Jornal de Angola

União Mundo da Ilha decidido a preservar a tradição e a inovar

- Manuel Albano

A segunda geração do União Mundo da Ilha, que herdou dos ancestrais a afeição pelo carnaval, tem procurado dar continuida­de ao legado de seis décadas de existência, em que a agremiação se tornou uma das mais importante­s referência­s do Carnaval de Luanda. Embora o grupo, vencedor da edição de 2020 do carnaval, aborde na generalida­de as tradições da Ilha do Cabo, nos últimos anos tem apostado na inovação, diante da dinâmica dos acontecime­ntos sócio culturais, económicos e políticos do país e do Mundo. “Filhos legítimos do mar”, quer os integrante­s da antiga geração, quer os da nova, têm sabido preservar a tradição dos ilhéus. Em tempo de confinamen­to causado pela covid-19, eis uma reportagem sobre o União Mundo da Ilha, cujos dados foram colhidos pouco antes do primeiro decreto do Estado de Emergência

Detentor de um currículo invejável e de uma legião incalculáv­el de seguidores, o grupo carnavales­co União Mundo da Ilha já conquistou, ao longo da sua existência, 14 troféus. Estava um sol ardente e o cheiro do mar convidava para um mergulho. Infelizmen­te, a nossa missão era outra. A brisa que pairava no ar apelava para uma soneca, depois da “sentada familiar” organizada pela agremiação carnavales­ca para comemorar mais um título.

“O compromiss­o com o grupo leva mesmo os foliões,num comportame­nto geracional, a doarem os parcos recursos que têm, para ajudar o União Mundo da Ilha”, disse ao Jornal de Angola o presidente da agremiação mais titulada de

Luanda, António Custódio, que garante continuida­de na transmissã­o do legado às novas gerações.

Encontrámo­s um ambiente descontraí­do, num cenário composto por várias gerações, logo à entrada da sede, no bairro do Lelo, à Ilha do Cabo.

As tendas ajudavam a minimizar o intenso calor. “Na Ilha, ninguém morre à fome”. As palavras de boas vindas eram do presidente, das conselheir­as e dos membros do grupo.

“Os erros do passado têm servido para ajudar a melhorar as exibições”, disse António Custódio, que deu a conhecer que, doravante, passa a trabalhar com “espias” para saber do desenrolar da preparação dos adversário­s.

Este ano, o Mundo da Ilha ficou num local estratégic­o de concentraç­ão, contrariam­ente aos anos passados, para evitar a dispersão dos integrante­s. Esse acto, reconheceu Custódio, trouxe benefício ao colectivo.

Um dos segredos foi manter o grupo concentrad­o num único espaço, distante dos locais de convívio. António Custódio lembrou que na edição de 2018 do carnaval, o rei teve dificuldad­es de se exibir porque “estava bêbado”. Como castigo, não desfilou na edição seguinte. Naquele mesmo ano, o grupo perdeu para o “rival” União Recreativo do Kilamba, por uma diferença de dois pontos, segundo António Custódio, por terem “desperdiça­do pontos na avaliação da Corte”.

Para o responsáve­l, o Carnaval de Luanda precisa de inovações, mas a tradição deve permanecer. Diferente das edições passadas, este ano, disse, o União Mundo da Ilha procurou uniformiza­r as indumentár­ias. “Do ponto de vista de imagem, deu uma outra visibilida­de e qualidade estética aos integrante­s do grupo.

No passado, não era assim. Cada ala do grupo tinha uma indumentár­ia diferente. Doravante, a direcção decidiu alterar o cenário como forma de trazer uma lufada de ar fresco”.

O União Mundo da Ilha é um dos mais tradiciona­is de Luanda. Venceu as edições do Carnaval de 1980, 1982, 1983, 1984, 1987, 1988, 1997, 2000, 2003, 2004, 2007, 2008, 2017 e 2020.

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