Versatilidade ímpar de um acordeonista da massemba
Instrumentista de raro talento, Paulo Pakas faz parte da geração mais jovem de acordeonistas angolanos, numa linha de continuidade da herança musical do Minguito e dos grandes mestres da massemba
Embora se tenha afeiçoado pelo acordeão, Paulo Pakas começou por gostar de música, muito cedo, através da construção artesanal de uma viola de lata, influenciado pelo seu primo, Sidrak da Conceição Ngunza, famoso ex-basquetebolista do 1º de Agosto e da selecção nacional. Estávamos na época de um grande sucesso da história da Música Popular Angolana, “Brinca na areia”, 1969, uma canção dos Dikanzas do Prenda.
O fascínio pelo solo de guitarra do tema, “Brinca na areia”, foi o mote para o desenvolvimento das habilidades musicais de Paulo Pakas, tinha então dez anos, “Logo que terminei a construção da viola, empenheime em aprender a tocar o solo da canção, “Brinca na areia”, e daí foi o ponto de partida e paixão pela vida artística”,recordou, nostálgico, o acordeonista.
Intérprete, compositor, arranjista e produtor musical, Paulo Pakas possui quarenta e seis anos de vida artística, vividos em palcos nacionais e internacionais, e iniciou a sua carreira , em 1973, em Luanda, numa pequena formação do Bairro Kassequel, denominada, “Filhos de Ngola Kiluanji”, como viola ritmo, baterista e percussionista. Com a entrada do Twelly Bamba, o grupo passou a “Tukina Ritmo”, nome que perdurou até 1976, com Luís do Rosário, Rai, ex-baixista do Afra Sound Star, e Manecas Duarte, que tinha a função de empresário da banda. Na sequência, Paulo Pakas fez parte do agrupamento, Anangola, de 1976 a 1980.
A versatilidade de Paulo Pakas estende-se ao acompanhamento de vários géneros do universo musical europeu, africano e latino-americano, que se desdobram na execução de géneros como, Tango, Valsa, Salsa, Merengue, música dos ranchos folclóricos portugueses, Reggae, Semba, Kilapanga, e Kizomba, possuindo um reportório muito vasto de várias horas de concerto com o seu acordeão.
Filho de Pascoal Sebastião e de Conceição Mateus da Costa, Paulo Pascoal Sebastião, Paulo Pakas, nasceu no bairro da polícia, em Luanda, no dia 3 de Setembro de 1959.
Acordeão
Paulo Pakas aprendeu a tocar acordeão em 1977 e, por influência do seu primo Zeca Paulo, que foi organista do conjunto “Miragem do Namibe”, aprendeu órgão, em 1984. Segundo Paulo Pakas, o acordeão é de uso recente, porque a concertina era o instrumento mais usado usava nos anos quarenta e cinquenta, pelos mais velhos Massemba, incluindo o Minguito. “Comecei a tocar por iniciativa própria, contudo a minha mãe disse-me, sem eu saber, que meu pai tocava concertina. Na homenagem ao Minguito, em 2006, no Caldo poeira da Rádio Nacional de Angola, toquei a sua obra completa. Fui para os Novatos da Ilha a convite do Comandante Vasco, já falecido, e estou há dez anos no grupo”. Integrado nos Novatos da Ilha de Luanda, Paulo Pakas, acordeão, tem tocado com, Jaburú Napoleão e Dumas, dikanza, Maria da Conceição, São, Engrácia Diogo, Sabalo, Joaquim Manuel Pascoal, Loy, nos coros, Páscoa Caetano, Manú, dibabelo, Cota Duia, na percussão.
Bandas
Ao longo da sua carreira, em Angola, Paulo Pakas fez parte das seguintes bandas musicais, “Banda 1º de Agosto”, na condição de viola ritmo e acordeão, 1981a 1983, “Banda Fenomenal”, como organista, acordeão e director de 1984 a 1990, “Banda Weliwítschia”, como organista e acordeonista, de 1990 a 1992, Jovens do Prenda, como organista e acordeonista de 1992 a 1998, Afro-Band de 1994 a 2012, fundador e director da banda, e, por último, integrou o grupo de Massemba, “Os Novatos da Ilha de Luanda”, como acordeonista desde 2005. Em Portugal, fez parte das bandas “Mercado Negro”, “Kussundulola” e “Banda Calema”, no período de 2000 a 2004.
