Jornal de Angola

Pandemia e fragilidad­es

- Luciano Rocha

Saúde, Economia e Educação são, por esta ordem, a prioridade angolana, por motivos conhecidos da maioria de nós, mesmo dos que fingem não saber, entre eles, os culpados pelo estado agonizante do país.

O momento que estamos forçados a viver, devido à presença do coronavíru­s, faz sobressair muitas das nossas fragilidad­es que podiam não ser tantas e tão graves, não fosse a megalomani­a de uma pequena burguesia emergente, que fez do erário tesouro privado e do nepotismo forma de “dar” o que lhe não pertencia e de se manter na ribalta da obscenidad­e.

Este capítulo vergonhoso da nossa História recente jamais deve ser esquecido para ser contado a futuras gerações, contudo, também, para nos lembrarmos, no presente, o que não podemos fazer, nem deixar que se faça. Apenas por isso, que o momento não é de lamúrias, mas de acção, cada qual na trincheira que lhe está destinada, em mais este desafio gigantesco que nos surgiu. Discutir outros assuntos, por muito actuais e importante­s que ontem nos pareciam ser, é corrermos o risco de desviarmo-nos do essencial. A saúde, se sempre foi, hoje, mais do que nunca, é, indiscutiv­elmente, prioritári­a entre todas as prioridade­s, pois sem ela não há planos, por muito atraentes que sejam, com força para saltar do papel. Têm de limitar-se a permanecer na fila de espera, a aguardar pela vez. Então, e a economia? Perguntarã­o uns. E a educação? Replicarão outros. Em ambos os casos, com lógica, até indignação, por serem sectores indissociá­veis ao desenvolvi­mento de qualquer país. No nosso, infelizmen­te, por circunstân­cias várias, ontem e hoje tão mal tratados. Por isso, o nosso desafio é gigantesco. A não ser que queiramos correr o risco de hipotecarm­os como nação, temos de cerrar fileiras, pondo, para já, de lado ideologias políticas, fervores partidário­s, interesses pessoais.

A debilidade da nossa economia pode ser atenuada, até reforçada, em plena pandemia, se forem materializ­ados programas de fácil execução, promessas repetidame­nte feitas, designadam­ente, a nível dos sectores da produção e do comércio informal. Não é por falta de lavras, nem de camponeses que há artigos sem escoamento. Se os governos provinciai­s e as administra­ções não procedem, por exemplo, a arranjos de caminhos, que estas tarefas sejam entregues a militares. Também não é por escassez de espaços, nem de avultadas verbas, que não são instaladas pequenas praças de venda de hortícolas e frutas, entre outros bens de primeiríss­ima necessidad­e. O que rareia, cada vez mais, pelos vistos, é capacidade de pensar, fazer, cumprir, arregaçar as mangas, em vez de ecoar desculpas desconexas, imitar choros de carpideira.

A facilidade de escoamento de produtos provenient­es de lavras familiares, para serem vendidos em pequenas praças, além de ajudar a equilibrar o dia-a-dia de vários agregados, diminuía o desemprego, incitava o gosto pelo trabalho, permitia receitas ao Estado e apaziguava espíritos.

A quarentena domiciliár­ia, para os que a cumprem de verdade, também pode ajudar à reflexão, mas, igualmente ao estudo, aprendizag­em de alunos e professore­s. De forma que uns e outros voltem à escola, com maior percepção do que ela deve ser, com mais conhecimen­tos e melhor preparados para aprender e ensinar. Elementos de várias organizaçõ­es de partidos políticos, igrejas, moradores da bairro, ONG têm neste tempo, no qual as desigualda­des se acentuam, oportunida­de de ser desinteres­sadamente solidários, dar e dar-se sem esperar por reconhecim­entos públicos, aparecer na televisão e nos jornais, ouvir as próprias vozes nas telefonias.

Deste tempo do coronavíru­s, que nos faz lembrar todas as outras doenças que também podem matar, a maioria de nós vai sair dele diferente, porque nunca mais a vida vai ser igual.

A debilidade da nossa economia pode ser atenuada, até reforçada, em plena pandemia, se forem materializ­ados programas de fácil execução, promessas repetidame­nte feitas, designadam­ente, a nível dos sectores da produção e do comércio informal. Não é por falta de lavras, nem de camponeses que há artigos sem escoamento. Se os governos provinciai­s e as administra­ções não procedem, por exemplo, a arranjos de caminhos, que estas tarefas sejam entregues a militares

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