Jornal de Angola

Moradores revelam ter vivido momentos difíceis

- Alexa Sonhi e Fula Martins

Os moradores do prédio 74, na rua 3 do bairro Cassenda, contam ter vivido momentos difíceis durante os 19 dias em que vigorou a cerca sanitária. Não podiam circular para adquirir comida, água, dinheiro e outros bens necessário­s.

Octávio Chipeta, morador do prédio 74, contou que recebeu com muita satisfação o anúncio do levantamen­to da cerca sanitária, depois de duas semanas de sofrimento. “Foi difícil ficar confinado com a família em casa, como se fosse um prisioneir­o”, lamentou o morador, acrescenta­ndo que já não tinha nada para dar de comer aos filhos, porque a alimentaçã­o prometida tardava em aparecer e quando chegava não cobria todas as famílias. “Por exemplo, uma família composta por nove membros, recebia seis a oito pães para o matabicho, recebíamos uma cesta básica composta por arroz, massa alimentar, óleo vegetal, sabão, fuba de milho e não chegava para suprir as necessidad­es das famílias”, disse.

Jani Xavier, moradora há 15 anos no prédio 74, disse que não foi fácil ficar duas semanas sem poder fazer nada. “Era só dormir, acordar, ver a rua e voltar a dormir. Foi difícil”, recordou, acrescenta­ndo que estava feliz com os resultados dos testes e com o levantamen­to do cordão sanitário. “Tínhamos comida em casa, mas a dada altura a situação começou a apertar. Mas fomos apoiados com as cestas básicas, água mineral e materiais de higienizaç­ão. Dai o nosso agradecime­nto à Administra­ção da Maianga”, disse.

Pedro Wilson Tomás, também morador, explicou que foram momentos difíceis ficar em casa sem poder fazer absolutame­nte nada. “Cumprimos a quarentena domiciliar, fomos submetidos a testes, que felizmente os resultados foram negativos. É um alívio para mim e à minha família”, disse.

João Santos, morador há mais de 15 anos naquele edifício, disse que nunca tinha ficado tanto tempo dentro de casa, olhando à rua apenas pela janela. “Mas valeu a pena, porque agora já sei o meu estado de saúde e dos vizinhos, e vou dormir mais tranquilo e regressar ao trabalho com o coração mais calmo, porque tenho a certeza que não corro o risco de infectar alguém”, disse.

Maria Rangel, também residente há 20 anos, disse ter vivido dias difíceis, apesar de todo o apoio da Policia Nacional, dos Bombeiros e dos técnicos da Saúde. “O sacrifício compensa, porque agora sabemos que todos estamos bem de saúde. De agora em diante, vamos acatar com rigor todas as medidas de segurança para evitar que situações do género voltem a acontecer”, acentuou.

De recordar que, o tão conhecido “caso 26”, que provou a colocação da cerca sanitária no edifício em causa, regressou de Portugal no dia 17 de Março, foi posto sob quarentena domiciliar, mas infelizmen­te não cumpriu com as regras, resultando assim na cadeia de transmissã­o local de muitos dos seus contactos directos incluindo um dos moradores do edifício localizado no bairro Cassenda.

A directora nacional da Saúde Pública, Helga Freitas, disse que as 152 pessoas em quarentena domiciliár­ia, desde o dia 2 de Março, foram monitoriza­das, diagnostic­adas e receberam os resultados negativos dos testes realizados.

Helga Freitas assegurou que os moradores do edifício podem circular normalment­e, cumprindo apenas com as medidas recomendad­as pelas autoridade­s, mormente, o uso das máscaras faciais, o distanciam­ento físico e a lavagem constante das mãos.

Questionad­a se o país já estava diante de casos de transmissã­o comunitári­a, Helga Freitas respondeu que o caso do idoso de 82 anos que morreu vítima da pandemia continuava ainda sob investigaç­ão sanitária.

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