União Mundo da Ilha decidido a preservar a tradição e a inovar
A segunda geração do União Mundo da Ilha, que herdou dos ancestrais a afeição pelo carnaval, tem procurado dar continuidade ao legado de seis décadas de existência, em que a agremiação se tornou uma das mais importantes referências do Carnaval de Luanda. Embora o grupo, vencedor da edição de 2020 do carnaval, aborde na generalidade as tradições da Ilha do Cabo, nos últimos anos tem apostado na inovação, diante da dinâmica dos acontecimentos sócio culturais, económicos e políticos do país e do Mundo. “Filhos legítimos do mar”, quer os integrantes da antiga geração, quer os da nova, têm sabido preservar a tradição dos ilhéus. Em tempo de confinamento causado pela covid-19, eis uma reportagem sobre o União Mundo da Ilha, cujos dados foram colhidos pouco antes do primeiro decreto do Estado de Emergência
Detentor de um currículo invejável e de uma legião incalculável de seguidores, o grupo carnavalesco União Mundo da Ilha já conquistou, ao longo da sua existência, 14 troféus. Estava um sol ardente e o cheiro do mar convidava para um mergulho. Infelizmente, a nossa missão era outra. A brisa que pairava no ar apelava para uma soneca, depois da “sentada familiar” organizada pela agremiação carnavalesca para comemorar mais um título.
“O compromisso com o grupo leva mesmo os foliões,num comportamento geracional, a doarem os parcos recursos que têm, para ajudar o União Mundo da Ilha”, disse ao Jornal de Angola o presidente da agremiação mais titulada de
Luanda, António Custódio, que garante continuidade na transmissão do legado às novas gerações.
Encontrámos um ambiente descontraído, num cenário composto por várias gerações, logo à entrada da sede, no bairro do Lelo, à Ilha do Cabo.
As tendas ajudavam a minimizar o intenso calor. “Na Ilha, ninguém morre à fome”. As palavras de boas vindas eram do presidente, das conselheiras e dos membros do grupo.
“Os erros do passado têm servido para ajudar a melhorar as exibições”, disse António Custódio, que deu a conhecer que, doravante, passa a trabalhar com “espias” para saber do desenrolar da preparação dos adversários.
Este ano, o Mundo da Ilha ficou num local estratégico de concentração, contrariamente aos anos passados, para evitar a dispersão dos integrantes. Esse acto, reconheceu Custódio, trouxe benefício ao colectivo.
Um dos segredos foi manter o grupo concentrado num único espaço, distante dos locais de convívio. António Custódio lembrou que na edição de 2018 do carnaval, o rei teve dificuldades de se exibir porque “estava bêbado”. Como castigo, não desfilou na edição seguinte. Naquele mesmo ano, o grupo perdeu para o “rival” União Recreativo do Kilamba, por uma diferença de dois pontos, segundo António Custódio, por terem “desperdiçado pontos na avaliação da Corte”.
Para o responsável, o Carnaval de Luanda precisa de inovações, mas a tradição deve permanecer. Diferente das edições passadas, este ano, disse, o União Mundo da Ilha procurou uniformizar as indumentárias. “Do ponto de vista de imagem, deu uma outra visibilidade e qualidade estética aos integrantes do grupo.
No passado, não era assim. Cada ala do grupo tinha uma indumentária diferente. Doravante, a direcção decidiu alterar o cenário como forma de trazer uma lufada de ar fresco”.
O União Mundo da Ilha é um dos mais tradicionais de Luanda. Venceu as edições do Carnaval de 1980, 1982, 1983, 1984, 1987, 1988, 1997, 2000, 2003, 2004, 2007, 2008, 2017 e 2020.