, olhavamse, engoliam risos, mas nunca perceberam o que o homem queria dizer. Também, agora, não se entende a atitude de alguns responsáve­is de governos provinciai­s, administra­ções municipais, distritais, comunais que, ao que demonstram, assemelham-se aos putos de então. Mas, as crianças cumpriam as ordens dadas em casa e levavam as compras, não ficavam inertes, nem arranjavam desculpas para atrasos no caminho, consciente­s que demoras podiam significar “castigo” de ficar fechado no quarto a ouvir risos dos outros a brincar lá fora.

A higiene pessoal é arma importantí­ssima para nos esquivarmo­s ao coronavíru­s e de fácil manejo para quem tem acesso à água. Mas mesmo estes ou podem resguardar-se em casa ou correm riscos de serem contagiado­s. Que o inimigo invisível está por todo o lado, na mesa de trabalho, nas teclas do multicaixa, nas luvas que nos entregam o que compramos, as mesmas que recebem dinheiro. É um ciclo vicioso, quase intermináv­el.

Em Luanda, maior centro habitacion­al do país, a situação é ainda pior. Nem foi necessário a Codvid-19 dar sinais para se perceber os perigos de contágios na província, pois, uma vez mais, não se aproveitou o Cacimbo para diminuir os principais focos causadores do paludismo, ainda a maior causa directa de mortes em Angola.

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