“Responsabilizar a irresponsabilidade”
O comportamento de muitos dos nossos concidadãos, que circulam sem razão aparente, com o desagravamento das medidas restritivas, previstas no Estado de Emergência, é reflexo de uma incapacidade de se compreender que o mundo está à beira de um colapso e tudo que as autoridades idealizam têm, como fim único, travar, no nosso solo, a propagação da Covid-19. No Huambo, pedaço de Angola de gente comprometida com o trabalho, há grupos que insistem em ‘furar’ o Estado de Emergência
O título do presente texto está longe de pertencer à nossa lavra. Tropeçámos com o dito, há mais de vinte anos, em leituras esvanecentes, na pena imaculada do saudoso jornalista Jorge Marques Airosa. No edifício da Rainha Ginga, 12-26, onde se produz o Jornal de Angola e outras publicações, ficou imortalizado como Man’Simão. Saudades eternas! Na verdade, faz todo o sentido chamar à liça este título, numa altura em que o país e o mundo atravessam um período agonizante, como à falta de oxigénio para os pulmões, por imposição da Covid-19. O Presidente da República, João Lourenço, fez questão, quando declarou a prorrogação do Estado de Emergência, de apelar, também, ao sentido de responsabilidade individual e colectiva. É certo que mudar a forma de pensar de uma sociedade, como a do nosso país, que viveu anos fio em clima de guerra, insegura, bonanças e espírito de deixa andar, implica décadas de esforços e empenhos, obrigando à sensibilização moral e cívica para aquilo que, puerilmente, as pessoas ignoram e nem sequer vêem como uma tragédia anunciada. E o novo coronavírus é, de facto, uma bomba-relógio. Há muito que os valores cívicos e morais, entre nós, navegam em águas fora do seu estrito curso comportamental aceitável, em que a maior parte das pessoas procuram desafiar a autoridade do Estado, com o argumento esfarrapado de que “isto é Angola!, é um país sem lei”, mesmo sabendo que esta “filosofia anarquista” coloca em causa à sobrevivência de todos nós. O comportamento de muitos dos nossos concidadãos, que circulam sem razão aparente, com o desagravamento das medidas restritivas, previstas no Estado de Emergência, é reflexo de uma incapacidade de se compreender que o mundo está à beira de um colapso e tudo que as autoridades idealizam têm, como fim único, travar, no nosso solo, a propagação da Covid-19. No Huambo, pedaço de Angola de gente comprometida com o trabalho, há grupos que insistem em ‘furar’ o Estado de Emergência, procurando, às vezes, levar este período de excepção para a vertente política, acirrada, antes, em função do apelo contributivo para a Covid 19, alegando tratar-se de um ‘expediente de aproveitamento’, do partido governante, para restringir direitos e liberdades dos cidadãos. Nós, angolanos, por experiência do próprio histórico e sistema sanitário, devemos olhar a pandemia da Covid19 de frente, sob pena de, por irresponsabilidade, enfrentarmos mais uma página negra, dolorosa e mortífera, sem precedentes. É imperioso que o jogo e aproveitamentos políticos não sejam, neste período, para aqui chamados. Os actores partidários, em defesa de ideologias, devem, piamente, compreender que o momento não é de politiquices. A pandemia não é culpa de quem governa. É preciso explicar isso, bem explicado, ao povo. Em política não vale tudo! A morte é a única certeza da vida. Mas que este fim, da passagem térrea, seja por ‘honra e decisão’ do Criador. Nunca por nossa própria irresponsabilidade quando convocados a termos sentido de responsabilidade. As medidas do Estado de Emergência foram, para o bemestar colectivo, ‘suavizadas’, para que a vida, em sociedade, não fique estagnada. Mas que esta ‘suavidade’ não seja para fanfarras, pândegas e bebedeiras. É, sim, para se produzir o essencial à mesa das famílias. Façamos de cada dia, em respeito às famílias angolanas e observância das medidas do Estado de Emergência, como de renascimento para uma nova e única vida: fique em casa!