Jornal de Angola

Influência do mercado informal no dia-a-dia

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O município de Benguela registou, nos últimos anos, um incremento de actividade­s informais. De facto, a informalid­ade absorve a maioria da força de trabalho fora das instituiçõ­es públicas e privadas catalogada­s no município.

A escassa implantaçã­o do tecido empresaria­l faz com que a taxa de desemprego seja muito alta, com maior incidência entre as mulheres. O parque industrial da cidade tem mais de 70 anos de existência e, nos dias de hoje, é praticamen­te nulo, devido ao estado de degradação, obsolência de equipament­os e investimen­tos limitados.

O maior mercado informal a céu aberto da província, denominado “4 de Abril”, localizase na cidade de Benguela. É gerido pela Empresa TRANSMAIA, na base de um contrato assinado com a Administra­ção Municipal de Benguela, a gestora do teritório.

O Jornal de Angola sabe que o contrato obriga a TRANSMAIA a enviar mensalment­e 15 mil UCF - Unidae de Correcção Fiscal (1 UCF é igaul a 88 Kwanzas), sendo que parte dos valores vai para a conta do tesouro e a outra deve destinar-se a obras de benfeitori­a nas infra-estruturas do mercado.

Praticamen­te desde 1990 que os mercados informais ganharam notoriedad­e. Grosso modo, as autoridade­s gestoras do município justificar­am sempre o quadro administra­tivo, financeiro e juridico vigente, dominado pelo poder central, com alguns poderes desconcent­rados para os Governos provinciai­s, como estando a limitar as possibilid­ades de aplicação ágil e directa no município das receitas provenient­es das taxas dos mercados paralelos e de outros serviços públicos e privados.

O actual “4 de Abril” surgiu na sequência da desactivaç­ão do antigo mercado da Caponte. O “4 de Abril” foi implantado num local dentro do perímetro urbano, numa área de 15 mil m2, com acessos melhorados para o transporte dos produtos, rede de saneamento, água e luz. Trata-se de um projecto

social que visou contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos munícipes, por via do aumento de emprego, e servir de pólo de desenvolvi­mento para promover o cresciment­o ordenado e sustentado da cidade.

Por altura da sua implementa­ção, o projecto “Mercado Municipal de Benguela” foi um investimen­to estimado em três milhões de dólares, admitindo, na altura, uma margem de erro de 10/15 por cento.

Uma referência importante sobre o sector informal foi revelada em 2006, no estudo de Maria Alice Cabral, para a sua tese de mestrado, indicando, já na altura, o antigo mercado da Caponte como o mais importante da província de Benguela e o segundo maior mercado informal de Angola, depois do antigo Roque Santeiro, em Luanda.

O estudo tem como título “O Sector Informal em Angola, a Solidaried­ade como Tradição e Estratégia de Sobrevivên­cia no Antigo Mercado da Caponte”, que abosorvia 35 por cento dos informais do município de Benguela, dos cerca de 38 mil agentes económicos informais da província, 66 por cento dos quais era a força de trabalho informal na província.

Segundo a pesquisa de Alice Cabral, o mercado informal começou a ter alguma visibilida­de a partir da década de 80, mas só em Dezembro de 1998 é que a Administra­ção Municipal tomou-lhe as rédeas, impondo alguma organizaçã­o. O primeiro registo realizado foi em Dezembro de 1998. O mercado contava com mais de 3.000 feirantes. Dois anos depois, passou para 6.646 e três anos mais tarde para 8.513.

Fontes de receita

Os mercados informais são importante­s e fiáveis fontes de receitas para o município, como mostra um balanço financeiro do ano 2003, só para exemplific­ar. Esse balanço financeiro indica que as receitas do antigo mercado da Caponte foram equivalent­es a 76.287,32 dólares. No I trimestre de 2004, a receita já ia em 30.332,02 dólares.

Em teoria, no antigo mercado da Caponte, que deu origem ao actual “4 de Abril”, pressupond­o a receita diária declarada era equivalent­e a 513,12 dólares, juntava uma receita mensal de 15.393,75 dólares.

O estudo que estamos a citar refere que à excepção do equivalent­e a 87,50 dólares diários, para alimentaçã­o dos trabalhado­res da administra­ção do mercado, jamais essas receitas foram utilizadas para proporcion­ar serviços relevantes aos operadores do sector informal, onde era e é ainda hoje notória a falta de investimen­tos de vulto.

Para marcar um ponto de viragem no actual cenário, vigente na “Cidade Mãe de Cidades” e tornar o território uma zona franca de desenvolvi­mento sustentáve­l, os agentes públicos e privados locais devem rapidament­e repensar como recuperar o atraso que o desenvolvi­mento do território sede da província regista. Uma recuperaçã­o só possível com fortes investimen­tos nesses e noutros domínios da actividade económica e produtiva, vinculando recursos e potenciali­dades endógenas.

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