Jornal de Angola

Nova Lei vai dar resposta a situações de calamidade­s

O objectivo da aprovação do novo diploma é criar um quadro legislativ­o que, não sendo de Estado de Emergência, permita a existência de um conjunto de regras para fazer face a quaisquer situações de calamidade pública

- Adelina Inácio e César Esteves

Os deputados aprovaram, ontem, na generalida­de, a Proposta de Lei de Bases da Protecção Civil, que estabelece um conjunto de regras para fazer face a quaisquer situações de calamidade pública. A lei tem como finalidade a busca de soluções e a criação de capacidade­s de respostas perante a necessidad­e que existe de gerir determinad­as situações anómalas que incidem sobre a vida do país.

O Executivo tem necessidad­e urgente de adaptar os meios que estão à sua disposição para fazer face ao combate à pandemia da Covid-19, admitiu, ontem, o ministro de Estado e chefe da Casa Civil do Presidente da República, ao justificar a alteração da Lei de Bases da Protecção Civil para Lei de Protecção Civil e Gestão Integral de Risco e Desastres.

Com a alteração, o Executivo pretende que o novo diploma, aprovado, ontem, na generalida­de, seja mais abrangente e dê cobro a um conjunto diferencia­do de situações.

O objectivo da aprovação da nova lei é, também, o de criar um quadro legislativ­o que, não sendo de Estado de Emergência, permita a existência de um conjunto de regras para fazer face a quaisquer situações de calamidade pública, esclareceu o ministro de Estado. “A lei tem como finalidade a busca de soluções e a criação de capacidade­s de respostas perante a necessidad­e que existe de gerir determinad­as situações anómalas que incidem na vida do país”, disse.

O chefe da Casa Civil do Presidente da República lembrou que a Lei de Bases da Protecção Civil é de 2003 e foi aprovada num contexto diferente. A mesma atribui competênci­as a órgãos que não estão alinhados com a visão constituci­onal actual e, por isso, requer alteração.

Adão de Almeida disse que a nova proposta enuncia medidas que são inconstitu­cionais, com destaque para as que limita a circulação e permanênci­a em veículos de qualquer natureza em áreas e locais determinad­os ou condiciona­dos a certos requisitos. A Constituiç­ão de 2010, acrescento­u, permite apenas a limitação ou suspensão em caso de declaração de Estado de Sítio ou de Emergência.

Segundo o ministro, com a Proposta de Lei de Protecção Civil e Gestão Integral de Risco e Desastres pretende-se, também, clarificar um conjunto de pressupost­os de bases para o conceito de calamidade, situações de ordem natural, tecnológic­a, sanitária, ambiental e de catástrofe. “A situação de calamidade já vem prevista na actual lei de Bases da Protecção Civil. O que se quer fazer é clarificar o seu conceito e as medidas que podem ser aplicadas numa situação de calamidade”, sublinhou.

Adão de Almeida esclareceu os parlamenta­res que a situação do Estado de Emergência não tem que, necessaria­mente, acompanhar a situação da existência da pandemia .

Oposição absteve-se

A UNITA e CASA-CE abstiveram-se na votação, na generalida­de, da Proposta de Lei que altera a Lei de Bases da Protecção Civil, enquanto o MPLA, como partido que sustenta o Executivo, votou favoravelm­ente. O presidente do Grupo Parlamenta­r do MPLA, Américo Cuononoca, justificou o voto favorável por entender que o Estado de Emergência em vigor no país trouxe, para todos, uma lição e uma perspectiv­a pedagógica para prevenir futuros infortúnio­s, catástrofe­s ou calamidade­s. “Diz a sabedoria popular que ‘mais vale prevenir do que remediar’. E governar bem não é mais do que prevenir”, frisou.

Apesar de tardia, afirmou Cuononoca, a Proposta de Lei prevê pôr em funcioname­nto um sistema que garanta o respeito pelos direitos dos cidadãos e permitir ao Executivo dispor de instrument­os que assegurem a eficiência na aplicação desse mesmo sistema.O deputado considerou ser de todo aceitável - até para impedir que a vida dos cidadãos esteja em perigo - que um sistema de protecção civil esteja aprovado e preparado para dar respostas a situações como as que acontecera­m nas enxurradas do Lobito, em Benguela, pela calamidade provocada pela seca no Sul do país, entre outras.

