Mercadorias passam pelos controlos do Cuanza-Norte e chegam à capital do país
O Jornal de Angola confirmou, na localidade de Zenza do Itombe, à entrada da província do Cuanza-Norte, que os bens alimentares e materiais diversos, que nalguns casos são colocados de parte, só são liberados depois de serem devidamente inspeccionados, e analisada a documentação do motorista e do veículo.
Dona Glória e a companheira de caminhada, Henriqueta, são duas mulheres de 62 anos, que tentaram romper a fronteira do Zenza do Itombe, província do Cuanza-Norte, na estrada que vai até às Lundas (Norte e Sul), passando por Malanje. As camponesas saíam de Catete e pretendiam chegar às lavras. Mas não sabiam dizer o nome do bairro em que estão localizados os seus campos agrícolas.
Os efectivos dos diferentes órgãos de defesa e segurança destacados no local, de forma cordial e educada, solicitaram às mulheres que regressassem a casa e aguardassem por novas orientações da Comissão Inter-ministerial do Combate à Covid-19. Dona Glória e a Henriqueta carregavam trouxas de sacos e lonas à cabeça, para facilitar a secagem do bombó, e não se deixaram convencer. A todo o custo, procuravam furar a cerca sanitária. Tentaram juntar-se ao grupo de cidadãos autorizados a passar para o outro lado da fronteira, que naquele momento estavam a ser submetidos a exames de rastreio. Foram apanhadas e expulsas do local.
Episódios semelhantes são registados todos os dias na fronteira do Zenza do Itombe, que separa Catete (Luanda) de Ndalatando (Cuanza-Norte). Sexta-feira, 15, eram 8h43 da manhã, quando a equipa de reportagem do Jornal de Angola chegou ao posto fronteiriço, onde há duas barreiras formadas e separadas a mais ou menos 200 metros.
À saída de Luanda, um cidadão é abordado, e de seguida autorizado a prosseguir viagem. Alguns metros depois, à entrada do Cuanza-Norte, além de apresentar a guia de marcha e declaração de serviço, os efectivos policiais fazem a pulverização do seu veículo, enquanto o homem é submetido a exame de rastreio, pelos profissionais de saúde em serviço, e fornece alguns dados pessoais (nome completo, idade, local de proveniência e destino).
Um enfermeiro em serviço no local, disse que a temperatura ideal deve estar abaixo dos 37 graus, para o cidadão ganhar o direito de prosseguir com a marcha. “Caso contrário, o indivíduo pode ser considerado suspeito à Covid19”, explica.
Ainda no posto fronteiriço do Zenza do Itombe, um grupo de pessoas, sem motivos justificáveis, procura entrar no território de Luanda. Tal como aconteceu com as anciãs, Glória e Henriqueta, os agentes da ordem e segurança públicas mandam o grupo de volta aos seus locais de residência. Não dão tréguas. “É assim todos os dias”, desabafa um efectivo, que preferiu não ser identificado.
Enquanto os jornalistas do JA, também submetidos ao processo de vistoria, aguardavam autorização para realizar a reportagem no local, vários cidadãos, que chegavam ao posto, ensaiavam os melhores argumentos para convencer os efectivos destacados na fronteira. “Quero chegar a Ndalatando. Os meus filhos estão sozinhos”, disse Paulo Dinis, pai de três menores.
Uma equipa forte, composta por elementos da Polícia Nacional, Forças Armadas Angolanas, Serviço de Migração e Estrangeiros, e do Instituto de Desenvolvimento Florestal inspecciona minuciosamente os cidadãos e as mercadorias, que entram e saem da província do Cuanza -Norte. No local, contam-se as filas de viaturas e automobilistas a serem submetidos ao rastreio à Covid-19.
Contra todos os argumentos, dois civis identificam-se como militares e são colocados de parte. Pretendem entrar em Luanda, mas os documentos que apresentam não convencem os efectivos, que transferem o caso para o chefe de equipa. Os supostos militares tentam justificar a ida à Luanda. Mais tarde, a autorização é-lhes concedida.
No local, estão mais de 25 viaturas paradas nos dois sentidos, algumas regressam para Luanda e outras vão ao Cuanza-Norte.