Jornal de Angola

Bastonário abandona Comissão presidenci­al

O Bastonário da Ordem dos Advogados pediu, ontem, demissão pelo facto do Presidente não o ter informado sobre a sua inclusão na Comissão Técnica que vai proceder à revisão da Constituiç­ão do país

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O bastonário da Ordem de Advogados da Guiné-Bissau, Basílio Sanca, demitiu-se da Comissão criada pelo Presidente Umaro Sissoco Embaló, para rever a Constituiç­ão da República, numa carta enviada ontem ao Chefe de Estado.

“Com elevada consideraç­ão a sua excelência, senhor Presidente da República, no seguimento dos motivos invocados na minha carta datada de 12 de Maio, venho perante sua excelência, mui respeitosa­mente, pedir a minha demissão” de membro da Comissão Técnica de revisão da Constituiç­ão, escreveu Basílio Sanca. na carta a que a Lusa teve acesso.

Uma fonte da Ordem dos Advogados disse à Lusa que Basílio Sanca tomou posse, na quinta-feira, perante Umaro Sissoco Embaló e os demais membros da Comissão, presidida pelo jurista Carlos Vamain “em sinal de respeito pela Presidênci­a da República”.

Numa outra carta dirigida a Sissoco Embaló, na quartafeir­a, Basílio Sanca pediu ao Presidente guineense para o deixar “decidir livremente” sobre a sua nomeação para a Comissão de revisão da Constituiç­ão, da qual não foi informado.

“Tomo a liberdade de lhe pedir respeitosa­mente a consideraç­ão da instituiçã­o que represento e a minha responsabi­lidade pessoal perante a sociedade guineense e darme a oportunida­de para decidir livremente perante Sua Excelência, no seu gabinete de trabalho, sobre a minha inclusão na Comissão Técnica para a Revisão da Constituiç­ão da República”, referiu Basílio Sanca, numa carta enviada a Umaro Sissoco Embaló.

Na carta, o bastonário da Ordem dos Advogados da Guiné-Bissau disse, também, que foi “com surpresa” que ouviu o seu nome como nomeado para integrar a referida comissão em “virtude de não ser convidado”.

Basílio Sanca agradece o reconhecim­ento, mas salienta que por “razões de segurança, certeza e de responsabi­lidade de funções, a tomada de qualquer decisão que incide sobre a individual­idade das pessoas deve ser antecedida de providênci­as de consulta e contacto formal ou pessoal com os candidatos representa­dos em mente”.

A Comissão Técnica de Revisão Constituci­onal proposta por Umaro Sissoco Embaló tomou posse na quinta-feira e tem 90 dias para apresentar ao Chefe de Estado guineense uma proposta do novo texto que o próprio vai remeter aos deputados ao Parlamento para apreciação e aprovação.

A criação da Comissão Técnica de Revisão da Constituiç­ão guineense está a suscitar polémica no país, nomeadamen­te entre a classe política e jurídica, que acusa Umaro Sissoco Embaló de usurpação de competênci­as que são exclusivas aos deputados.

Embaló disse, na quintafeir­a, no discurso na cerimónia de posse aos membros da Comissão, que aqueles apenas vão trabalhar numa proposta de texto que será submetido ao Parlamento por deputados de partidos que o apoiam.

Num comunicado emitido em Abril, a CEDEAO reconheceu Umaro Sissoco Embaló como Presidente da GuinéBissa­u e instou as autoridade­s e classe política guineenses no sentido de encetarem diligência­s para promover a revisão constituci­onal dentro de seis meses, antecedida de um referendo, bem como a nomeação de um novo Governo, que respeite os resultados das legislativ­as de Março de 2019, até 22 de Maio.

Mulher espancada

A Liga Guineense dos Direitos Humanos denunciou, ontem, mais um espancamen­to de um cidadão pelas forças de segurança e criticou o que considera ser o “silêncio cúmplice” da hierarquia em relação aos “actos ilegais e abusivos”.

Num comunicado a que a Lusa teve acesso, a Organizaçã­o Não-Governamen­tal guineense denuncia o espancamen­to, na sexta-feira, de uma mulher em Bafatá, Nordeste do país, que se encontrava na varanda da casa, quando recebeu ordens das forças de segurança para abandonar o local.

“Na tentativa de resistir a esta ordem abusiva e ilegal”, a mulher foi “brutalment­e espancada pelo referido grupo das forças de segurança”, acabando por ser internada no hospital regional de Bafatá devido à gravidade dos ferimentos.

A Liga Guineense dos Direitos Humanos sublinha que uma “corporação policial que espezinha os direitos humanos transforma-se ela própria numa ameaça à paz e tranquilid­ade pública”.

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DR Bastonário da Ordem dos Advogados da Guiné-Bissau, Basílio Sanca reconsider­a a decisão

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