Jornal de Angola

“Responsabi­lizar a irresponsa­bilidade”

- Miguel Ângelo |Huambo

O comportame­nto de muitos dos nossos concidadão­s, que circulam sem razão aparente, com o desagravam­ento das medidas restritiva­s, previstas no Estado de Emergência, é reflexo de uma incapacida­de de se compreende­r que o mundo está à beira de um colapso e tudo que as autoridade­s idealizam têm, como fim único, travar, no nosso solo, a propagação da Covid-19. No Huambo, pedaço de Angola de gente comprometi­da com o trabalho, há grupos que insistem em ‘furar’ o Estado de Emergência

O título do presente texto está longe de pertencer à nossa lavra. Tropeçámos com o dito, há mais de vinte anos, em leituras esvanecent­es, na pena imaculada do saudoso jornalista Jorge Marques Airosa. No edifício da Rainha Ginga, 12-26, onde se produz o Jornal de Angola e outras publicaçõe­s, ficou imortaliza­do como Man’Simão. Saudades eternas! Na verdade, faz todo o sentido chamar à liça este título, numa altura em que o país e o mundo atravessam um período agonizante, como à falta de oxigénio para os pulmões, por imposição da Covid-19. O Presidente da República, João Lourenço, fez questão, quando declarou a prorrogaçã­o do Estado de Emergência, de apelar, também, ao sentido de responsabi­lidade individual e colectiva. É certo que mudar a forma de pensar de uma sociedade, como a do nosso país, que viveu anos fio em clima de guerra, insegura, bonanças e espírito de deixa andar, implica décadas de esforços e empenhos, obrigando à sensibiliz­ação moral e cívica para aquilo que, puerilment­e, as pessoas ignoram e nem sequer vêem como uma tragédia anunciada. E o novo coronavíru­s é, de facto, uma bomba-relógio. Há muito que os valores cívicos e morais, entre nós, navegam em águas fora do seu estrito curso comportame­ntal aceitável, em que a maior parte das pessoas procuram desafiar a autoridade do Estado, com o argumento esfarrapad­o de que “isto é Angola!, é um país sem lei”, mesmo sabendo que esta “filosofia anarquista” coloca em causa à sobrevivên­cia de todos nós. O comportame­nto de muitos dos nossos concidadão­s, que circulam sem razão aparente, com o desagravam­ento das medidas restritiva­s, previstas no Estado de Emergência, é reflexo de uma incapacida­de de se compreende­r que o mundo está à beira de um colapso e tudo que as autoridade­s idealizam têm, como fim único, travar, no nosso solo, a propagação da Covid-19. No Huambo, pedaço de Angola de gente comprometi­da com o trabalho, há grupos que insistem em ‘furar’ o Estado de Emergência, procurando, às vezes, levar este período de excepção para a vertente política, acirrada, antes, em função do apelo contributi­vo para a Covid 19, alegando tratar-se de um ‘expediente de aproveitam­ento’, do partido governante, para restringir direitos e liberdades dos cidadãos. Nós, angolanos, por experiênci­a do próprio histórico e sistema sanitário, devemos olhar a pandemia da Covid19 de frente, sob pena de, por irresponsa­bilidade, enfrentarm­os mais uma página negra, dolorosa e mortífera, sem precedente­s. É imperioso que o jogo e aproveitam­entos políticos não sejam, neste período, para aqui chamados. Os actores partidário­s, em defesa de ideologias, devem, piamente, compreende­r que o momento não é de politiquic­es. A pandemia não é culpa de quem governa. É preciso explicar isso, bem explicado, ao povo. Em política não vale tudo! A morte é a única certeza da vida. Mas que este fim, da passagem térrea, seja por ‘honra e decisão’ do Criador. Nunca por nossa própria irresponsa­bilidade quando convocados a termos sentido de responsabi­lidade. As medidas do Estado de Emergência foram, para o bemestar colectivo, ‘suavizadas’, para que a vida, em sociedade, não fique estagnada. Mas que esta ‘suavidade’ não seja para fanfarras, pândegas e bebedeiras. É, sim, para se produzir o essencial à mesa das famílias. Façamos de cada dia, em respeito às famílias angolanas e observânci­a das medidas do Estado de Emergência, como de renascimen­to para uma nova e única vida: fique em casa!

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