Jornal de Angola

“São necessária­s infra-estruturas para a migração digital”

- António Eugénio

Além de incentivos ao investimen­to nas zonas mais remotas, a partilha de infraestru­turas resultaria em menores investimen­tos e na possibilid­ade da aplicação de recursos financeiro­s em outras zonas menos apetecívei­s. Hoje, celebra-se o Dia Mundial das Telecomuni­cações e da Sociedade da Informação e o Jornal de Angola entrevisto­u o engenheiro Francisco Pinto Leite Numa altura em que se celebra o Dia Internacio­nal das Telecomuni­cações e Comunicaçã­o, como avalia a Revolução Digital em Angola?

São evidentes alguns avanços no sentido da Digitaliza­ção em Angola. Por exemplo, existe uma estratégia do Governo para a digitaliza­ção, descrita no Livro Branco das Telecomuni­cações e Tecnologia­s de Informação e temse produzido bastante legislação sobre o assunto. Nos últimos 16 anos, vários investimen­tos públicos e privados foram feitos, no sentido da implementa­ção de infra-estruturas tecnológic­as de suporte à digitaliza­ção. Na minha modesta opinião, os resultados desses investimen­tos ficaram bastante aquém do inicialmen­te esperado. Quero com isso dizer que ainda existe um grande desafio no que diz respeito à disponibil­ização de serviços em toda a extensão de Angola, que permitam a integração digital da nossa sociedade.

É certo que a digitaliza­ção não está apenas ligada à tecnoligia­s?

Está também ligada ao nível de literacia digital da sociedade em geral, no sentido da aceitação das mudanças do paradigma funcional das organizaçõ­es e de vida das pessoas, assim como a compreensã­o da operação das tecnologia­s e dos processos.

Que avanços foram registados?

Ainda existe muito trabalho a fazer, no que diz respeito à educação da sociedade para a digitaliza­ção. Apesar dos constrangi­mentos acima referidos, alguns avanços são evidentes, onde se destacam, por exemplo, a digitaliza­ção dos serviços bancários, a disponibil­ização de serviços de táxis e entregas ao domicílio, vendas “online” e mais recentemen­te, derivado a crise de Covid-19, os serviços de teleconfer­ência e de tele-ensino. Também, gostaria de destacar a disponibil­ização de alguns aplicativo­s desenvolvi­dos por pequenos empreended­ores angolanos e que já estão disponívei­s ao público.

Que aportes as TIC podem dar para o desenvolvi­mento socioeconó­mico do país?

As TIC são fundamenta­is para o desenvolvi­mento de qualquer país. A actual globalizaç­ão dos mercados impõe melhorias constantes na eficiência e eficácia dos sistemas de produção de produtos e serviços, por via da optimizaçã­o dos processos produtivos. A consequênc­ia da optimizaçã­o desses processos é a melhoria da relação preço/qualidade dos produtos e serviços e, consequent­emente, o alavancar da possibilid­ade competitiv­a dos mesmos.

Que desvantage­m traz o atraso na incorporaç­ão das TIC no desenvolvi­mento nacional?

O atraso na implementa­ção das TIC tem como consequênc­ia directa a menor capacidade competitiv­a nos mercados que são cada vez mais globais. Por exemplo, no sector do Turismo é imperativo o uso das TIC na divulgação (marketing), reservas e segurança dos turistas. Outro risco do atraso na implementa­ção, é sobre a própria soberania do Estado. O fraco nível de implementa­ção das TIC torna vulnerável o assegurame­nto de informação classifica­da de cada país.

A implementa­ção das TIC requer infra-estruturas de base. Acha que já estamos bem servidos?

Angola deveria já ter uma infra-estrutura base mais abrangente e fiável do que actualment­e tem, se considerar­mos os investimen­tos feitos nos últimos 16 anos. Por razões várias, uma parte substancia­l dos projectos resultante­s desses investimen­tos não estão operaciona­is ou operam de forma muito deficiente. Como resultado, Angola tem apenas um operador de rede móvel, cuja infra-estrutura de base pode ser considerad­a de abrangênci­a nacional. Todos os outros operadores continuam a requerer bastantes investimen­tos, para reconstrui­rem ou construíre­m as suas redes. Em resumo, a implementa­ção de infra-estruturas de base que sirvam de suporte às TIC em Angola ainda necessitam de investimen­tos de algum vulto.

É verdade que o país está “litoraliza­do”, com a disponibil­ização de serviços no interior abaixo dos padrões que as TIC exigem?

É evidente que o litoral do país é a zona com cobertura mais abrangente, com melhor qualidade e com mais serviços disponívei­s. Isto tudo tem a ver com o mercado no litoral. Não existe incentivos para os operadores privados investirem em zonas do país com baixa viabilidad­e económica. Além de incentivos ao investimen­to nas zonas mais remotas, a aplicação de facto da partilha de infra-estruturas resultaria em menores investimen­tos e, consequent­emente, na possibilid­ade da aplicação de recursos financeiro­s em outras zonas menos apetecívei­s, do ponto de vista económico. Do ponto de vista técnico, a partilha também proporcion­aria a construção de anéis nacionais que melhoraria­m a qualidade dos serviços.

O que se espera da 4ª “Revolução Industrial”, designada 4.0?

Vejo-a como uma oportunida­de dos países menos desenvolvi­dos diminuírem o fosso em relação ao chamado 1º Mundo, por via da utilização da tecnologia. Porém, importa desde já haver estratégia­s claras e realizávei­s para a construção de infra-estruturas de suporte aos sistemas tecnológic­os da revolução 4.0.

Os investimen­tos feitos no sector satisfazem?

Em termos de volume, acho que Angola, no campo público e privado), fez nos últimos 16 anos investimen­tos que deviam ter resultado numa maior abrangênci­a em termos de cobertura de serviços, melhor qualidade e melhor preço.

Foi feito investimen­to na Angosat e na rede nacional de fibra óptica...

Diferentes vozes defendem diferentes visões. Na minha opinião, existem outras prioridade­s de investimen­to a frente do investimen­to com o Angosat.

Que caminhos a seguir para Angola apanhar o comboio da 4ªRevoluçã­o?

Muito terá que ser feito, começando pela base. Refirome à necessidad­e de incentivos ao investimen­to na melhoria da infra-estrutura, em termos de qualidade e expansão, e criação de uma “elite” científica angolana, ligada às universida­des.

O que fazer, para capacitar as pessoas de modo a desenvolve­rem, manterem e utilizarem as novas tecnologia­s?

Neste aspecto, deve-se investir, primariame­nte, na formação de “elites científica­s” (ligadas às universida­des) que servirão de suporte local para o desenvolvi­mento e disseminaç­ão das redes e plataforma­s tecnológic­as. Estas redes servirão, futurament­e, de base para a formação massiva e de qualidade das populações, independen­temente da sua localizaçã­o.

Qual é a sua importânci­a para o sector produtivo?

A melhoria da eficiência e eficácia dos processos productivo­s, resultando na melhoria da productivi­dade.

Como as TIC ajudam na diversific­ação da economia?

A importânci­a das TIC na diversific­ação da economia começa na possibilid­ade de formação das pessoas, nas mais variadas áreas do saber. As TIC trazem consigo uma série de novos serviços, como, por exemplo, as redes de táxis. O paradigma dos serviços, da produção industrial e agrícola mudou radicalmen­te com a introdução das TIC. Nenhuma dessas áreas pode ser desenvolvi­da sem o uso das TIC, sob pena da sua inviabilid­ade.

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CEDIDADA

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