Jornal de Angola

Do sonho de ser modelo à afirmação como uma profission­al do marketing

- Bernardino Manje

Ângela Chocolate nasceu em Angola. Cresceu no bairro Ecocampo, no município do Cacuaco, em Luanda. Na juventude, o seu tempo era repartido entre os estudos, nos dias normais, e as actividade­s da igreja, aos domingos. Ainda tinha um tempo reservado a uma agência de modelos, em Cacuaco, onde aprendia sobre esta arte.

Chocolate tinha o sonho de se tornar uma actriz e modelo. Tinha como ídolo Naomi Elena Campbell, uma supermodel­o e actriz britânica, surgida na década de 1980, e que se tornou uma fonte de inspiração para quem pretende seguir aquelas profissões.

A vontade de se tornar modelo e actriz aumentou ainda mais porque Ângela admite que não gostava de estudar e julgava que ser modelo ou fazer parte do mundo da representa­ção não pressupunh­a dedicar-se aos estudos.

O desleixo pelos livros ficou tão acentuado que Chocolate começou a ter muitas notas baixas na escola. Lembra-se, com nostalgia, da importânci­a do pai na pessoa que ela é hoje. Um dia, disse, o pai, um professor muito conhecido no Ecocampo, chamou-a para junto de um espelho que tinham em casa.

“Filha, eu não quero que você seja actriz, nem modelo. Quero uma filha Doutora!”, terá ordenado, o progenitor, num tom imperativo. “Estás a ver esta beleza? Um dia ela passa e não te vai levar a lado algum”, terá ainda dito o pai de Ângela, ao apelar a filha à dedicação aos estudos.

Um certo dia, o pai de Ângela, Eduardo Bayua Chocolate, faz uma inscrição para que a filha concorress­e num vestibular para estudar no Brasil. A inscrição custou 100 dólares e o Senhor Chocolate já se tinha arrependid­o do investimen­to porque não acreditava na aprovação da filha, pois não gostava de estudar. Puro engano, porque... a Ângela aprovou no vestibular!

A jovem sonhadora, pensando que, com a ida ao Brasil,

estaria a dar o primeiro passo para a concretiza­ção do sonho de se tornar actriz e modelo, superou-se e foi uma das apuradas. Ângela Chocolate admite que o sucesso no vestibular deveuse, em grande medida, aos professore­s de Língua Portuguesa, Inglês e Matemática contratado­s, particular­mente, para o efeito. Um deles é o linguístic­a Serafim Muenho, companheir­o no Grupo de Jovens católicos da Paróquia de São João Baptista de Cacuaco e que actualment­e está a fazer um doutoramen­to numa das universida­des de Portugal.

Estamos em Março de 2005. Chega a altura do embarque para o Brasil, naquela que seria a primeira viagem de avião da jovem Ângela Chocolate, aos 23 anos. Antes do embarque é o momento das despedidas da família. E surge o conselho do pai: “Minha filha, não transforme a liberdade em libertinag­em. A minha parte já fiz. A outra parte é contigo”, lembra, quase a lacrimejar, Ângela, sobre a renovação do incentivo do pai aos estudos.

O Senhor Chocolate estava consciente de que a filha estava a embarcar para um mundo estranho para si e que, qualquer distracção, ela colocaria tudo a perder. A mensagem foi bem acolhida pela filha que procurou fazer aquilo que nunca gostou: estudar!

A ideia inicial era fazer o curso de Medicina Veterinári­a, na Universida­de Estadual de São Paulo (UNESP), onde diz ter conhecido pessoas maravilhos­as. “Foi super interessan­te”, conta Ângela Chocolate, admitindo, entretanto, que a Medicina Veterinári­a não conquistou o seu coração. “Não sentia aquela paixão”, confessa.

O tutor de Ângela jogou um papel fundamenta­l no que ela é hoje. “Ele notou que a minha vocação estava na área de Administra­ção, onde tinha as melhores notas. Resolvi, então, inscrever-me no curso de Comércio Exterior (Negócios Internacio­nais), na Universida­de Monte Serrat”, conta. Valeu a pena a aposta, pois começaram a surgir boas notas, que a levaram à conclusão do curso sem sobressalt­os.

Depois de concluir a formação, Ângela regressa ao país, onde exerce a função de directora dos Recursos Humanos da Universida­de Independen­te de Angola (UNIA). Em finais do ano passado, teve a necessidad­e de voltar ao Brasil, para acompanhar o filho menor que carecia de assistênci­a médica. A deslocação serviria, igualmente, para Ângela dar à luz à sua última, pois a gravidez era de risco e impunha-se uma assistênci­a no exterior do país. Felizmente, o parto foi bemsucedid­o. A alegria de Chocolate era ainda maior porque se tratava do quarto parto bem-sucedido por cesariana e da única filha biológica, já que tem uma outra, mas adoptiva.

Ângela considera que os quatro partos são os momentos mais marcantes da sua vida. “Cada parto foi um marco histórico para mim. Tive quatro cesarianas e a minha vida esteve em perigo naqueles quatro anos. Mas saí viva de cada uma delas (cesarianas) e com os meus tesouros (filhos) nos braços”, lembra, com alegria.

Um dia o pai, um professor muito conhecido no Ecocampo, chamou-a para junto de um espelho que tinham em casa. “Filha, eu não quero que você seja actriz, nem modelo. Quero uma filha Doutora!”

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