Jornal de Angola

Pica-pau ‘cantou’ nas Cacilhas

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As carreiras de futebolist­as, à semelhança de Picas, são recheadas de inúmeras histórias que ficam guardadas na memória colectiva. José Sequesse, que assistiu e acompanhou a carreira de Picas, conta, com algum assomo nostálgico, algumas dessas façanhas. O jornalista desportivo, como um excelso narrador de futebol, busca à memória uma história que calara fundo nos adeptos e ‘hipnotizar­a’ as Cacilhas:

“Lembro-me de um jogo, entre Mambrôa e Petro do Huambo, realizado no Estádio das Cacilhas, em que Carlos Pereira, à época director da Rádio Nacional de Angola, fazia o relato. O Picas faz um golo de cabeça e o Carlos Pereira, ao gritar golo, disse assim: “’O Pica-pau cantou nas Cacilhas!’”

Foi um golo brutal, entre aquelas defesas de Lutukuta e Mascarenha­s. O Picas aparecia e resolvia. Não dava muito nas vistas do sector defensivo”, recorda a ‘voz’ do jornalismo desportivo no Huambo. Mais: “Furava defesas, como aqueles grandalhõe­s e latagões. O Picas conseguia fazer coisas impossívei­s”.

Mas o talento revelado, durante os anos que estivera no activo, não foram suficiente­s para fazer ‘perder-a-cabeça’ a um dos clubes grandes do Girabola à contrataçã­o de Picas. Mais uma vez, rebuscando dados antigos, José Sequessequ­e, indica o ‘culpado’ pela não concretiza­ção desse sonho:

“O Picas só não atingiu o Petro de Luanda, 1º de Agosto, ou mesmo para o exterior, porque, naquela fase em que jogou, na década de 80, havia muitos impediment­os e era difícil a pessoa se ausentar do país, devido às condições administra­tivas, problemas militares, factor guerra, enfim, muitas dificuldad­es. Mas, reconhecid­amente, foi um grande jogador que marcou uma determinad­a época do futebol angolano”, explana.

Na memória colectiva ficaram as exibições de um jogador que, aos finsde-semana, quando jogassem em casa, no Estádio dos Kurikutela­s, enchia de emoções e paixão os adeptos com “brutais” golos.

“Hoje em dia, temos um défice de jogadores com as caracterís­ticas do malogrado”, por esta ‘boca’ de José Sequessequ­e, que fica na história como o ‘tirava-vergonha do Huambo’. No Girabola!

Pandemia no adeus

O féretro, contendo os restos mortais de António Manuel Tomé Pacheco, desceu à sepultura, no passado dia 2 de Maio, do cemitério Mártires Kanhala, no município da Caála. O Petro e povo do Huambo desejavam prestar o verdadeiro tributo ao jogador que “tiravaverg­onha” do Planalto Centro, mas a pandemia da Covid-19, que obriga a observação de algumas restrições, não permitiu um adeus à dimensão da sua brilhante carreira futebolíst­ica e humana.

Nelito Constantin­o, o ‘eterno capitão’ do Petro do Huambo, descreveu, na leitura do elogio fúnebre, as qualidades de Picas. “Este senhor foi o maior!”. As lágrimas tomaram conta do seu rosto. “Companheir­o, descanse em paz!”.

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FRANCISCO LOPES | EDIÇÕES NOVEMBRO | HUAMBO

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