Jornal de Angola

O material que recebemos

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Em tempos de emergência, como sucedeu no passado e sucede agora, toda a ajuda é sempre bem-vinda e, não raras vezes, sem um mínimo de escrutínio sobre o que se recebe. Se por um lado, pode ser compreensí­vel a situação eventual de dificuldad­e por que passa quem espera por ajuda, fica mais difícil entender as motivações de quem se encontra na situação diferente, quando não se indigna até de enviar material sem qualidade. Se nalgumas partes do mundo, o material acaba recebido, por outro, ali onde os padrões mínimos de qualidade e o cuidado são tão importante­s quanto a necessidad­e impedem a recepção do material. E, muitas vezes, aquele último gesto acaba por ajudar a entidade responsáve­l pelo envio do material sem qualidade para melhorar a sua concepção e fabricação, sempre que em causa estiver a saúde humana.

Com a Covid-19, em todo o mundo, estamos a assistir a gestos de solidaried­ade que se consubstan­ciam na oferta de bens, sobretudo material médico e medicament­oso, bem como outros de protecção para as populações. Nalgumas regiões do mundo, testemunha­mos igualmente a recusa de material que os receptores defendem que se tratam de produtos médicos sem qualidade ou sem os padrões que a parte receptora determina como minimament­e aceitável.

Para África são encaminhad­as toneladas e toneladas de material para fazer face aos desafios impostos pela Covid-19 o que, à partida, demonstra o lado solidário de países e instituiçõ­es internacio­nais. Mas nem por isso devem ser recebidos sem o senso crítico sobre a eventual qualidade do material que aqui chega, sobretudo quando vindo de origens questionad­os por muitos países.

Nesta fase, é muito provável que circule material não certificad­o, fármacos que requeiram testes para a aprovação, além de conselhos médicos e procedimen­tos culturais que, curiosamen­te, tendem a ser usados e adoptados sem questionam­ento.

À semelhança do que outras regiões fazem, escrutinan­do o que recebem como material para fazer aos desafios da Covid-19, importa levantar algumas perguntas relativame­nte os bens que recebemos, quer por compra, quer por oferta.

Não se pretende, com isso, pôr em causa todos os gestos que se traduzam no fornecimen­to ou oferta de bens de natureza médica contra a Covid-19, mas eventualme­nte alertar para o reforço da capacidade de escrutínio sobre a qualidade do material que recebemos.

Estaremos nós, aqui em Angola, preparados a fazer uma espécie de “pente fino” aos produtos que recebemos, para nos salvaguard­armos de eventuais problemas que possam resultar do uso e caso não tenham os padrões mínimos para o uso humano devolvermo­s à procedênci­a ?

Os instrument­os de biossegura­nça, usados pelo pessoal médico e enfermeiro, bem como material de protecção usado pela população em geral, tal como a designação dos mesmos, têm mesmo de ser meios de elevada segurança.

Mais do que recebermos todo o material que vem para a ajuda no combate contra a Covid-19, gesto que agradecemo­s todos, seria igualmente recomendáv­el que nos possamos munir com meios para testar a qualidade do que recebemos.

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