Máscaras diminuem contágio para metade
Investigadores da Universidade de HongKong demonstraram que a utilização de máscaras nas interacções sociais diminui em 50 por cento a transmissão do coronavírus Sars-cov-2
É o resultado de um estudo apresentado publicamente no domingo, pelo próprio coordenador da investigação, o microbiólogo Yuen Kwokyung, que é também um dos mais destacados cientistas a trabalhar sobre o novo coronavírus e a Covid-19.
Foi Yuen Kwok-yung quem identificou em 2003 o coronavírus SARS. Foi ele, juntamente com a sua equipa, quem publicou, a 24 de Janeiro, na revista The Lancet, os primeiros dados a demonstrar que os doentes assintomáticos da Covid-19 também transmitem a doença e foi ele, finalmente, quem estabeleceu o primeiro modelo para a investigação sobre a Covid-19 em hamsters.
Sobre o estudo da utilização da máscara na prevenção do contágio pelo Sars-cov-2, o microbiólogo da Universidade de Hong Kong explicou que este novo trabalho é também o primeiro que apresenta resultados sobre o uso da máscara no caso de doentes assintomáticos, segundo a AFP.
A equipa de Yuen Kwokyung usou 52 hamsters para realizar esta investigação. Os investigadores inocularam um pequeno grupo deles com Covid-19, dividiramnos em infectados com sintomas e assintomáticos, e mantiveram um grupo de animais saudáveis.
Depois colocaram os animais infectados e os saudáveis em gaiolas separadas, mas adjacentes (não houve nunca qualquer contacto físico entre os animais) e estabeleceram um fluxo de ar que corria na direcção dos primeiros para os segundos.
Nestas circunstâncias, sem qualquer barreira entre as gaiolas, os investigadores verificaram que 66,7 por cento dos hamsters saudáveis ficavam doentes e testaram positivo para o Sars-cov-2 ao fim de 10 dias. Os números de hamsters que ficam infectados baixaram no entanto substancialmente quando a equipa colocou na gaiola dos infectados uma barreira feita com o mesmo material das máscaras cirúrgicas. Nessa situação, após os mesmos 10 dias, apenas 16,7 por cento dos animais saudáveis testaram positivo para a Covid-19. Esse valor aumentou um pouco, para 33,4 por cento , quando a máscara foi colocada como protecção apenas na gaiola dos animais saudáveis.
Outro dado interessante mostrou que os animais contagiados na situação em que a máscara estava colocada na gaiola dos hamsters doentes tinham níveis virais mais baixos e sintomas mais ligeiros da doença.
“A transmissão do Sarscov-2 pode ser reduzida em 50 por cento quando os indivíduos infectados usam máscara, quer sejam sintomáticos ou assintomáticos”, disse Yuen Kwok-yung, citado pelo South China Morning Post. Sublinhou que “é importante o uso universal de máscaras, até porque uma parte dos doentes é assintomática. O impacto da utilização de máscaras, mesmo persistindo algum risco, é enorme”.
Atraso no uso
Quando o Sars-cov-2 surgiu em Dezembro, na China, Yuen Kwok-yung aconselhou publicamente os cidadãos de Hong Kong a usarem sempre máscaras nas suas interacções sociais. E fê-lo à revelia das recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), que manteve até muito recentemente uma posição diferente nesta matéria, recomendando apenas o uso da máscara cirúrgica para profissionais de saúde e pessoas que tivessem de cuidar de outras infectadas com o coronavírus.
Foi essa posição da OMS, seguida de perto, aliás, pelas autoridades de saúde em Portugal, que levou Yuen Kwok-yung a desenvolver este estudo, confessou o próprio investigador.
No domingo, Yuen Kwok-yung repetiu, uma vez mais, o conselho que desde o início tem dado aos seus concidadãos.
“Enquanto não houver uma vacina, o que continua a ser necessário é manter o distanciamento social e usar máscaras”, disse, citado pelo South China Morning Post. Coincidência ou não, Hong Kong, apesar da sua densidade populacional, foi um dos territórios do mundo que conseguiu manter controlada a pandemia da Covid19, com apensa mil casos e quatro mortes até agora.
Os especialistas têm, de resto, sublinhado que o caso de sucesso de Hong Kong nesta pandemia se fica a dever, justamente, ao uso generalizado de máscaras e a uma grande capacidade de testagem e seguimento das cadeias de contacto em tempo real, neste território da China, com 7,5 milhões de habitantes.