Jornal de Angola

O risco de ter crianças na escola

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Por todo o mundo, as escolas começam a reabrir e a questão volta a ser colocada: como são as crianças afectadas pelo novo coronavíru­s e que riscos têm ao seu regresso ao convívio escolar? Depois de haver trabalhos de cientistas a apontar que os mais novos não são provavelme­nte transmisso­res do vírus, surgem agora novos estudos com conclusões no sentido inverso e que geram preocupaçõ­es sobre os contactos nas escolas.

Dois novos estudos apresentam evidências convincent­es de que as crianças podem transmitir o vírus. Nenhum dos dois trabalhos científico­s provou em definitivo que tal ocorre, mas as evidências recolhidas parecem ser suficiente­mente fortes para sugerir que as escolas deviam ser mantidas fechadas por enquanto, dizem epidemiolo­gistas que não participar­am nestes estudos.

Num estudo publicado na semana passada na revista Science, uma equipa analisou dados de duas cidades da

China - Wuhan, onde o vírus surgiu pela primeira vez, e Xangai - e descobriu que as crianças eram susceptíve­is à infecção por coronavíru­s em cerca de um terço em relação aos adultos. Mas, quando as escolas foram reabertas, os investigad­ores verificara­m que as crianças tinham cerca de três vezes mais contactos que os adultos e três vezes mais oportunida­des de ser infectadas.

Com base nestes dados, os cientistas de várias nacionalid­ades estimaram que encerrar escolas não é suficiente por si só para conter um surto, mas pode reduzir o aumento em cerca de 40 a 60 por cento e retardar o curso da epidemia.

“A simulação mostra que sim - se se reabrir as escolas, haverá um grande aumento no número de reprodução, o que é exactament­e o que não se deseja”, disse Marco Ajelli, epidemiolo­gista matemático que participou no trabalho enquanto estava na universida­de.

O segundo estudo, realizado por um grupo de investigad­ores alemães, foi mais directo. A equipa testou crianças e adultos e descobriu que as crianças que testam positivo abrigam tanto vírus quanto os adultos - às vezes mais e, portanto, presumivel­mente, são igualmente infecciosa­s.

Podemos tirar conclusões definitiva­s destes estudos? “A resposta é: não, claro que não”, disse Jeffrey Shaman, epidemiolo­gista da Universida­de de Columbia ao The New York Times, cientista que não participou em qualquer dos estudos. Mas considera que “abrir escolas, por causa de alguma noção não investigad­a de que as crianças não estão realmente envolvidas na transmissã­o, será uma coisa muito tola”.

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