As “soluções angolanas”
A pandemia da Covid-19, que paralisa países inteiros e "enterra" numerosas empresas, obriga a que os Estados tomem medidas para assegurar a sobrevivência e continuidade das suas instituições. Embora o mundo seja uma aldeia global, em que a interdependência entre os Estados e as empresas ajuda no combate contra a Covid-19, não há dúvidas de que a maximização de soluções locais deve ter precedência sobre as demais. Nesta altura, sobretudo quando a economia sofre profundamente, não faz qualquer sentido a opção por bens e serviços de empresas estrangeiras quando as nacionais estão em condições de o fazer, com a mesma qualidade.
Além do equilíbrio entre importações e exportações, as economias funcionam mais e melhor quando exportam menos empregos, canalizando boa parte da verba eventualmente destinada à importação de bens e serviços ao mercado nacional. Em condições normais e com as imposições que o período de excepção que vivemos requer, optar por empresas angolanas, quando estão em condições de prestar o serviço ou fornecer os bens necessários deve ser um gesto obrigatório e patriótico.
A informação segundo a qual a TAAG, transportadora aérea de bandeira nacional, assumirá todos os voos humanitários, remete-nos para considerações relacionadas com o papel que as empresas angolanas devem fazer nesta fase do Estado de Emergência.
Com a pandemia da Covid-19, por um lado, muita coisa mudou relativamente ao funcionamento das empresas, aumentando o grau de exigências, mas, igualmente, muitas outras oportunidades também surgiram, por outro lado. Nesta altura, somos de opinião que as opções por bens e serviços, bem como o recurso a empresas estrangeiras, devem ocorrer apenas e unicamente quando as nacionais não estejam em condições de o fazer. Depois da polémica relacionada com a contratação de uma transportadora aérea estrangeira que traria material de biossegurança para Angola, que levou as autoridades a rescindir, com efeitos imediatos, urge darse lugar ao que é nacional.
Felizmente o mal foi corrigido e, nesta senda, auguramos não apenas por mais transparência, seriedade, a salvaguarda dos superiores interesses do Estado, entre outros, a que o Executivo se propôs rapidamente com a medida de rescisão do contrato.
Todas as incumbências relacionadas com bens e serviços para fazer face à Covid-19 devem ser dadas prioridade, para o seu fornecimento, às empresas angolanas dentro dos procedimentos legais previstos.
Se formos capazes de potenciar as empresas angolanas que possam ter uma palavra a dizer nas situações que contribuam para tornar menos gravosa o impacto da doença, como tem vindo a acontecer, melhor para a economia nacional.
Nesta altura em que as empresas estão a reinventar-se para sobreviver, é preciso que as entidades com poder de decisão, como é suposto esperar, tenham em linha de conta as "soluções angolanas" para os problemas que enfrentamos, nas circunstâncias em que sejam possíveis e exequíveis, em detrimento da opção pelo estrangeiro. E, não raras vezes, sem concurso público, sem transparência, sem fundos próprios em que o Estado, assumindo custos, acaba arcando apenas prejuízos.