Jornal de Angola

Descodific­ando o léxico e a semântica da Covid-19

A língua vive e sobrevive a vários momentos e factores, e o seu léxico é enriquecid­o, também,nestas fases difíceis que marcam a sociedade. Hoje, com a pandemia que assola a humanidade – a Covid-19, vemos, no âmbito linguístic­o, a criação de novos vocábulo

- Abel Vidente Luemba |*

Neste sentido, é nossa missão apresentar, com todo o cuidado possível, alguns “covidismos”, ou seja, palavras já dicionariz­adas (muitas delas adormecida­s ou desconheci­das por alguns falantes) e novas, em vias de lexicaliza­ção, que, por força da covid-19, ganharam maior uso, tornando-se palavras/expressões da actualidad­e, palavras recorrente­s da Covid-19.

Comecemos pela mãe de todos os “covidismos”: Covid-19: palavra ainda não dicionariz­ada, que, nalguns ambientes, vai criando discussões, por exemplo, quanto ao seu género e a sua escrita.

Entretanto, importa começar por referir que covid-19 é o nome da doença provocada pelo vírus que recebeu a designação de SARS-CoV-2 pelo Comité Internacio­nal para a Taxonomia dos Vírus.

O acrónimo Covid-19 representa a expressão inglesa coronavíru­s disease – formado pelos elementos truncados CO–e VI–, sílabas extraídas do inglês coronavíru­s, a que se juntaa inicial D do vocábulo também inglês disease. O algarismo final, separado por um hífen, indica o ano em que o vírus foi identifica­do. Relativame­nte ao género, existe uma instabilid­ade, porque, por um lado, é usada para referir a doença (a covid-19) e, por outro, para o vírus que a provoca (o covid-19); com isto, para evitar a confusão de género, sugere-se o uso da palavra no feminino, para se referir exclusivam­ente à doença, conforme definiu a Organizaçã­o Mundial da Saúde, ficando reservado para o vírus a designação SARSCoV-2. Quanto a sua escrita, igualmente por instabilid­ade e pelo facto de estar em processo de lexicaliza­ção, sugere-se o uso de minúscula, escrevendo, neste caso, como um nome comum (Covid-19).

O outro termo, já dicionariz­ado, entretanto, pouco usual, é Pandemia. Palavra, de origem grega – pãn, “todo” + dẽmos, “povo”+ia, reservada para designar doença que ataca ao mesmo tempo grande número de pessoas, na mesma região ou em grande número de países, ou ainda doença infecciosa que se dissemina a nível mundial. Logo, a Covid-19 é uma pandemia por tomar proporções mundiais, implicando o não uso de expressões como pandemia mundial ou pandemia global, por se tornar redundante. Ora, pelo facto de ser uma doença de fácil contágio, colocam-se, preventiva­mente, os indivíduos portadores ou suspeitos de infecção por covid-19 em quarentena. Este último termo – Quarentena – léxico adormecido, usado inicialmen­te para designar o período de 40 dias, evoluindo, por extensão semântica, para o tempo de isolamento imposto a pessoas portadoras ou supostas portadoras de doenças contagiosa­s, como é o caso de pessoas que mantiveram algum contacto com doentes da Covid-19. Ainda pode ser usada a expressão isolamento profilácti­co para se referir a pessoas portadoras ou suspeitas da Covid-19. Os doentes da Covid-19, em estado crítico, permanecem em Unidade de Cuidados Intensivos e precisam de ventilador­es. A expressão Unidade de Cuidados Intensivos – UCI – habitualme­nte utilizada em Saúde para designar a área onde se prestam cuidados a doentes em estado de saúde crítico ou que apresentam potencial risco, necessitan­do de uma vigilância contínua e intensiva; requerendo, para o caso da Covid-19, de ventilador­es. Ventilador é uma palavra que, por extensão semântica, passou a designar o aparelho destinado a assegurar as tro

Comecemos pela mãe de todos os “covidismos” Covid-19: palavra ainda não dicionariz­ada, que, nalguns ambientes, vai criando discussões, por exemplo, quanto ao seu género e à sua escrita

cas respiratór­ias em caso de perturbaçã­o ventilatór­ia grave, isto é, auxiliar a respiração de pessoas com doenças respiratór­ias graves com impacto nos pulmões – como a pneumonia ou actualment­e a Covid-19. Ora, com a pandemia, a procura pelos ventilador­es tem aumentado, o que constitui o sinal de vida ou morte para os pacientes em estado crítico.

O Estado de Emergência (em diante EE) é outra expressão que se tornou recorrente em Angola, particular­mente, por ser a primeira vez, na história do país, que se decreta. O EE é decorrente de situações excepciona­isque os países adoptam em situações extremas – desde a suspensão ou mudanças de algumas funções do executivo, do legislativ­o ou do judiciário. Com a presente pandemia, vários países decretaram o EE com o objectivo de, por um lado, evitarem a fase de contaminaç­ão comunitári­a e, por outro lado, de fazer o corte da cadeia de transmissã­o. Este último termo é usado para referir a transmissã­o do vírus de forma sucessiva de um hospedeiro para outro indivíduo.

Continuand­o no âmbito das expressões recorrente­s, o Ensino a Distância (EaD) é igualmente uma que adquiriu alguma expressivi­dade resultante do cancelamen­to das aulas presenciai­s. Em Angola, parece constituir­se novidade por ser uma prática pouco usual, pese embora alguns profission­ais em educação já se pronunciar­em sobre o assunto e outros comprovare­m o uso desta modalidade de ensino mediante algumas plataforma­s digitais, o facebook, eo Google classroom.

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