Descodificando o léxico e a semântica da Covid-19
A língua vive e sobrevive a vários momentos e factores, e o seu léxico é enriquecido, também,nestas fases difíceis que marcam a sociedade. Hoje, com a pandemia que assola a humanidade – a Covid-19, vemos, no âmbito linguístico, a criação de novos vocábulo
Neste sentido, é nossa missão apresentar, com todo o cuidado possível, alguns “covidismos”, ou seja, palavras já dicionarizadas (muitas delas adormecidas ou desconhecidas por alguns falantes) e novas, em vias de lexicalização, que, por força da covid-19, ganharam maior uso, tornando-se palavras/expressões da actualidade, palavras recorrentes da Covid-19.
Comecemos pela mãe de todos os “covidismos”: Covid-19: palavra ainda não dicionarizada, que, nalguns ambientes, vai criando discussões, por exemplo, quanto ao seu género e a sua escrita.
Entretanto, importa começar por referir que covid-19 é o nome da doença provocada pelo vírus que recebeu a designação de SARS-CoV-2 pelo Comité Internacional para a Taxonomia dos Vírus.
O acrónimo Covid-19 representa a expressão inglesa coronavírus disease – formado pelos elementos truncados CO–e VI–, sílabas extraídas do inglês coronavírus, a que se juntaa inicial D do vocábulo também inglês disease. O algarismo final, separado por um hífen, indica o ano em que o vírus foi identificado. Relativamente ao género, existe uma instabilidade, porque, por um lado, é usada para referir a doença (a covid-19) e, por outro, para o vírus que a provoca (o covid-19); com isto, para evitar a confusão de género, sugere-se o uso da palavra no feminino, para se referir exclusivamente à doença, conforme definiu a Organização Mundial da Saúde, ficando reservado para o vírus a designação SARSCoV-2. Quanto a sua escrita, igualmente por instabilidade e pelo facto de estar em processo de lexicalização, sugere-se o uso de minúscula, escrevendo, neste caso, como um nome comum (Covid-19).
O outro termo, já dicionarizado, entretanto, pouco usual, é Pandemia. Palavra, de origem grega – pãn, “todo” + dẽmos, “povo”+ia, reservada para designar doença que ataca ao mesmo tempo grande número de pessoas, na mesma região ou em grande número de países, ou ainda doença infecciosa que se dissemina a nível mundial. Logo, a Covid-19 é uma pandemia por tomar proporções mundiais, implicando o não uso de expressões como pandemia mundial ou pandemia global, por se tornar redundante. Ora, pelo facto de ser uma doença de fácil contágio, colocam-se, preventivamente, os indivíduos portadores ou suspeitos de infecção por covid-19 em quarentena. Este último termo – Quarentena – léxico adormecido, usado inicialmente para designar o período de 40 dias, evoluindo, por extensão semântica, para o tempo de isolamento imposto a pessoas portadoras ou supostas portadoras de doenças contagiosas, como é o caso de pessoas que mantiveram algum contacto com doentes da Covid-19. Ainda pode ser usada a expressão isolamento profiláctico para se referir a pessoas portadoras ou suspeitas da Covid-19. Os doentes da Covid-19, em estado crítico, permanecem em Unidade de Cuidados Intensivos e precisam de ventiladores. A expressão Unidade de Cuidados Intensivos – UCI – habitualmente utilizada em Saúde para designar a área onde se prestam cuidados a doentes em estado de saúde crítico ou que apresentam potencial risco, necessitando de uma vigilância contínua e intensiva; requerendo, para o caso da Covid-19, de ventiladores. Ventilador é uma palavra que, por extensão semântica, passou a designar o aparelho destinado a assegurar as tro
Comecemos pela mãe de todos os “covidismos” Covid-19: palavra ainda não dicionarizada, que, nalguns ambientes, vai criando discussões, por exemplo, quanto ao seu género e à sua escrita
cas respiratórias em caso de perturbação ventilatória grave, isto é, auxiliar a respiração de pessoas com doenças respiratórias graves com impacto nos pulmões – como a pneumonia ou actualmente a Covid-19. Ora, com a pandemia, a procura pelos ventiladores tem aumentado, o que constitui o sinal de vida ou morte para os pacientes em estado crítico.
O Estado de Emergência (em diante EE) é outra expressão que se tornou recorrente em Angola, particularmente, por ser a primeira vez, na história do país, que se decreta. O EE é decorrente de situações excepcionaisque os países adoptam em situações extremas – desde a suspensão ou mudanças de algumas funções do executivo, do legislativo ou do judiciário. Com a presente pandemia, vários países decretaram o EE com o objectivo de, por um lado, evitarem a fase de contaminação comunitária e, por outro lado, de fazer o corte da cadeia de transmissão. Este último termo é usado para referir a transmissão do vírus de forma sucessiva de um hospedeiro para outro indivíduo.
Continuando no âmbito das expressões recorrentes, o Ensino a Distância (EaD) é igualmente uma que adquiriu alguma expressividade resultante do cancelamento das aulas presenciais. Em Angola, parece constituirse novidade por ser uma prática pouco usual, pese embora alguns profissionais em educação já se pronunciarem sobre o assunto e outros comprovarem o uso desta modalidade de ensino mediante algumas plataformas digitais, o facebook, eo Google classroom.