Importância da higiene
A higiene pessoal é arma importantíssima para nos esquivarmos ao coronavírus e de fácil manejo para quem tem acesso à água. Mas, mesmo estes ou podem resguardar-se em casa ou correm riscos de serem contagiados. Que o inimigo invisível está por todo o lado, na mesa de trabalho, nas teclas do multicaixa, nas luvas que nos entregam o que compramos, as mesmas que recebem dinheiro
A higiene, das armas mais eficazes para nos esquivarmos do coronavírus, é, aparentemente, fácil de utilizar, embora, em Angola, nem todos nos possamos servir dela, como sucede em Luanda, com consequências que ainda estão por conhecer.
O Governo, atempadamente, decretou uma série de medidas e sugeriu outras, como a lavagem frequente das mãos e o uso, igualmente amiúde, de álcool-gel. Pela importância destas atitudes que podem salvar-nos da doença, até da morte, pelo menos atrasá-las, conta-se, entre as medidas tomadas, a distribuição gratuita de água, com recurso a camiões-cisterna, nas zonas onde não a há canalizada em casa, sequer em chafarizes, razão pela qual quem as habita, normalmente pessoas de menores posses, tinha de a comprar.
O problema da falta de água, bem essencial à vida, em pleno século XXI, serve apenas a quem se aproveita dela - onde e como ? - para negócio de lucro fácil, garantido e sem riscos. A situação não é de agora, argumentarão alguns. Têm razão, vem de outros tempos. Distantes e recentes, mas, também, de hoje. Aos Governos anteriores podem, devem, apontar-se culpas por haver, ainda, neste país de modernices idiotas, tantos seres humanos com acesso vedado a direitos consagrados na Constituição da República.
Jamais devemos esquecer as fortunas incalculáveis saídas do erário para bolsos dos gatunos de “colarinho branco”, que nos impedem de dispor de condições para enfrentarmos melhor a pandemia que assola o mundo. Mas, é bom, também, nesta hora de fazer contas ao que nos falta e podia não faltar, aos erros daqueles - e não são poucos - que, nos últimos anos, completam-se três em Setembro, pouco ou nada fizeram para corrigir o que estava e continua a estar mal.
Os exemplos de incompetência, inércia, nepotismo e sentimento de impunidade revelados por aturadas investigações policiais e condenações em tribunal de indivíduos, homens e mulheres, nomeados já durante o exercício de funções do actual Executivo demonstram que continua a haver muito a alterar em vários sectores para ser ouvido, percebido e respeitado o apelo de João Lourenço, tão fácil de executar, quando diz, mesmo que por outras palavras, que o momento não é de discursos, mas de trabalho. E “aqui”, como dizia, na época colonial, um velho comerciante português, anti-salazarista, com loja de vender tudo, na hora de ver aumentar a lista das dívidas no livro estreito de anotar contas, que, nas horas mortas, gostava de folhear, “é que a porca torce o rabo”.
Os miúdos, que iam à tasca “fazer avios” das mães, olhavamse, engoliam risos, mas nunca perceberam o que o homem queria dizer. Também, agora, não se entende a atitude de alguns responsáveis de governos provinciais, administrações municipais, distritais, comunais que, ao que demonstram, assemelham-se aos putos de então. Mas, as crianças cumpriam as ordens dadas em casa e levavam as compras, não ficavam inertes, nem arranjavam desculpas para atrasos no caminho, conscientes que demoras podiam significar “castigo” de ficar fechado no quarto a ouvir risos dos outros a brincar lá fora.
A higiene pessoal é arma importantíssima para nos esquivarmos ao coronavírus e de fácil manejo para quem tem acesso à água. Mas mesmo estes ou podem resguardar-se em casa ou correm riscos de serem contagiados. Que o inimigo invisível está por todo o lado, na mesa de trabalho, nas teclas do multicaixa, nas luvas que nos entregam o que compramos, as mesmas que recebem dinheiro. É um ciclo vicioso, quase interminável.
Em Luanda, maior centro habitacional do país, a situação é ainda pior. Nem foi necessário a Codvid-19 dar sinais para se perceber os perigos de contágios na província, pois, uma vez mais, não se aproveitou o Cacimbo para diminuir os principais focos causadores do paludismo, ainda a maior causa directa de mortes em Angola.