Nutricionista distribui sopa e papas a idosos e doentes
Desde o passado mês de Abril, várias pessoas carentes residentes no Distrito Urbano da Samba recebem ajuda alimentar de membros da comunidade
Cerca de 30 famílias, moradores do bairro Imbondeiro, Distrito Urbano da Samba, em Luanda, recebem, desde meados de Abril, uma refeição a base de sopas ou papas, uma iniciativa da médica Maria Futi Tati para ajudar aquelas que têm a seu cuidado doentes, crianças desnutridas ou idosos, visando uma melhor recuperação do estado de saúde.
Também moradora da zona, a especialista em Nutrição disse ao Jornal de Angola que a ideia é atender pessoas mais vulneráveis daquela circunscrição urbana da capital, enquanto durar o período de confinamento social, no âmbito do Estado de Emergência.
“Idosos, doentes crónicos e acamados, bem como algumas crianças desnutridas, sendo pessoas de maior risco, requerem cuidados e as famílias têm dificuldades em proporcioná-los”, relevou a promotora da iniciativa.
As refeições são servidas de segunda à sábado, a partir das 7h00 da manhã, e segundo a nutricionista, ajudam a fortalecer o organismo e ganhar imunidade.
Maria Futi, que já têm experiência em acções de beneficência, disse que para ter o número de famílias que apoia, recorreu à Comissão de Moradores que efectuou o cadastramento dos mais necessitados, principalmente “aqueles que não têm o que comer. Há idosas que vendem petróleo para conseguir o pão”.
“Daniel Jamba Zacarias, 34 anos, mecânico de profissão, está a padecer de tuberculose pulmonar. Não trabalha há um ano e meio. Sem condições de se autosustentar, vive de ajuda de familiares e amigos. Às vezes, não tem nada para comer, realça que “com a sopa ou a papa, já consigo comer duas vezes por dia”.
Maria Júlia Tonha, 45 anos, recebe às manhãs a refeição para o esposo que teve um AVC, há 8 anos. “Não temos condições de dar três refeições por dia a ele que carece de mais cuidados”.
Mãe de oito filhos, Maria Tonha deixou de vender no mercado informal, agora remedeia com a venda de legumes à porta de casa.
Já Verónica Iungui, 27 anos, tem uma filha de três anos que padece de mal nutrição. Segundo ela, não teria possibilidade de dar uma sopa ou papa com todos os ingredientes necessários, porque “nem sempre consigo dar uma refeição em condições”.
Sem o apoio do marido que a abandonou com três filhos, há vários anos, Verónica Iungui sobrevive de biscates para sustentar os seus rebentos.
De 14 anos, Leonardo Luciano desloca-se todos os dias à casa da nutricionista Maria Futi em busca da refeição para a sua avô, de 68 anos, a contas com paludismo. “Eu venho pegar a sopa com pão, para o matabicho e jantar da avô”, disse o adolescente visivelmente emocionado.
“Chegamos à conclusão que podíamos realizar essa ideia e partir para acção. Gosto de prática”, disse a médica que trabalha com alguns voluntários e pessoas compenetradas com o projecto.
Outros apoios
A médica revelou que a Comissão de Moradores conseguiu o apoio de uma padaria local que fornece pão diariamente, de acordo com o número de beneficiários. Algumas cantinas contribuem com massa, sal, arroz e outros ingredientes para as refeições, enquanto que pessoas singulares apoiam com valores monetários para a compra de legumes, frescos e frutas.
“Usamos vários produtos locais. A sopa ou a papa servida aos doentes garante apenas 1200 calorias, o que é muito pouco”. A especialista salientou que cada alimento tem o seu valor nutricional e deve ser consumido sempre e não apenas quando as pessoas estão doentes.
“Apostamos numa variedade de verduras, legumes, tubérculos e frutas, para que as imunidades destas pessoas mais velhas e os doentes não diminuam tanto e com isto, prevenir a mal nutrição”, disse Maria Futi realçando ser “possível levar a cabo acções permanentes do género em prol das comunidades abandonadas”.
O presidente da Comissão de Moradores do bairro Imbondeiro, considera a iniciativa “humana e sábia”, a experiência da cozinha comunitária.”Muitas famílias não conseguem ter o pequeno almoço, a principal refeição do dia, para as pessoas que se encontram debilitadas”.
Segundo José Kibeto, o cadastramento não foi difícil, porque domina o bairro e conhece as pessoas. A maior dificuldade é o fornecimento da água. Existe um tanque comunitário, onde a Epal abastece para consumo de todos. As torneiras da zona deixaram de jorrar o precioso líquido desde 2017.
Maria Tati, que confecciona e distribui a partir de casa as refeições, disse, ao Jornal de Angola, que esta ideia é uma experiência piloto que deve evoluir para uma cozinha comunitária nos próximos dias