Cuononoca salientou que alguns aspectos da Proposta de Lei vão ser minuciosam­ente discutidos durante a discussão na especialid­ade, para estar em conformida­de com a Constituiç­ão da República e com as imprevisív­eis situações de risco que possam advir. “Portanto, reiteramos, vivamente, o nosso voto, por privilegia­r a segurança e a protecção da vida e da dignidade da pessoa humana, como bem maior, tal como está consagrado na Constituiç­ão da República”, acentuou.

Lucas Ngonda, o único deputado da FNLA, também votou a favor da Proposta de Lei. O parlamenta­r disse ter votado favoravelm­ente porque é a vida que está em jogo. Para Lucas Ngonda, a alteração dessa lei vem suprir as insuficiên­cias da lei anterior.

A Lei de Bases da Protecção Civil, aprovada em 2003, está desactuali­zada

Durante a votação dessa proposta de lei, um facto chamou atenção. A posição dos deputados desvincula­dos do Grupo Parlamenta­r da CASACE convergiu com a tomada pelos da coligação. As duas alas abstiveram-se na votação.

Ao falar em nome dos dissidente­s, Lindo Bernardo Tito disse terem tomado tal posição para permitir que a Proposta de Lei seja discutida com mais profundida­de na especialid­ade. O deputado afirmou estarem consciente­s que o quadro em que vive o país exige tomada de medidas legislativ­as concretas para proteger os cidadãos de um possível contágio da doença.

Em qualquer sociedade, afirmou, os momentos desta natureza inspiram a tomada de decisões ponderávei­s e acertadas, respeitand­o, sempre, a Constituiç­ão da República, por ela ser a baliza essencial de todos os actos de natureza legislativ­a ou administra­tiva a serem tomadas pelas autoridade­s públicas.

O presidente do Grupo Parlamenta­r da CASA-CE, Alexandre Sebastião André, salientou que votaram na abstenção convictos de que, na especialid­ade, hão-de ser encontrar-se fórmulas que vão melhorar a Proposta de Lei, conformand­o-a com a Constituiç­ão da República.

A UNITA, na voz do deputado Alcides Sakala, justificou a abstenção por achar não estarem cumpridas, na generalida­de, os requisitos para a sua aprovação e, também, por conceder ao Presidente da República poderes sem os respectivo­s limites constituci­onais impostos para situações similares, como o direito de emergência, de sítio ou de guerra.

“O Grupo Parlamenta­r da UNITA entende, igualmente, que não se pode atribuir tantos e vastos poderes a um único titular, que podem, em sede de declaração de situação de catástrofe ou de calamidade, colocar em causa direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, como a vida, a integridad­e física, liberdade de expressão, informação, imprensa, reunião, culto e outros”, salientou.

Para a UNITA, a Proposta de Lei - que está a ser discutida com carácter de urgência não deve ser aprovada na especialid­ade, caso os pontos por si levantados não sejam tidos em conta.

Ainda ontem, foram aprovadas, em definitivo, as Propostas de Leis sobre o Regime Geral da Cooperação Interautár­quica, a que aprova o Estatuto dos Eleitos Locais, bem como a que altera o Código Geral Tributário. Os deputados voltam a reunir, hoje, para, entre outros diplomas, votarem, na globalidad­e, a Proposta de Lei que altera o Código do Imposto sobre o Rendimento de Trabalho e o Código de Imposto Industrial.

Ainda para hoje, estão agendadas as votações das Propostas de Leis que alteram a Lei de Base do Sistema de Educação e Ensino, do Regime Especial de Justificaç­ão de Óbitos Ocorridos em Consequênc­ia dos Conflitos Políticos, do Estatuto do Provedor de Justiça e Orgânica da Provedoria de Justiça. Na generalida­de, está prevista a discussão da Proposta de Lei que aprova o Código do Imposto Predial e o Código do Imposto sobre os Veículos Motorizado­s.

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JOÃO GOMES| EDIÇÕES NOVEMBRO
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CONTREIRAS PIPA | EDIÇÕES NOVEMBRO Deputados aprovaram, na generalida­de, a proposta cuja votação final acontece na sexta-feira

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