Craque lembra tempos áureos do futebol nacional
Antigo jogador do 1º de Agosto e do Petro de Luanda garante que com o futebol ganhou apenas fama e prestígio social
Ndunguidi Daniel guarda como fotos na memória a brilhante carreira futebolística. O antigo “camisola 7” do 1º de Agosto, hoje com 64 anos, acedeu ao convite do Jornal de Angola, para voltar ao passado e fazer uma incursão aos tempos de atleta incomum, com recortes técnicos de raríssima qualidade, que inflamavam o coração dos adeptos, com os dribles estonteantes e golos de belo efeito.
“Guardo muito boas recordações. São inúmeras as lembranças dos meus tempos de futebolista”, apressou-se a afirmar o ex-futebolista, para em seguida sublinhar estar satisfeito por tudo com quanto contribuiu para o futebol.
“No meu tempo, jogávamos por prazer e divertíamo-nos. Não ganhei dinheiro com o futebol, apenas fama e prestígio na sociedade angolana. Dei o meu máximo, mesmo sem grandes fortunas”, disse.
A grande diferença entre o futebol do seu tempo e o que é praticado hoje, segundo Ndunguidi, prendese com o facto de haver maior incentivo aos jogadores, sobretudo na vertente financeira. “Hoje, os atletas são bem renumerados, têm condições excelentes para a prática do futebol. Praticamente são profissionais, enquanto antes o futebol era amador, sem nada de remuneração. Actualmente, os atletas têm condições para praticar o futebol e no futuro não terão problemas sociais”, admitiu a velha glória.
Continuando a esgrimir argumentos, disse: “acho que em termos de condições de trabalho evoluiu muito. Deu um salto qualitativo. Agora, no tocante ao futebol, continuamos a não ter ainda a qualidade desejável”, acrescentou.
Figura emblemática do futebol, o ex-futebolista concorda que, enquanto esteve no activo, arrastava multidões e maravilhava adeptos com exibições de “encher os olhos”, tendo por isso gozado de uma enorme simpatia. A técnica invulgar e os dribles fora do comum são, de acordo com a antiga estrela do conjunto militar, resultado de uma preparação sem medir esforços.
“Naquele tempo tínhamos uma ambição desmedida de querer ganhar sempre e isso fazia de nós escravos do trabalho. No meu tempo jogávamos mais por amor à camisola, por amor à Pátria”, asseverou.
Melhor golo da carreira
Das suas qualidades destacavam-se o forte poder de drible, remate com os dois pés e a velocidade imprimida às jogadas, que lhe permitiam, com facilidade, abrir vias de acesso às balizas. E foi numa destas jogadas produzidas com arte e engenho, que sempre caracterizou o seu futebol, que diz ter surgido um dos seus melhores golos.
“O melhor golo da minha época foi contra os Diabos Negros de Brazzaville, em que fintei meia equipa e entrei com a bola na baliza. Não esqueço a jogada. Estava num momento de inspiração e optei por uma jogada individual, que felizmente resultou em golo”, recordou o ex-futebolista, formado nas escolas do FC de Luanda e que, em 1990, esteve próximo de representar o Sport Lisboa e Benfica, na altura, com 33 anos.
“As cores das camisolas que mais gostei de vestir foram a do FC Luanda, por me ter formado como futebolista, e a do 1º de Agosto, por me ter lançado no futebol ao mais alto nível competitivo”.
No percurso da carreira,
Ndunguidi diz ter cruzado o caminho de vários jogadores que o impressionaram, por diversas razões, casos de Jesus, Chico Afonso e Cavungi, mas sublinha ter sido o defesa-central Santo António, do Progresso Sambizanga, quem mais o marcou na época, pelas dificuldades que lhe criava.
“Era um jogador excepcional. Sempre que jogasse contra ele, tinha imensas dificuldades em ultrapassálo. Criava-me enormes problemas. Mas também tenho de citar o Thomas Nkono, do Canon de Yaoundé, um guarda-redes difícil de bater”, reconheceu o antigo goleador dos militares e da Selecção Nacional.
Ao serviço do 1º de Agosto, clube em que se tornou dono da lendária “camisola 7” rubro-negra, Ndunguidi conquistou feitos que o enaltecem e fazem dele dos jogadores mais emblemáticos da formação militar. Ainda assim, o ex-futebolista admite nunca ter chegado aos pés de Joaquim Dinis. “É o meu ídolo. Para mim, o maior dos maiores futebolistas angolanos”, acrescentou, justificando as qualidades técnicas, capacidade de drible e remate do “Brinca N’Areia”.
Actualmente os atletas são bem remunerados, têm condições excelentes para a prática de futebol. São profissionais, enquanto antes o futebol era amador, sem nenhuma compensação