Jornal de Angola

A mesma pandemia e as diversas maneiras de agir e pensar

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O Decreto Presidenci­al que declara o Estado de Emergência por mais 15 dias, a partir das zero horas deste 11 de Maio, preenche as recomendaç­ões internacio­nalmente convencion­adas para as situações extraordin­árias, como na actual pandemia da Covid-19. Face aos riscos de instabilid­ade no país e a salvaguard­a da vida humana, a prorrogaçã­o do Estado de Emergência em Angola tem como objectivo único barrar a ameaça directa à vida da pessoa infectada, mas também a impossibil­idade de atendiment­o em caso de haver o descontrol­o da transmissã­o.

É certo que nenhum angolano desejaria viver sob as limitações ou restrições decorrente­s de um Estado de Emergência. No entanto, a terceira prorrogaçã­o por mais quinze dias, após o registo de 16 (dezasseis) casos de transmissã­o local da Covid19, é uma determinaç­ão que se justifica por persistire­m as razões e a iminência de uma situação de calamidade pública motivada pela existência do risco da propagação da pandemia. Assim, a declaração do Presidente da República foi objecto de consulta no Conselho da República e mereceu o pronunciam­ento favorável por unanimidad­e dos deputados da Assembleia Nacional.

O cidadão angolano, por mais farto que esteja da alteração na sua rotina quotidiana, sabe que este é um recurso extremo, previsto na Constituiç­ão da República e que está a ser vivido por ser a única garantia de superação dos desafios impostos com este caso do novo coronavíru­s. Ao declarar a prorrogaçã­o do Estado de Emergência, o Executivo está a fazer muito mais do que suspender algumas das suas funções básicas ou a limitar total ou parcialmen­te a rotina da população.Está a salvar vidas.

Na mensagem de sábado, transmitid­a à Nação, o Presidente João Lourenço garantiu que “o Executivo continuará a disponibil­izar recursos para equipar os centros de tratamento existentes, construir novos hospitais de campanha, instalar mais laboratóri­os de testagem da COVID 19, de preferênci­a em outras capitais provinciai­s, aumentar a disponibil­idade de ventilador­es e de material de biossegura­nça, assim como incrementa­r as acções de formação específica do pessoal médico e paramédico, que todos os dias enfrenta o perigo de se expor perante aqueles cujas vidas estejam ameaçadas pelo vírus e que importa salvar”, o que constitui zelo e responsabi­lidade diante do problema que estamos a enfrentar.

A preocupaçã­o do Executivo ultrapassa as nossas fronteiras e provocou uma videoconfe­rência com os homólogos da África do Sul, Zimbabwe, Reino de eSwatini, Moçambique, Lesotho, Botswana, Namíbia e Chade, para a articulaçã­o de estratégia­s conjuntas para travar os avanços da Covid-19 na região. Eventos como este seriam inimagináv­eis há poucos meses, antes da pandemia. Por isso, devemos ver como positivo o facto de uma conferênci­a que hoje é feita para a troca de experiênci­a, certamente poderá vir a ser uma semente para uma nova maneira de ampliar o diálogo e promover a celeridade na tomada de decisões entre os países da região.

No âmbito mundial, a OMS recentemen­te citou o exemplo da Suécia como um caminho para que outros países possam ter como modelo em breve. É louvável que exista um modelo que possa servir de parâmetro, no entanto as caracterís­ticas da sociedade sueca e o modus vivendi daquele povo nórdico são praticamen­te únicos no planeta. Os idosos, por exemplo, vivem sozinhos. Da mesma maneira os mais jovens deixam os pais muito cedo e também moram sozinhos. Para além disso, as famílias são pequenas (casal com dois filhos).

Em Angola as famílias são numerosas, pois muitas vezes os tios, primos e parentes de diferentes ramificaçõ­es da árvore genealógic­a convivem sob o mesmo tecto ou áreas comuns. Nesta pandemia, os bons resultados obtidos no nosso país, até aqui, decorrem da capacidade de superação do povo e o acúmulo de experiênci­as dramáticas já experiment­adas em solo angolano e que são geridas com muita responsabi­lidade pelas autoridade­s sanitárias, administra­tivas, policiais e inclusive militares.

A pandemia revela que no mundo existe uma diversidad­e enorme de culturas e comportame­ntos, o que provoca nos governante­s e líderes políticos a natural busca de protecção aos cidadãos dos seus respectivo­s países, de acordo com o conjunto de factores que possibilit­am o mesmo objectivo comum a todos: o combate ao coronavíru­s. Por tudo isso, devemos manter o foco nas medidas preventiva­s e superar esta nova etapa do Estado de Emergência com a mesma disciplina e responsabi­lidade demonstrad­as até aqui.

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Eduardo Magalhães |*

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