Risco de contaminação é real na “Mamã Gorda”
Cidadãos de Luanda, nomeadamente do município de Viana, aproveitaram o dia de ontem, o primeiro em que os mercados abriram, depois de mais uma prorrogação do Estado de Emergência, para abastecerem-se de bens alimentares.
Nos armazéns da “Mamã Gorda”, nas imediações do bairro Estalagem, em Viana, onde também funciona um pequeno mercado informal, registou-se uma enchente fora do normal.
As recomendações para que haja um distanciamento de pelo menos um metro não estavam a ser cumpridas. Na procura pelos bens essenciais, as pessoas roçavam-se facilmente. Muitas delas não usavam máscaras, sequer tinham calçadas as luvas, meios que visam a prevenção contra o coronavirus, que, até segunda-feira, já provocou, para o país, a infecção de 27 pessoas, das quais um caso por transmissão local.
“Mano, Deus é que está a nos proteger, porque senão muitos de nós já estaríamos infectados”, considerou Joana Gonçalves, que se deslocou aos armazéns da Mamã Gorda para abastecer a arca de frescos. “Assim mesmo como é que não vamos ficar contaminados?”, questionou a dona de casa, que usava uma máscara de cor verde, feita por um alfaiate.
Questinada sobre se não temia uma eventual contaminação, no meio daquela enchente, Joana respondeu positivamente, retorquindo que não teve outra saída porque em casa quase que já não havia nada para comer. “Saco vazio não fica em pé, por isso saímos. Estamos a entregar tudo na mão do Senhor”, afirmou Joana, apelando à protecção Divina.
Apesar das compras, Joana Gonçalves, que estava acompanhada da comadre, Domingas Magalhães, ficou preocupada com os preços encontrados nos armazéns da Mamã Gorda. “Os preços estão a subir a cada dia que passa”, queixou-se.
Uma caixa de peixe que antes da declaração do Estado de Emergência custava 17 mil kwanzas ontem estava a 28 mil, o mesmo preço que é comercializada a caixa de febras, que custava 15 mil. A de costeletas era 10 mil kwanzas, agora está entre 18 e 19 mil, dependendo do tamanho. A caixa de coxa de frango custa agora 10 mil, contra os anteriores cinco mil kwanzas.
“Se não fossem as sócias (prática em que duas ou mais pessoas juntam dinheiro para comprar uma caixa de um determinado produto e depois reparti-lo), não sei como iríamos fazer. Mesmo assim, estas compras não sei se vão chegar até ao fim do mês (de Maio)”, disse Domingas Magalhães, apontando para os sacos de compras.
Trânsito lento
Devido à enchente, o trânsito automóvel também esteve congestionado na área da Mamã Gorda, no sentido Estalagem-Viana.
A lentidão no movimento de viaturas era justificada com o facto de os automobilistas que estavam a fazer compras terem ocupado duas faixas de rodagem no sentido Luanda-Viana. Agentes reguladores de trânsito faziam o que podiam para manter a ordem.
Alguns taxistas aproveitavam para encurtar as distâncias e aumentar o preço da corrida. Por isso, as paragens também estavam apinhadas de gente, sobretudo compradores.
Havia taxistas, nomeadamente condutores de turismos, que chegavam a cobrar pelo(a) passageiro(a)s e a carga 1.500 kwanzas, entre a Estalagem e a paragem da Ponte Partida, numa distância de cerca de um quilómetro.
“Tive de ligar ao meu marido para vir à nossa busca, porque senão não sei como iríamos sair daqui com estes sacos”, disse Joana Gonçalves, moradora do bairro Kapalanga, nas proximidades da Universidade Jean Piaget, enquanto esperava impaciente pelo companheiro.