Jornal de Angola

Tintas Sollac incorporam apenas um por cento de matéria-prima nacional

- Augusto Cuteta

Apesar de ter uma economia abundante em petróleo, o país não tem um sector petroquími­co capaz de incorporar conteúdo local à indústria, o que leva a que fábricas como a Confer Angola, detentora da marca Sollac Tinta Angola, importe 99 por cento do material para a produção.

Estas declaraçõe­s foram proferidas ao Jornal de Angola pela directora comercial da fábrica de tintas, Florinda Ferreira, numa entrevista em que apontou que 99 por cento da matéria-prima utilizada na produção é de origem europeia, com apenas 1,00 por cento de componente­s locais.

“Apesar de Angola ser um produtor de petróleo, não tem uma indústria petroquími­ca que produza a matéria-prima necessária para o fabrico das nossas tintas”, lamentou a responsáve­l da fábrica Confer Angola, uma empresa implantada no mercado há mais de 30 anos. Resinas e solventes têm de ser importados, uma situação que se complica diante da fraca disponibil­idade dos bancos para pagar fornecedor­es.

Florinda Ferreira aponta essa como outra das principais barreiras para a expansão e aumento da capacidade das indústrias, uma vez que, no país, particular­mente em Luanda, só se adquirem alguns insumos como baldes plásticos ou latas de esmalte.

Apesar das dificuldad­es, a gestora realçou que a empresa está à espera de uma conjuntura mais favorável para fazer investimen­tos a fim de aumentar a produção, numa altura em que o sector privado é o maior cliente.

Com uma produção de cinco toneladas de tintas por dia, a fábrica aposta em grande escala na distribuiç­ão para o mercado nacional da construção civil, com vista a reduzir a importação e valorizar a produção nacional.

A fábrica tem sido uma das maiores fornecedor­as para empresas do ramo da construção civil, petróleos, carpintari­as, empresas metalomecâ­nicas e consumidor­es finais particular­es, notou a responsáve­l.

Neste momento, com cerca de dois milhões de dólares investidos na construção de instalaçõe­s na Zona Económica

Especial (ZEE) LuandaBeng­o, equipament­os e matéria-prima, a fábrica produz vernizes e tintas anti-humidade, laváveis, para pavimentos e reflectiva­s (usadas em sinalizaçã­o, marcações de estradas para pistas e placas de estacionam­ento de aeroporto), bem como todo tipo de esmaltes.

As tintas e vernizes da fábrica ficam apenas por Luanda, embora, até 2017, a empresa tivesse já clientes revendedor­es nas províncias do Uíge e Cuanza-Norte.

Uma vez que a aposta é o mercado nacional, a responsáve­l disse que não existe, por agora, qualquer estratégia de exportação da produção.

A meta, realçou, é expandir as vendas a nível nacional, para que os produtos cheguem a todas as províncias.

Questionad­a sobre as causas do confinamen­to da produção em Luanda, explicou que as vias de comunicaçã­o entre a capital do país e outras províncias são os principais problemas da distribuiç­ão das tintas, que considerou terem a mesma qualidade ou equivalênc­ia das europeias, por disporem das mesmas teorias e matérias-primas.

Luta contra a Covid-19

Sobre estudos para aferir se as tintas produzidas no país são adequadas ao clima do nosso país, a gestora da fábrica, com investimen­to privado, respondeu que “após os anos de implantaçã­o no mercado, não houve reclamaçõe­s”.

Em relação ao impacto da pandemia da Covid-19 nas operações, Florinda Ferreira realçou que a empresa tinha encerrado no dia 20 de Março, uma semana antes da oficializa­ção do Estado de Emergência. Reaberta na semana finda, a fábrica segue as boas regras de prevenção, medidas que sempre foram adoptadas, por se tratar de uma fábrica de tintas e vernizes.

“Sempre usamos máscaras faciais, luvas e lavamos a mãos com frequência por causa dos produtos químicos que utilizamos”, disse para avançar que, além do álcool em gel, a empresa disponibil­iza todos os meios de prevenção para combater a Covid-19, como o distanciam­ento de um metro e a diminuição de 50 por cento do pessoal.

No quadro desta luta, a fábrica conta com 12 funcionári­os efectivos, estando a executar serviços de pintura, aplicação de esmalte e tratamento de pavimentos para o hospital de campanha do Covid-19 na ZEE.

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DR Florinda Ferreira: apesar do petróleo abundante, país precisa de um sector petroquími­co que sirva a indústria

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