“Tchizé” dos Santos nega regressar ao país
A ex-deputada do MPLA e filha do antigo Presidente da República, Welwitschia 'Tchizé' dos Santos, afirmou ontem que “o exílio tem mais dignidade do que a rendição” e que não presta “vassalagem ao detractor principal” da sua família.
“Prefiro o exílio do que ficar em Angola para ser enxovalhada com acusações falsas e possível prisão política, por quem não tem um passado nem dignidade para eu respeitar como meu Chefe de Estado”, afirmou, em entrevista à Lusa, referindose ao actual Presidente da República, João Lourenço.
A filha do antigo Presidente da República, que está no estrangeiro há cerca de dois anos, disse ainda que não vai baixar a cabeça “para ser humilhada e prestar uma hipócrita vassalagem” ao detractor principal da família Dos Santos “em troca do silêncio pela manutenção de um cargo no Parlamento a qualquer custo, ou integração social com a condição de bajular” quem a “enxovalha”.
Tchizé dos Santos reagia às declarações do político e líder do projecto político PRA-JA Servir Angola, Abel Chivukuvuku, que defendeu o regresso ao país dos familiares do ex-Presidente José Eduardo dos Santos para se defenderem das acusações de que são alvo. “Há um ditado que diz: quem não deve não teme (…) Teria sido bom se eles estivessem aqui e se defendessem aqui, mostrando que têm razão e não temem. Seria muito bom para o país, porque ao estarem longe, as pessoas ficam com a ideia que fugiram”, afirmou Chivukuvuku em entrevista à Lusa, questionado sobre alegações de familiares do ex-chefe do Estado, que dizem estarem a ser perseguidos pelo actual Presidente João Lourenço.
“Eu ia querer ver se o Dr. Abel Chivukuvuku ia ter essa opinião quando foi capturado ferido pelas tropas do Governo do então Presidente da República e Comandanteem -Chefe José Eduardo dos Santos, após os confrontos de 1992, se o PR fosse o general João Lourenço e não o Dos Santos”, afirmou Tchizé dos Santos em mensagem escrita enviada à Lusa.
Na altura, o país vivia ainda em guerra civil e Abel Chivukuvuku, actual coordenador da comissão instaladora do projecto político PRA-JA, era dirigente da UNITA, o principal partido da oposição, tendo sido ferido em confrontos militares, em Luanda e mantido sob custódia das autoridades governamentais quase um ano.
Tchizé dos Santos, cujo mandato de deputada foi suspenso em Outubro passado - tendo sido também afastada do Comité Central do MPLA e suspensa por dois anos da condição de militante -, diz que a UNITA “teve mais sorte do que a família Dos Santos” pois foi José Eduardo dos Santos que decidiu o destino dos derrotados em combate, e não João Lourenço.
“Se quando o Dr. Jonas Savimbi morreu em combate e a UNITA foi derrotada, em 2002, o PR fosse o Sr. João Lourenço, certamente o Dr. não teria hoje opinião alguma porque provavelmente estaria morto ou em prisão perpétua”, respondeu a Chivukuvuku.
Na entrevista concedida à Lusa, Abel Chivukuvuku sublinhou que “gostaria de ver as coisas discutidas aqui em Angola”, admitindo no entanto que a justiça é “excessivamente” partidarizada.
“Tenho noção disso, mas é com a nossa luta que vamos transformar os fenómenos, não é estando ausente disso tudo, é participando, é fazendo face e mostrando ao cidadão: estou aqui”, insistiu.
Welwitschia “Tchizé” dos Santos, ex-deputada do MPLA, foi afastada do cargo em Outubro de 2019 por faltas injustificadas e viu posteriormente suspensa a sua condição de militante por dois anos.
Tchizé alega que tem estado fora do país por questões de saúde e disse ter sido ameaçada de morte e estar a ser pressionada para vender as suas participações em empresas angolanas.