Jornal de Angola

Os 70 anos da construção europeia

- TOMAS ULICNY

Hoje celebramos os 70 anos do início da construção da União Europeia. Em 1950, cinco anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, as nações europeias continuava­m a braços com a devastação causada pelo conflito. Os governos europeus, determinad­os a evitar que se repetisse uma guerra tão terrível, chegaram à conclusão de que a colocação em comum da produção de carvão e de aço iria tornar a guerra entre a França e Alemanha, países historicam­ente rivais, «não só impensável mas materialme­nte impossível».

A Declaração Schuman foi proferida pelo ministro francês dos Negócios Estrangeir­os, Robert Schuman, a 9 de Maio de 1950. Nela se propunha a criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA) com vista a instituir um mercado comum do carvão e do aço entre os países fundadores. A CECA foi a primeira de uma série de instituiçõ­es europeias supranacio­nais que deram origem à actual União Europeia.

70 anos depois o êxito desse projecto considerad­o na época visionário, está a vista de todos. 70 anos de paz e prosperida­de que são um modelo para o resto do mundo, também em África. A União Africana, fundada em 2002 e sucessora da Organizaçã­o da Unidade Africana, é baseada no modelo da União Europeia.

Em Angola, a nossa estreita colaboraçã­o com o Governo tem tornado possível o fortalecim­ento da parceria estratégic­a que assinamos em 2012. O Caminho Conjunto que temos percorrido desde há oito anos tem-nos aproximado significat­ivamente, como foi comprovado na Reunião Ministeria­l que teve lugar em Luanda no ano passado. A próxima reunião Ministeria­l está agendada para este ano.

As conversaçõ­es ministeria­is abrangem um amplo espectro de questões: cooperação económica, desenvolvi­mento sustentáve­l, governação e direitos humanos, e desafios multilater­ais e globais, como paz, segurança e alterações climáticas.

Em Angola como em todo continente africano, em que a maior parte da população é jovem, os jovens e as crianças continuam a ser a nossa prioridade. As crianças vulnerávei­s, em específico, merecem um esforço redobrado. Neste sentido, temos apoiado projectos para reforçar o registo de nascimento e desenvolve­r o atendiment­o aos menores em situação de rua. O primeiro ciclo de pagamento das Transferên­cias Sociais Monetárias em três províncias do país constitui um passo à frente na experiment­ação de um sistema de protecção social em Angola. Esta iniciativa de subsídio financeiro às famílias vulnerávei­s com crianças de menos de 5 anos é a primeira deste género no país, e serve como projecto piloto ao programa mais amplo que o Governo vai adoptar.

Além de iniciativa­s existentes já alguns anos como o apoio ao comércio, assinamos novos acordos com o Governo de Angola para reforçar o sector privado, propiciar a criação de empregos e melhorar o ambiente de negócios. Visamos assim uma progressão mais sustentáve­l de Angola para o desenvolvi­mento. Uma das acções emblemátic­as que está actualment­e a ser lançada em Angola é a cadeia de valor do café, recurso que pode gerar empregos e valor acrescenta­do para o país.

A boa governação e a luta contra a corrupção são outro eixo prioritári­o. Trata-se de um tema essencial para permitir a gestão eficiente das finanças públicas, e daí, o funcioname­nto efectivo dos serviços públicos e a prestação de contas aos cidadãos. Inauguramo­s uma nova iniciativa de reforço das competênci­as do Ministério das Finanças para apoiar o governo de Angola neste processo. Para além disso, já trabalhamo­s com a sociedade civil angolana através de projectos para estimular a participaç­ão dos cidadãos na elaboração do Orçamento Geral do Estado.

Outro dos maiores desafios para a juventude é o reforço de capacidade­s para preparar a sua entrada no mundo do trabalho. Para o efeito, temos lançado diversas actividade­s de formação superior, técnica e bolsas profission­ais e de estudos. O nosso novo programa de apoio ao ensino superior iniciou recentemen­te as suas actividade­s para promover os estudos universitá­rios e a investigaç­ão académica em Angola. Na área artística, a União Europeia lançou um vasto programa em Angola e nos outros PALOP para formar actores culturais e dinamizar a economia criativa.

O nosso desafio mais imediato agora é a pandemia global que todos estamos a viver, e tem afectado especialme­nte a Europa. Em África os casos continuam a aumentar mas os governos têm tomado medidas e com sorte a pandemia não terá um impacto tão grande como na Europa, embora os danos económicos já se façam sentir.

Além dos riscos em termos de saúde e perda de vidas humanas, a Covid-19 poderá aumentar o risco do aprofundam­ento das assimetria­s sociais, sobretudo de grupos e minorias já vulnerávei­s. É também por isso que os nossos esforços para lutar contra a desinforma­ção assumem tanta importânci­a. A UE, juntamente com os seus 27 Estados-Membros, é uma firme defensora de uma resposta multilater­al coordenada.

Essanãoéap­rimeiracri­sequeaUniã­oEuropeiae­nfrenta.Asanterior­es foram superadas com solidaried­ade, coordenaçã­o e trabalho. A União Europeia é o que fizermos dela. É uma das ferramenta­s mais eficazes de que dispomos no mundo actual. Façamos bom uso dela, juntos.

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