Idosos conscientes apostam na prevenção
Os números demonstram que o novo coronavírus é, especialmente, letal quando infecta pessoas mais velhas. E, entre nós, muitas pessoas da terceira idade sabem-no bem, razão por que muitos são tomados pelo temor de um inimigo invisível que pode estar na esq
Carlos Cordeiro, 68 anos, é uma das pessoas que defende que o melhor mesmo “é proteger-se”.Com o corpo ainda embrulhado pelo vigor, apesar da idade, afirma que ficar em casa “não deve cansar”e que qualquer cansaço “deve ser vencido pela paciência”.
Treinador da equipa de futebol infantil Os Cordeirinhos, entende que “o melhor mesmo é preservar a vida”, o que o leva a cumprir as orientações do Governo.
Carlos Cordeiro acredita que “não se pode abusar da sorte”e chama a atenção para os mais velhos que têm doenças que os colocam no grupo de risco.
“É sempre bom cumprir com as orientações das autoridades, para evitar o pior”, diz.
Ana José, 66 anos,luta há muito para vencer uma infecção pulmonar. Ela diz haver motivos mais do que suficientes para se resguardar de um “outro confronto” que lhe pode ser fatal, uma vez que faz parte das estatísticas das pessoas que constituem o grupo de risco na pandemia da Covid-19.
O consumo de frutas e verduras é apontado por Ana José como uma forma de fortificar o seu sistema imunológico, uma vez que a literatura médica revela que o organismo sofre uma deterioração por causa do envelhecimento, deixando o corpo mais susceptível a infecções oportunistas.
Para Ana José, confinarse em casa é a medida certa, bem como a aposta nas medidas de higiene recomendadas para a prevenção de uma possível infecção por conta do novo coronavírus. Lavar sempre as mãos com água e sabão. Uma medida tão simples, um pregão que se ouve todos os dias, e que a sexagenária sabe que pode ser decisiva para não ser vencida por um inimigo traiçoeiro, que chega silencioso e que rapidamente traga a humanidade. E quando falta o sabão, a mais-velha recorre à lixívia para a desinfecção das mãos.
Ana José sabe que a doença é perigosa, por isso lamenta quem a ignora, ao mesmo tempo que apela à adesão ao isolamento social.
Recolhida em casa, diz buscar o rosto de Deus, socorrendo-se das palavras de Jesus Cristo, segundo as quais “onde estiverem duas ou mais pessoas reunidas em meu nome, eu estarei com elas”. E Ana acredita.Por isso ora, a pedir ao Altíssimo que olhe para o mundo inteiro, “porque Ele é a nossa protecção”.
“Deus vai cuidar”
O mais velho Francisco Evaristo, comerciante de 70 anos, também se agarra a Deus como consolo, pois, no seu entender,“é Ele quem vai nos cuidar”, ao mesmo tempo que olha para o isolamento social como a principal medida para se proteger de um eventual ataque do novo coronavírus.
“Só saio para ir ao banco levantar dinheiro. A minha filha é quem vai às compras”, conta.
“O isolamento social, imposto pelo Estado de Emergência que vigora em Angola, não pode ser motivo para reforçar a vida sedentária, quase que vegetativa, de muitos idosos”, realça o psicólogo clínico Alziro Chipuka.
O especialista sugere actividades lúdicas e mais diálogo com os mais velhoscomo terapia social e ocupacional. Essa é, segundo afirma, uma das soluções “para manter a sua mentalidade forte” e os afastar de um volume “de informações negativas que lhes podem causar estress e ansiedade”, já que são apontados como os mais vulneráveis.
A leitura é o hobby escolhido por Carlos Cordeiro “para manter a saúde mental, para além de correr de manhã e fazer exercícios físicos para manter também a saúde física”.
Carlos Cordeiro, na sua humildade, assegura que se lhe for proibido continuar a correr de manhã cedo pelas ruas do Cazenga, por necessidade de cumprir o isolamento social, há-de conformar-se. “Como bons cidadãos, somos obrigados a cumprir as medidas de prevenção contra a pandemia da Covid-19”, assegura.
Alziro Chipuka entende que o tempo de isolamento social pode ser bom para os idosos, “uma vez que a família está unida e os seus membros devem cuidar-se uns aos outros”.
Só assim, defende o psicólogo clínico, “vai-se garantir que as bibliotecas vivas se mantenham em pé”.