Cortes de 23% na produção começa já hoje
Consenso da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e os não membros do “cartel” para suster a actual onda de queda de preços no sector implica cortes acentuados na produção petrolífera angolana
O acordo entre a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e os países não membros do “cartel”, para suster a queda de preços, começa hoje. As partes dão, assim, início a cortes de 23 por cento na produção petrolífera.
Entra hoje em vigor o acordo entre a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e os países não-membros do “cartel” para suster a actual onda de queda de preços no sector, que acabou por ser ajudada pela “guerra de preços” entre a Arábia Saudita e a Rússia, que durou 31 dias, agora agudizada pelas implicações do novo coronavírus na economia global.
O consenso dos conhecidos OPEP+ permite retirar das quotas até ontem praticadas um total de 9,7 milhões de barris de petróleo por dia, que corresponde a 23% da quota de cada país, mas a eficácia dos termos da concórdia carece muito da vontade de os outros países produtores e exportadores independentes de petróleo reduzirem, de forma unilateral e influenciados pelos Estados Unidos, os adicionais 9,4 milhões de barris de petróleo dia da mercadoria que estes injectam sem qualquer regra.
O corte na produção de 23% decidido a 9 de Abril passado, para todos os Estados signatários do acordo, tem como referência o histórico de 10 de Outubro de 2018, e deixa Angola com a quota de 1,180 milhões de barris de petróleo por dia, contra os anteriores 1,528 milhões de barris, um indicador que vem corresponder com a capacidade actual de produção petrolífera do país, em torno de 1,4 milhões de barris por dia (mb/d), segundo dados oficiais.
Entre os demais membros da OPEP, a Argélia reduz 23% da sua quota de 2018, de 1,057 milhões de barris de petróleo por dia, Congo retira dos anteriores 325 mil barris dia, Guiné Equatorial dos 127 mil barris, Gabão dos 187 mil, Iraque dos 4,653 milhões, Kuwait dos 2,809 milhões, Nigéria dos 1,829 milhões, Arábia Saudita dos 11 milhões e Emiratos Árabes Unidos da sua quota de 3,168 milhões.
Primeiro corte
A primeira fase de cortes, de um conjunto progressivo de três, aplica-se por um período de dois meses (1 de Maio e 30 de Junho) e garante que o conjunto de dez países da OPEP injectem no mercado 20,598 milhões de barris todos os dias e os outros dez não-OPEP um total de 13,255 milhões de barris.
Essa diminuição na exportação deve ser aliviada em 18 por cento logo nos seis meses seguintes, entre Julho e Dezembro, para 7,7 milhões de barris dia, o que pode permitir a Angola vender, diariamente, 1,249 milhões de barris dia. Com esse alívio os membros da OPEP passarão a colocar no mercado 21,815 milhões de barris e os não-OPEP 14,038 milhões.
Na terceira fase, definida para entre 1 de Janeiro de 2021 e 30 de Abril de 2022, Angola pode alcançar uma quota de exportação diária de 1,319 milhões de barris de petróleo, quando o ajustamento internacional atingir 5,8 milhões de barris de petróleo por dia, menos 14% das necessidades globais do mercado, calculadas pela OPEP+ em 43,853 mil milhões de barris de petróleo dia.
Alívio
O contrato é válido até 30 de Abril de 2022 e a sua extensão deve ser revista já em Dezembro de 2021. Durante esse período e reduzindo 14%, a OPEP passa a injectar 23,032 milhões de barris e os não-OPEP 14,821 milhões. Entretanto, a 10 de Junho próximo e por vídeo-conferência a OPEP+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo mais a Rússia que lidera os exportadores não OPEP) reúne-se, para determinar novas acções necessárias para equilibrar o mercado.
Em linhas gerais, esta linha de base para o cálculo de ajustes não inclui o Reino da Arábia Saudita e a Federação Russa, que têm como ponto de referência o equivalente a 11 milhões de barris por dia. Integram o grupo presidido pela Rússia o Cazaquistão, Arzebajão, Oman, Malásia, Bahrein, Sudão do Sul, Brunei, Sudão e México.
Porém, o grupo dirigido pela Arábia Saudita deve retirar, nesta fase inicial, 6,085 milhões de barris por dia e os representados pela Rússia 3,915 mb/d. Na segunda fase, os membros da OPEP reduzem 4,868 mb/d e os não-OPEP 3,132. No panorama final, os liderados pela Arábia saudita excluem 3,651 mb/d e os não membros 2,349 mb/d.
Essas três fases de compensação resultam do decidido na cimeira entre os países da OPEP, a Rússia (que representa o bloco dos não OPEP) e Estados Unidos (que representa os produtores independentes, maioritariamente do G-20), entre outros produtores não membros do “cartel”, que procurou consenso para reduzir 19,1 milhões de barris por dia da produção mundial, com a única finalidade de se equilibrar a oferta e aumentar os preços do “Ouro Negro”.
Baixa procura
A julgar pela tendência actual de baixa procura, está longe das perspectivas o equilíbrio esperado no mercado petrolífero, pois, além do preço do “crude”, grande parte de países e produtores enfrentam um novo dilema: espaço para armazenamento de mais petróleo.
Como consequência, milhares de petroleiros estão imobilizados em locais de enchimento, no alto-mar ou nos portos de armazenagem, com custos diários que de pelo menos 30 mil dólares. Analistas estimam que o mundo tenha 1,3 a 1,4 mil milhões de barris de petróleo estejam a bordo de navios-tanque no mar, enquanto outros 7,2 mil milhões de barris e produtos derivados estejam armazenados.
Os dados mostram que a situação global é de facto mais assustadora que os pequenos negócios que sucumbem pelos efeitos colaterais do novo coronavírus. Para já, o colapso do petróleo acelerou com as perdas varrerem os mercados, à medida que o mundo fica sem espaço para armazenar petróleo, adicionado os indesejados preços actualmente oferecidos.
Do mesmo modo, o colapso dos contratos posteriores ressaltou a gravidade da crise do petróleo na era do coronavírus. Tanques de armazenamento, oleodutos e navios-tanque são rapidamente sobrecarregados por um vasto excesso de oferta causado pela queda na procura e consumo de combustível, à medida que os países são bloqueados para conter a pandemia.