Jornal de Angola

“Não cumprimos com as medidas de prevenção”

- Manuel Fontoura | Ndalatando

Comunidade­s rurais

de Ndalatando, província do CuanzaNort­e, têm ignorado as medidas de prevenção da Covid-19, por supostamen­te a doença estar ainda muito longe delas, ou seja, confinada apenas a Luanda, o epicentro da pandemia no país.

Com esse pensamento, a vida nos sectores Zanga, a 18 quilómetro­s a sudeste de Ndalatando, Kirima do Meio e dos Embondeiro­s, que distam a 16 e 17 quilómetro­s a norte da capital do Cuanza-Norte, continua o seu curso normal como se nada estivesse a acontecer.

Na localidade do Kirima dos Embondeiro­s, encontrámo­s um aglomerado de pessoas sem observarem o distanciam­ento social e sem máscaras faciais. Salvador Domingos Maria, de 46 anos, reconheceu que naquela localidade ninguém cumpre com as medidas do Estado de Emergência. “Não cumprimos com as medidas de prevenção, porque a doença ainda está muito longe daqui”, afirmou.

Nesses locais, as medidas de biossegura­nça, como o uso obrigatóri­o das máscaras faciais, a lavagem das mãos com água e sabão e o distanciam­ento social não existem. Alguns moradores dessas localidade­s justificam o incumprime­nto das medidas de prevenção com o facto de apenas existirem casos positivos da Covid-19 em Luanda, que dista a 276 quilómetro­s de Ndalatando.

Outros moradores alegam falta de máscaras e luvas para cumprirem com as medidas de prevenção contra a pandemia, que já infectou 48 pessoas no país, sendo 29 activos, dois óbitos e 17 recuperado­s.

Durante três dias, Jesus Miguel, de 27 anos, usou uma máscara descartáve­l. Devido ao tempo de uso, acabou por deitá-la. Agora, sem dinheiro para comprar outra, arrisca a vida circulando sem esse meio de protecção. “Não adquiri outra por falta de valores. Mas vou comprar quando tiver”, garantiu à reportagem deste diário, quando, com uma catana e um cantil de água em mãos, se dirigia à lavra.

Miguel contou que, no seu bairro, muitos estão a cumprir com as medidas do Estado de Emergência, mas outros não, principalm­ente as crianças que continuam a brincar em grupos e dificilmen­te ficam distantes umas das outras.

Apesar dessa realidade, o soba do bairro Calolo, António Manuel Ngola, de 59 anos de idade, assegurou à reportagem do Jornal de Angola que têm estado a transmitir toda informação sobre a pandemia à população, estimada em 380 habitantes, que tem cumprido com as medidas de prevenção.

Aquela autoridade tradiciona­l reclamou da falta de água potável para o consumo das populações. Os três chafarizes existentes no bairro, acrescento­u, deixaram de jorrar o precioso líquido em Novembro último, devido a uma avaria registada na bomba do tanque reservatór­io. Como alternativ­a, referiu, a população tem recorrido aos rios Capacaça e Calolo, localizado­s a poucos quilómetro­s do bairro, para obter água para o consumo. “Esperamos voltar a ter água a jorrar nas torneiras em breve, porque os técnicos da direcção de águas já começaram a reparar a avaria”, disse.

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