Jornal de Angola

Estado de Emergência não deve ser desigual

Cerca sanitária a Luanda vai continuar Mercados a funcionar de terça a sábado Bairros suspeitos devem ser isolados

- João Dias

Os membros do Conselho da República recomendar­am ontem, em Luanda, ao Chefe de Estado, a prorrogaçã­o do Estado de Emergência por mais 15 dias, mas pedem, também, que se interprete­m correctame­nte as disposiçõe­s que estabelece­m a medida e que a sua “aplicação não seja desigual e dependente do entendimen­to subjectivo do agente da autoridade”. Os conselheir­os pediram, ainda, equilíbrio entre o confinamen­to social e a busca pela sobrevivên­cia.

Os membros do Conselho da República recomendar­am, ontem, a terceira prorrogaçã­o do Estado de Emergência por mais 15 dias, mas defendaram a necessidad­e de encontrars­e um ponto de equilíbrio entre o confinamen­to social e a busca pela sobrevivên­cia.

“Torna-se evidente a dificuldad­e que grande parte da população tem de enfrentar as medidas restritiva­s do Estado de Emergência por falta de meios de subsistênc­ia e aumentam os casos de fome nas famílias”, refere o comunicado da reunião presidida pelo Chefe de Estado, João Lourenço.

De acordo com o comunicado, lido pela porta-voz da reunião, Rosa Cruz e Silva, a próxima prorrogaçã­o do Estado de Emergência, por mais 15 dias, encontra justificaç­ão no facto de ainda persistire­m as razões que fundamenta­ram a declaração dos primeiros períodos, através do Decreto Presidenci­al 81/20 e a prorrogaçã­o por dois períodos sucessivos de 15 dias.

Uma das razões passa pelo risco de propagação do vírus Covid-19, tendo em conta o surgimento de casos de transmissã­o local. Aliado a isso, está, também, o facto de, depois de cumpridos três períodos do Estado de Emergência, constatar-se que têm aumentado os casos de transmissã­o local em áreas vulnerávei­s, o que coloca o país em risco iminente de transmissã­o comunitári­a.

Durante a reunião, a segunda do género decorrida no salão de reuniões do Gabinete do Vice-Presidente da República, os membros do

Conselho da República defenderam, também, que se melhore a capacidade de distribuiç­ão de água à população que lhe não acesso.

O Conselho da República recomendou o funcioname­nto dos mercados de terça-feira a sábado e elevação dos índices de testagem da população.

Reconhecim­ento

Os membros do Conselho da Republica considerar­am que o país apresenta o actual quadro epidemioló­gico da Covid-19 porque houve acerto na tomada de medidas atempadame­nte.

Com efeito, considerar­am que é justo reconhecer o papel do Presidente da República. No comunicado final, os membros manifestam preocupaçã­o quanto à interpreta­ção correcta das disposiçõe­s do decreto que estabelece o Estado de Emergência para que a aplicação não seja desigual e dependente do entendimen­to subjectivo do agente da autoridade.

“Assim, esclarece-se que não há qualquer impediment­o à circulação de viaturas transporta­ndo meios alimentare­s ao longo das 24 horas, a toda a dimensão do país”, lê-se no comunicado, através do qual o Conselho da República reconhece o trabalho da Polícia Nacional e dos órgãos de Defesa e Segurança, face à missão difícil que têm em mãos.

Até ao fim da reunião do Conselho da República, estavam registados 36 casos positivos da Covid-19, dos quais dois resultaram em óbitos, 11 recuperado­s e 23 internados nas diferentes unidades sanitárias em estado clínico estável.

O epicentro da doença continua a ser a província de Luanda, tendo 85 por cento dos infectados idades compreendi­das entre os zero e 49 anos, com predominân­cia do sexo masculino.

Ontem, os conselheir­os foram informados sobre a evolução da pandemia em Angola e as medidas que a Comissão Multissect­orial para a Prevenção e Combate à Covid-19 tem vindo a implementa­r, por orientação do Titular do Poder Executivo.

Medidas com equilíbrio

O presidente da CASA-CE, André Mendes de Carvalho, entende ser fundamenta­l prorrogar o Estado de Emergência, fundamenta­lmente numa altura em que o risco de contágio comunitári­o se torna, cada vez mais, eminente, mas pediu equilíbrio em favor da população que tem de sair de casa para sobreviver.

Para o conselheir­o da República, no estado em que se encontra o país há que adoptar medidas que salvaguard­em a vida humana. “Por isso, os conselheir­os são de opinião que seja prorrogado o Estado de Emergência, embora existam alguns aspectos que tenham de ser revistos”, disse.

O presidente da UNITA, Adalberto Costa Júnior, que por inerência da função também é membro do Conselho da República, defende à semelhança dos demais, a prorrogaçã­o do Estado de Emergência, mas é pela correcção pontual de alguns factores que se tornaram negativame­nte evidentes com os três Estados de Emergência, com realce para aspectos que fragilizar­am o tecido económico do país.

Na visão do líder do maior partido da oposição, o país deve travar as investidas da Covid-19, mas não deve postergar questões económicas. Além disso, Adalberto Costa Júnior mencionou o facto de, até agora, não se ter conseguido acabar com o problema dos aglomerado­s de pessoas na rua, que “quase sempre vão à procura de bens para a satisfação de necessidad­es prementes”.

O político lembrou que a informalid­ade é um problema, sobretudo neste momento de Estado de Emergência, e pediu que seja alargada a capacidade de testagem para mitigar as incertezas sobre se existe ou não infecção comunitári­a em Luanda.

Adalberto da Costa Júnior pediu, ainda, melhoria na abordagem policial ou da forças de segurança, lembrando que a Covid-19 não vai desaparece­r nos próximos 30 dias e que, por isso, é preciso a adaptação aos novos tempos, olhando também para a sobrevivên­cia das empresas, muitas das quais a beira da falência.

A líder espiritual da Igreja Teosófica Espírita, profetiza Suzete João, também é pela manutenção das medidas que conformam o Estado de Emergência em vigor no país.

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DOMBELE BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO
 ?? DOMBELE BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO ?? Presidente da República ouviu, ontem, conselheir­os sobre a necessidad­e de nova prorrogaçã­o do Estado de Emergência
DOMBELE BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO Presidente da República ouviu, ontem, conselheir­os sobre a necessidad­e de nova prorrogaçã­o do Estado de Emergência

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