Participações
Paulo Pakas participou no 1º disco dos Kiezos, depois da independência, como organista, tendo produzido e participado em canções de vários artistas, com destaque para, Lurdes Van-Dúnem, Elias diá Kimuezu, Voto Gonçalves, Yuri da Cunha, Teta Lágrimas, Hélvio, Paulo Flores, Carlos Burity, Carlos Lamartine, Carlos Baptista, Ricardo Lenvu, Lina Alexandre, Robertinho, Calabeto, António Paulino, Jivago, Patrícia Faria, Proletário, Nany, Toya Alexandre, Margareth do Rosário, Nonó Mangumba,
Nitoya, Lidjana do Rosário, Mamborró, Maranax, Rozy Silva e Chico Coio.Destacamos a participação de Paulo Pakasno CD “Ngongo” do grupo tradicional, Nguami Maka, lançado em Julho 2009, com Lulas da Paixão, Kituxi, Wiza, Melvi, Raúl Tulingas, Manecas Costa, Nelas do Som, Alex Samba e Izaú Baptista.
Formação
Paulo Pakas concluiu os estudos primários, da primeira à quarta classe, na Escola Primária Nº 225 no Bairro Popular, o ensino secundário, primeiro e segundo ano, na Escola Preparatória João Crisóstomo, e frequentou o terceiro e quarto ano na Escola Industrial de Luanda, matriculado no curso de construção civil, sem concluir, em consequência da eclosão da guerra, depois da independência de Angola. Na fase do Governo de Transição, 1974 a 1975, trabalhou como aprendiz de mecânica no ASMA, actual OGR, Oficinas Gerais de Reparação do Ministério da Defesa. Fez o curso de biblioteconomia na Biblioteca Nacional, em 1976, onde trabalhou, a pedido desta instituição, até princípios de 1978.Preferindo a carreira docente, deixou a Biblioteca Nacional, no mesmo ano, e concluiu o primeiro curso acelerado de professores, no Magistério Primário de Luanda. Foi professor, director do ensino de adultos e administrativo em várias escolas primárias, de 1978 a 1984.
Festivais
Na diáspora, participou em vários festivais internacionais realizados em Portugal, tais como, Avante, Rock in Rio, Santa Maria, Salvaterra, Festival de Barcelona, 2018. Nos últimos anos, para além da actividade musical em vários países da Europa, onde se destaca com o seu acordeão representando o semba e a Massemba, tem sido palestrante em seminários sobre Música Popular Angolana, em França, Suíça, Itália, e Espanha, onde é convidado com o angolano, Mestre Capitão, percussionista angolano radicado em Portugal e Suíça.
História
A presença do acordeão na Música Popular Angolana, representada pelo Minguito, regista, na Massemba, os nomes de Manuel Ceguinho, 1946 , Manuel António imperial do grupo de Massemba, Coração de Angola, Muxima uá Ngola, Primo do Imperial Santana, herói do 4 de Fevereiro, pai do Mamukueno e avó do guitarrista Baião, 1948, Mestre Geraldo , Mestre Firmino, Lanterna , Zeca Paulo.
Homenagem
Paulo Pakas foi a figura de cartaz na homenagem ao histórico acordeonista, Minguito, na 51ª edição do Caldo do Poeira, projecto de valorização dos históricos da Música Popular Angolana, da RNA, Rádio Nacional de Angola, realizada no dia 30 de Julho de 2006, no Centro Recreativo e Cultural Kilamba, em Luanda. Renderam homenagem ao histórico acordeonista, que interpretaram os seus grandes sucessos, os cantores, Dom Caetano, Yuri da Cunha, Pakito, Zé Manico e Minguito Filho. A propósito da homenagem saiu a público, o duplo CD “Memórias de Minguito”, com trinta canções, uma colectânea que consideramos abrangente, e inequivocamente representativa, dos grandes momentos musicais da carreira do Minguito.