Jornal de Angola

União Africana defende suspensão de pagamentos da dívida por dois anos

A assunção do problema da dívida como uma questão central para os governos africanos ficou bem espelhada na preocupaçã­o que o FMI e o Banco Mundial dedicaram durante os Encontros Anuais

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em exercício da União Africana, o Chefe de Estado da África do Sul, Cyril Ramaphosa, defende que a suspensão dos pagamentos da dívida deve vigorar durante dois anos e não apenas até Dezembro.

“Apesar de o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacio­nal terem apoiado uma suspensão dos pagamentos da dívida durante nove meses, nós acreditamo­s, devido à extensão dos danos previstos, que vamos precisar de uma suspensão durante dois anos”, disse o Chefe de Estado durante uma reunião virtual com os líderes da Comunidade de Desenvolvi­mento da África Austral.

Na reunião, que decorreu com a presença dos presidente­s de Angola e Moçambique, membros da região, o Chefe de Estado da África do Sul passou em revista as medidas financeira­s que foram tomadas nas últimas semanas e defendeu novamente a permissão de os Estados acederem aos Direitos Especiais de Saque (DES) do FMI, ou seja, às reservas financeira­s do próprio Fundo.

“Defendemos, entre outras medidas, a alocação de mais DES a África para providenci­ar uma liquidez muito necessária aos bancos centrais, ao setor empresaria­l e às Pequenas e Médias Empresas”, disse Ramaphosa, de acordo com o comunicado colocado no site da Presidênci­a sul-africana, enfatizand­o que, durante as reuniões virtuais dos Encontros Anuais do FMI e Banco Mundial, a União Africana “argumentou pela suspensão de todos os pagamentos de juros sobre a dívida multilater­al e bilateral, o que daria aos governos africanos o espaço orçamental necessário para dedicar todos os recursos à resposta e recuperaçã­o”.

As declaraçõe­s do Presidente em exercício da União Africana e da África do Sul, a economia mais industrial­izada da África subsaarian­a,surgem na sequência da discussão pública que tem existido nos mercados financeiro­s sobre como os governos podem honrar os compromiss­os e, ao mesmo tempo, investir na despesa necessária para conter a pandemia da Covid19, cujo número de mortos em África se aproxima dos dois mil, em mais de 49 mil casos registados.

A assunção do problema da dívida como uma questão central para os governos africanos ficou bem espelhada na preocupaçã­o que o FMI e o Banco Mundial dedicaram durante os Encontros Anuais, que decorrem em Abril em Washington, na quais disponibil­izaram fundos e acordaram uma moratória no pagamento das dívidas dos países mais vulnerávei­s a estas instituiçõ­es até Dezembro.

Em 15 de Abril, também o G20, o grupo das 20 nações mais industrial­izadas, acertou uma suspensão de 20 mil milhões de dólares, cerca de 18,2 milhões de euros, em dívida bilateral para os países mais pobres, muitos dos quais africanos, até final do ano, desafiando os credores privados a juntaremse à iniciativa.

O Instituto Financeiro Internacio­nal (IFI), que junta os credores a nível mundial, anunciou na semana passada a intenção de participar na iniciativa do G20 que propõe a suspensão dos pagamentos aos credores, entre Maio e Dezembro, embora sem se compromete­r com os termos e sem apresentar detalhes.

A operaciona­lização da suspensão dos pagamentos é, por isso, uma das principais dificuldad­es logísticas, já que os países em desenvolvi­mento têm diferentes tipos de dívida, desde a concession­al (a bancos multilater­ais), até à oficial bilateral (a outros países) e a comercial, detida pelos credores privados.

A União Africana e Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA), entre outras instituiçõ­es, estão a desenhar um plano que visa trocar a dívida soberana dos países por novos títulos concession­ais que possam evitar que as verbas necessária­s para combater a Covid-19 sejam usadas para pagar aos credores.

Este mecanismo financeiro seria garantido por um banco multilater­al com 'rating' de triplo A, o mais elevado, ou por um banco central, que converteri­a a dívida atual em títulos com maturidade mais alargada, benefician­do de cinco anos de isenção de pagamentos e cupões (pagamentos de juros) mais baixos, segundo a UNECA.

“Defendemos, entre outras medidas, a alocação de mais DES a África para providenci­ar uma liquidez muito necessária aos bancos centrais, ao setor empresaria­l e às Pequenas e Médias Empresas”

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DR O Presidente

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