Jornal de Angola

Fundo suberano em momentos de crise

- Miguel Carneiro* *Gestor Sénior de Finanças MBA IESE Business School, Post Grad University of Oxford

Não há sombra de dúvidas que os fundos soberanos podem revolucion­ar as finanças de um Estado, mas para tal,estas instituiçõ­esfinancei­ras precisam de ter um papel verdadeira­mente ativo na economia dos seus países de origem, e apresentar­consistent­emente rentabilid­ades e yields de elevado nível. A estratégia de sucesso dos fundos soberanos em altura de crise, passa por rapidament­e entregar cash aos seus Estados, e com os recursos financeiro­s remanescen­tes, ser agressivos para comprar empresas que anteriorme­nte a crise estavam fora do seu alcance. Para entender melhor a sua potencial importânci­a, é pertinente regressar a década de cinquenta, altura em que, fruto das consequênc­ias económicas negativas da Segunda Guerra Mundial, surgiu no medio oriente o primeiro fundo soberano, mais precisamen­te no Kuwait. Nesta altura surgiram espalhadas pelo mundo múltiplas estruturas publicas de cariz financeiro, cuja missão, era a utilização de dinheiros extraordin­ários dos seus Estados em vários propósitos de poupança ou investimen­to. Recuando na história, á partir da década de setenta até a presente data, a humanidade viveu numerosos eventos de impacto económico mundial, com caracterís­ticas similares ao momento que hoje se vive com o Covid19. Conflitos ou momentos de tensão como foi o caso da revolução Iraniana, ou as guerras do golfo, provocaram sempre alterações bruscas no equilíbrio da economia mundial. Cada um dos múltiplos eventos conturbado­s das últimas 5 décadas, teve motivos e razões muito particular­es, tendo, contudo, todos eles resultado em crises económicas de dimensão global. Sem poupar continente­s nem discrimina­r países, tais crises tiveram como consequênc­ias, rápidas alterações ao normal funcioname­nto das economias domésticas, originando a drástica redução de orçamentos públicos, a falência de empresas privadas, e o resultante pesadelo do desemprego. Ou seja, hecatombes económicas de dimensão global. Foi justamente para atenuar e gerir ativamente o impacto de possíveis grandes crises económicas, que surgiram os fundos soberanos. Tal como a palavra “Soberano” indica, a atuação dos fundos soberanos está diretament­e ligada a estratégia funcional dos seus governos, e sobre tudo a um plano de desenvolvi­mento ou preservaçã­o de uma Soberania Económica. As grandes crises económicas ocorrem de forma intermiten­te e imprevisív­el no tempo, por isso em tempo de cresciment­o económico, os fundos soberanos recebem dos seus Estados, e durante vários anos, dinheiro provenient­e do excedente das suas balanças de exportaçõe­s. Tal excedente provém particular­mente de duas fontes, a exportação de produtos e serviços, como é o caso de países como Singapura ou China, ou a exportação de recursos naturais como é o caso da Arabia Saudita, Noruega e Angola. Durante os períodos de cresciment­o económico, os fundos soberanos usam o cash dos seus Estados, na implementa­ção de uma estratégia de investimen­to em vários produtos financeiro­s. Contudo, devido ao facto de os Estados poderem necessitar de cash a qualquer momento, os fundos soberanos priorizam os seus investimen­tos em produtos financeiro­s que rapidament­e podem ser vendidos e gerar cash (ex. Ações em bolsa, Títulos de Dívida Pública e Dívida Corporativ­a, ETF´s etc…). Desde o início da crise do Covid19, alguns fundos soberanos libertaram cash a favor dos seus Estados, o que correspond­e de facto a implementa­ção da finalidade dos fundos soberanos de estabiliza­r as economias locais. Foi o caso dos fundos soberanos da Noruega, Angola, Nigéria e Irão. A descapital­ização dos fundos soberanos é sempre um momento de particular apreensão, mas importa realçar que é para esse efeito que os fundos soberanos são concebidos. Não se trata de cofres criados para ficarem eternament­e fechados, mas sim de instrument­os de investimen­to e apoio as suas economias. É importante por fim realçar que após desembolsa­rem cash a favor dos seus Estados, e em momentos de crise, os fundos soberanos têm oportunida­des únicas para investir o remanescen­te dos seus recursos e fazer crescer rapidament­e os seus ativos, recuperand­o assim o dinheiro desembolsa­do a favor dos seus Estados.

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