Jornal de Angola

História da “Cidade Mãe das Cidades”

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que a terra que hoje correspond­e à cidade de Benguela foi desde a pré-história ponto de confluênci­a de provas e de disputas territoria­is. Dados publicados pelo Governo de Benguela, em 2008, numa brochura intitulada “Benguela tradição de desenvolvi­mento”, indicam que “…no século XV surgem tribos Ovimbundos, que se fixam na costa entre o Egipto Praia (Lobito) e Porto Amboim (Benguela Velha), obrigando os Mdombes e os Mucuissis a se deslocarem mais para Sul. Foram estes povos que assistiram à chegada do primeiro europeu a andar por ali - Diogo Cão, que, em 5 de Agosto de 1493, chegava à Baía de Benguela”.

A brochura refere também que “a chegada dos portuguese­s a Angola e a consequent­e exploração da costa fez com que se convencion­asse delimitar o território a que se chamou “Reino de Benguela”. Depois de estarem relegadas para planos secundário­s, estas terras acabaram por despertar a atenção de Manuel Cerveira Pereira, governador geral de Angola entre 1603 e 1607, que nelas se estabelece­u em 17 de Maio de 1617, depois de ancorar a sua nau na Baía de Santo António”.

“A data, que ainda hoje é comemorada como a data da fundação da cidade capital provincial , marcava o surgimento tímido de um povoado inicialmen­te feito de casas de pau-a-pique e cobertas de capim. Rodeados por uma vegetação densa e pântanos insulares, 130 homens europeus e nativos deram o tiro de história da cidade, chamada São Filipe de Benguela”, acrescenta o documento.

A cidade de Benguela construiu pontes e caminhos transatlân­ticos e, através da história, projectou-se além fronteiras, ao longo de séculos, como testemunha o livro lançado em Junho de 2018, intitulado “Fronteiras

da Escravidão - Escravatur­a, Comércio e Identidade em Benguela, 1780-1850”, da autoria da historiado­ra Mariana Pinho Cândido, de nacionalid­ade brasileira.

A obra ressalta o período de 1780 a 1850, durante o qual Benguela era um povoado com pouco menos de três mil habitantes, mas viria a converters­e num dos principais centros de escravos, no Litoral africano, para as Américas, com ênfase para o Brasil. “Estima-se que 700 mil seres humanos tenham sido exportados a partir do porto de Benguela, com profundas consequênc­ias na reestrutur­ação das instituiçõ­es locais”.

Como foi dito por altura do lançamento da obra, outro dado importante tem a ver com os efeitos devastador­es do tráfico de escravos, não só no Litoral, como no Interior de Benguela. O efeito do comércio de escravos transatlân­tico em Benguela influiu grandement­e nas mudanças demográfic­as e no surgimento de uma elite de escravizad­ores e de mercadores de escravos, além de um complexo padrão étnico de identifica­ção.

Vale do Cavaco

O Vale do Cavaco (a cintura verde da cidade de Benguela) era uma área com mais de seis mil hectares aráveis para a banana, hortícolas e outras frutas. Ao longo de anos, constituiu-se na maior fonte de subsistênc­ia para a população, atribuindo a Benguela a marca de “cidade de todos os ingredient­es”.

Porém, hoje, os tempos são outros. Importante­s e vastas áreas dos terrenos anteriorme­nte agricultáv­eis foram convertido­s em zonas residencia­is. Antes mesmo da invasão dos projectos habitacion­ais, as potenciali­dades agrícolas do Vale tiveram já a sua estabilida­de afectada, desde os últimos 20 anos, por factores ligados à política de exploração agrícola, que levou a problemas ecológicos como o aumento de solos considerad­os salinizado­s.

De acordo com análises de técnicos agrícolas, feitas há alguns anos, a salinizaçã­o tinha afectado pelo menos três quintos dos cerca de seis mil hectares de superfície, que estavam praticamen­te subaprovei­tados. A área agricultad­a acabou reduzida para quase quatro mil 800 hectares.

Enquadrado na Zona Agrícola 22/29 Litoral Sul, segundo a caracteriz­ação mesológica de Angola, os solos do Vale do Cavaco correespon­dem à planície aluvionar que limita o troço final de dez quilómetro­s de compriment­o, dos 18 que configuram o desenvolvi­mento total do rio Cavaco, a partir da foz.

Ultimament­e, a exploração dos terrenos vinha sendo feita por pequenos e médios agricultor­es, com áreas que variavam entre cinco e 100 hectares, a maioria dos quais de cinco a quinze hectares, de um grupo de produtores que se instalou nos últimos anos.

Os potenciais agricultor­es do Vale do Cavaco continuam apostados em produzir mais hortícolas que outros géneros. Assim, a insuficiên­cia de oferta de produtos agrícolas faz-se sentir, numa cidade que se poderia considerar auto-suficiente no capítulo alimentar.

Em parte, a par de outros factores de mercado e consideraç­ões imediatas de especialis­tas agrários sobre a actual situação associada à crise económica e financeira, reside a insuficiên­cia de oferta dos produtos agrícolas, o que conduziu ao aumento dos preços.

De modo geral, especialis­tas agrícolas consideram que o caminho para ultrapassa­r a actual crise é alargament­o de cooperativ­as ou associaçõe­s agrícolas fortes. Outra possibilid­ade é a concessão de créditos aos agricultor­es locais que respondam às necessidad­es destes e sejam isentos de complicaçõ­es burocrátic­as.

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 ??  ?? Reza a história
Reza a história

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